Onde estão as mulheres nos boards?

Na véspera de se discutir a proposta de lei para uma representação mais equilibrada de género nas empresas em Portugal, fique a par dos últimos números sobre mulheres nos conselhos de administração nos Estados Unidos e na Europa.

Empresas com mulheres no topo têm melhor perfomance.

As mulheres e minorias étnicas ocupam cerca de 31% dos cargos de conselhos de administração das empresas registadas no Índice Fortune 500, segundo um novo estudo da organização Alliance or Board Diversity citado pelo New York Times.

Os dados de 2016 — recolhidos por aquela associação de grupos promotores da inclusão feminina e das minorias em lugares de administração, em conjunto com a consultora Deloitte — realça que houve um pequeno crescimento do número de mulheres promovidas a estas funções nos últimos quatro anos, mas que as empresas tenderam a focar os seus esforços por um maior equilíbrio entre géneros apenas nos conselhos de administração.

No topo da lista das empresas que mais procuram a diversidade estão a PepsiCo, Prudential Financial, Aramark e Nordstrom. Mais mulheres com competências tecnológicas estão também a ser recrutadas para estes lugares de topo, num esforço das empresas para acompanharem as atuais tendências económicas.

A reduzida rotatividade nos cargos nos conselhos de administração dificulta ainda mais a ascensão das mulheres a estes órgãos.

O presidente da organização, Ronald C. Parker, disse ao New York Times que “ao atual ritmo de progresso, não devemos ver a percentagem de mulheres e minorias étnicas atingir a meta dos 40% de representação antes de 2026. Não é aceitável. As empresas precisam de fazer mais para acompanharem a mudanças demográficas do país”, acrescenta, referindo-se aos EUA.

A média de lugares nos conselhos de administração anda entre os nove e os 11 e apenas uma percentagem muito pequena fica disponível todos os anos ­— cerca de 350 dos 5440 assentos nos boards das companhias norte-americanas registadas pela Fortune 500 — o que torna mais difícil o acesso de mulheres.

O estudo aponta ainda que é entre as empresas mais bem colocadas, as 100 maiores registadas pelo índice Fortune, que a percentagem de mulheres e minorias étnicas é maior: 35,9%.

O estado da liderança feminina no mundo

Mas a questão da diversidade de género nos boards tem vindo a preocupar os proprietários de ativos globais e outros investidores, e por razões bem pragmáticas, como aponta o estudo da firma de pesquisas de investimento, MSCI-ESG. As empresas que têm mais mulheres nos cargos de liderança do índice mundial da MSCI geraram um ROE (Return On Equity) de 10,1%, quando comparadas com os 7,4% de outras empresas, segundo dados recolhidos até setembro de 2015. Além disso, as polémicas relacionadas com governação são menos frequentes entre as empresas com maior paridade de género os lugares de topo.

As empresas com mulheres nos conselhos de administração têm melhor perfomance do que as que têm apenas homens nos boards.

Um estudo do Credit Suisse já concluíra que, entre 2012 e 2014, as grandes empresas (com mais de 10 mil milhões de dólares de faturação no mercado de capitais) com pelo menos uma mulher no conselho de administração ultrapassavam em 5% outras grandes empresas, no que toca à performance empresarial.

Nas empresas do MSCI World Index as mulheres ocupavam, em agosto de 2015, 18,1% de cargos diretivos, uma subida em relação aos 15,9% do ano anterior. Os países com maior percentagem de mulheres nos conselhos de administração são a Noruega (40,1%), Suécia (33,7%) e França (33,5%). O estudo concluiu ainda que as empresas norte-americanas recrutavam mais facilmente uma mulher como CEO ou CFO do que as suas congéneres europeias, ainda que possam ficar atrás em termos de presença feminina em outros cargos de direção.

Mais desigualdades nas tecnológicas

A área das tecnologias de informação é paradigmática de um outro tipo de questão: as diferenças salariais entre homens e mulheres. É o caso do conselho de direção da Snap Inc. (os criadores do Snapchat): de entre os seus cinco diretores, apenas um é mulher. Joanna Coles — que vem do gigante editorial Hearst — é também a que menos recebe: pouco mais de 110 mil dólares anuais (103,5 mil euros), quando comparada com os rendimentos dos seus pares masculinos, que estão entre 1,1 milhões e 2,6 milhões, reporta o site Fast Company.

Nas empresas tecnológicas o fosso entre géneros é ainda maior.

A Snap também tem contrariado a tendência seguida por outras empresas tecnológicas e nunca publicou um relatório com as estatísticas de diversidade de género dentro da empresa. Mas não está sozinha na falta de diversidade, reporta ainda aquele site: dos sete membros não executivos do board do Facebook, apena um é mulher; no Twitter são duas em seis, e há apenas três mulheres entre os 10 membros do conselho da Amazon.

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