Formou-se em Direito e começou a carreira como advogada em Chicago, mas desiludiu-se ao fim de um ano. Aos 26 anos Tanya Kopps decidiu escolher uma nova vida e foi assim que entrou no Grupo Metro. O seu primeiro desafio foi como controller na Alemanha, em 2000, seguindo-se depois a Roménia, o Reino Unido, Hungria (já como chief financial officer e membro do board do grupo) e Espanha. Em 2012 torna-se responsável da área financeira para o mercado ibérico e, em 2015, é-lhe oferecida a liderança da Makro Portugal. Chegou com a missão de aproximar ainda mais a marca das necessidades do cliente, sem nunca perder o equilíbrio na relação entre os 900 colaboradores, clientes, fornecedores e outros stakeholders. Nestes dois anos tem corrido o país para ouvir o máximo de opiniões e pelo caminho rendeu-se à diversidade da paisagem e à gastronomia, de tal forma que se assume como uma “verdadeira embaixadora de Portugal”.
Regressar aos Estados Unidos não está nos planos, mas admite que também já deixou de os fazer. “Tinha, originalmente, planeado o meu regresso aos Estados Unidos após dois anos na Alemanha e agora, seis países mais tarde, estou em Lisboa a falar sobre as minhas experiências com a Executiva.” Está tão habituada à mudança que ser desafiada para integrar uma nova equipa num país desconhecido não a atemoriza, pelo contrário. “Aprendemos com as nossas experiências, com as pessoas com quem trabalhamos, com o país onde estamos e com tudo o que nos rodeia. Continuo a aprender todos os dias”, reconhece.
Quais os momentos mais marcantes do seu percurso até chegar à Makro?
Considerando que tenho vindo a colaborar com o Grupo Metro, nos últimos 17 anos, a minha experiência profissional tem passado, sobretudo, por esta empresa e indústria. Trabalhei também, como advogada associada durante um ano, em Chicago, seguindo o meu sonho de infância de ser advogada. Para ser honesta, simplesmente não gostava de praticar direito e decidi sair depois de um ano. Foi um momento difícil, mas creio que foi uma forte lição pessoal aos 26 anos de idade. Encontrar a felicidade nas nossas vidas é o mais importante e se isso significar uma mudança necessária, seja corajoso e vá em frente.
“Ser desconhecido é um desafio e uma oportunidade única para um estrangeiro com conhecimento sobre a empresa. Acredito que é importante não fazer suposições ou julgamentos. Em vez disso, passo a maior parte do tempo a ouvir.”
Quais os principais desafios de liderar uma grande empresa de distribuição?
Acredito que o principal desafio é estar constantemente preparada para lidar ou mesmo antecipar a mudança. O mundo está em constante mudança a um ritmo que, muito dizem, ser cada vez maior. O sucesso de um negócio passa pela capacidade do mesmo em adaptar-se às mudanças e encontrar oportunidades para melhorar os seus negócios.
Qual a sua missão à frente da Makro em Portugal?
Como um grupo, temos um forte propósito de sermos “Champion for Independent Business”. Somos fortemente especializados no canal HoReCa [hotéis, restaurantes e cafés], oferecendo uma experiência de compra baseada em fatores-chave como flexibilidade, qualidade, preço e rapidez. Oferecendo um serviço personalizado, o nosso papel é, cada vez mais, pensar como o cliente pensa. Compreender os seus desafios e conhecer as suas ideias.
Para cumprir esse objetivo, precisamos de entender as necessidades dos nossos clientes e fornecer-lhes as soluções adequadas para tornar os seus negócios mais bem-sucedidos. Quando os nossos clientes alcançam o sucesso, nós também.
Esta é a forma como abordamos os negócios no Grupo e, de igual forma, em Portugal. O nosso objetivo como empresa é chegar o mais perto possível dos nossos clientes e, realmente, entender as suas expetativas, a fim de responder às suas necessidades. Fazer isso, só é possível quando temos uma equipa comprometida e sempre disposta a trabalhar para enfrentar esse desafio. A minha missão na Makro é, acima de tudo, encontrar um equilíbrio entre a minha equipa (colaboradores Makro), clientes, fornecedores e outros stakeholders.
Como é que um CEO se adapta a uma equipa que não conhece, num país também desconhecido?
Acredito que sempre fui uma pessoa aberta. O Grupo Metro concedeu-me a oportunidade de trabalhar a nível internacional no início da minha carreira, o que permitiu o meu contato com pessoas diferentes de culturas diferentes.
Ser desconhecido é um desafio e uma oportunidade única para um estrangeiro com conhecimento sobre a empresa. Numa fase inicial, é natural encontrar algumas barreiras como a linguagem, os hábitos e a maneira de compreender o próprio negócio.
Acredito que é importante não fazer suposições ou julgamentos. Em vez disso, passo a maior parte do tempo a ouvir a equipa, em todos os níveis, os nossos parceiros e, obviamente, os nossos clientes. Aproveito esta oportunidade para entender melhor o que está a correr bem, o que podemos melhorar e como podemos trabalhar juntos como uma equipa forte.
“A forma como trabalho hoje é a soma de tudo o que se passa em meu redor. As pessoas com que trabalhamos são os nossos melhores professores. Contínuo a aprender todos os dias.”
O que acha que trouxe de novo à gestão da Makro em Portugal?
O Grupo Metro tem um novo modelo de gestão fortemente baseado no modelo de private equity. Cada unidade, incluindo a Makro Portugal, desenvolveu um ”Value Criation Plan”. Com a autonomia comercial da Makro Portugal da Unidade de Negócio da Ibéria, esta foi uma grande oportunidade para obter uma melhor compreensão do mercado local e os seus desenvolvimentos esperados. Estamos mais focados em criar uma parceria com os nossos clientes do canal HoReCa. Esta foi mais uma oportunidade para a equipa Makro participar ativamente na criação da futura estratégia da empresa.
Somos todos responsáveis pela execução desta estratégia. Tem sido um privilégio para mim trabalhar e ajudar a desenvolver os colaboradores dedicados da Makro Portugal.
A forma de trabalhar em Portugal é muito diferente dos outros mercados em que trabalhou antes?
Penso que as pessoas têm diferentes formas de trabalhar e que isto, não depende da sua nacionalidade. Na minha experiência com a equipa Makro Portugal, tenho a oportunidade de colaborar com um grupo de trabalho esforçado e que é apaixonado pela Makro e pelo que fazemos. Isso torna o trabalho mais divertido, pelo menos para mim.
É americana, mas Portugal é o sexto mercado em que trabalha. Sente que ganhou novas formas de trabalhar em cada país por onde passou?
Viver é um processo de aprendizagem. Aprendemos com as nossas experiências, com as pessoas com quem trabalhamos, com o país onde estamos e com tudo o que nos rodeia. A forma como trabalho hoje é a soma de tudo o que se passa em meu redor. As pessoas com que trabalhamos são os nossos melhores professores. Contínuo a aprender todos os dias.
O que mudou na sua rotina diária desde que assumiu a direção da Makro em Portugal?
Em comparação com as minhas funções anteriores como CFO, atualmente passo bastante mais tempo com as pessoas, com os nossos colaboradores, tanto nas lojas, como nos escritórios centrais, com os nossos fornecedores, parceiros de negócios e clientes. O nosso negócio é sobre pessoas e relacionamentos. Quero ter a certeza de que estamos a trabalhar conjuntamente para os nossos objetivos comuns. Isso só é possível se passar tempo com eles, pedir a sua opinião e estar disponível para ouvir o bom, o mau e o muito mau. Assim, podemos continuar a melhorar.
“Nos últimos 17 anos, vivi em seis países diferentes e considerei cada um deles como a minha casa enquanto lá vivi e trabalhei. O meu marido acompanha-me em todos estes desafios, o que facilita a criação de uma nova casa.”
O que mais gosta e menos gosta no nosso país?
Há muitas coisas que eu adoro em Portugal. O povo português é acolhedor e contribuiu para a nossa maravilhosa experiência. Tive a oportunidade de viajar por todo o país e observei este tipo de comportamentos em vários sítios. Fiquei igualmente espantada com o quanto este país, pequeno geograficamente, tem para oferecer: excelentes praias, espaços verdes repletos de beleza, cidades encantadoras, marcos culturais e históricos e uma lista infindável de atrações. Acredito que me tornei numa verdadeira embaixadora de Portugal. A minha única queixa sobre este maravilhoso país tem a ver com a comida, especialmente os diferentes tipos de pão que são simplesmente demasiado bons para eu manter a minha boa forma.
Estando fora dos Estados Unidos há tantos anos, onde é que se sente em casa?
Nos últimos 17 anos, vivi em seis países diferentes e considerei cada um deles como a minha casa enquanto lá vivi e trabalhei. O meu marido acompanha-me em todos estes desafios, o que facilita a criação de uma nova casa. A nossa casa é onde o nosso coração está e, atualmente, é Portugal. No entanto, sinto-me bastante sortuda por ter passado por outros cinco lugares marcantes para mim, nos quais ainda tenho contatos próximos.
Sonha em ir trabalhar para os Estados Unidos ou já está plenamente conquistada pela cultura europeia?
Gostei mesmo muito de viver e trabalhar na Europa e não trocaria as minhas experiências únicas na Alemanha, Roménia, Reino Unido, Hungria, Espanha e Portugal por nada. Agora, não me imagino a voltar aos Estados Unidos, no entanto, nunca sabemos onde a vida nos pode levar. Tinha, originalmente, planeado o meu regresso aos Estados Unidos após dois anos na Alemanha e agora, seis países mais tarde, estou em Lisboa a falar sobre as minhas experiências com a Executiva.
Que conselho deixaria a uma jovem executiva sobre abraçar uma carreira internacional?
Seja ousada.
“EU VEJO A INCLUSÃO E A DIVERSIDADE COMO UM FACTOR-CHAVE PARA UM NEGÓCIO”
Tanya integra a Lead Network – Leading Executives Advancing Diversity desde 2015, fazendo atualmente parte da sua direção.
Porque razão há ainda tão poucas mulheres na direção deste tipo de empresas?
Historicamente, esta indústria, como muitas outras, tem sido predominantemente dirigida por homens. Acredito que cada vez mais mulheres se estão a mover para posições de liderança, nos negócios em geral. A diversidade é um fator chave para o sucesso de um negócio.
Alguma vez sentiu dificuldade em afirmar as suas posições neste setor pelo facto de ser mulher?
Acredito que a decisão no negócio se baseia em função de um contexto e não do género. Encaro sempre as tomadas de decisão desta forma. Acredito que esta forma pode levar-nos à transparência e justiça que todos podem entender. Posso afirmar que tive muitas oportunidades ao ser a única mulher num conselho, em reuniões ou a lidar com diversos negócios. Nestas situações, trata-se de criar confiança dentro de um grupo e garantir que as suas competências e credibilidade sejam reconhecidas, independentemente do seu género.
O que a levou a integrar a Lead Network e a tornar-se embaixadora para a inclusão e diversidade?
Eu vejo a inclusão e a diversidade como um fator-chave para um negócio. Os nossos clientes fazem parte de todas as esferas da vida: mulheres e homens; diferentes etnias, religião, orientação sexual, etc. Ao termos uma força de trabalho diversificada, estamos mais capacitados para a compreender e responder às suas necessidade, o que origina um desempenho empresarial mais forte. O meu envolvimento ativo com o LEAD é o meu contributo para este assunto. Gosto de apoiar outras mulheres para que estas consigam atingir os seus objetivos na sua carreira, bem como ajudar as empresas da nossa indústria a aproveitar ao máximo o talento que têm em mãos.