As empresas de tecnologias da informação (IT) de Silicon Valley estão numa verdadeira corrida às melhores executivas de topo da área para garantirem mais mulheres nos seus conselhos de administração, revela o The New York Times. Cada vez mais empresas optam por divulgar as suas estatísticas de diversidade de género junto dos clientes, que estão mais atentos e exigentes em relação a estas questões.
Com uma média de remunerações que ronda os 270 mil dólares por ano (mais de 253 mil euros), segundo dados da consultora Equilar, os cargos nos conselhos destas empresas tornaram-se altamente desejáveis.
Enquanto o perfil de “estrelas” como as executivas Sheryl Sandberg, do Facebook, ou Meg Witman, da Hewlett Packard, continuam a estar no topo das preferências, uma nova vaga de candidatas começa a emergir como tendência: juventude, diversidade étnica e uma carreira que cresceu no negócio digital parecem ser as prerrogativas de seleção.
Amy Chang revelou ter recusado quase 20 propostas para cargos em boards de empresas de IT.
É o caso de Amy Chang, 39 anos, chefe executiva da Accompany, startup de Silicon Valley, que revela ter recusado entre 15 e 20 propostas de empresas para um cargo de conselho, em 2016. Chang trabalhou durante sete anos como executiva na Google, liderando o Google Analytics (a ferramenta de registo de estatísticas de tráfego online) até sair para fundar a Accompany. Acabou por ser nomeada para o conselho de administração da Cisco Systems, em outubro passado.
O Twitter e outras empresas do ramo das IT têm vindo a contratar mais mulheres para funções de topo, num sector onde ainda existe um grande desfasamento em matéria de igualdade de género. De entre as 150 maiores empresas de Silicon Valley, a quota de mulheres nos boards não ia além dos 15%, em 2016, quando comparada com os 21% registados pelo Index das 500 maiores empresas da Standard & Poor’s.
A esperança é que estas contratações femininas para os conselhos de administração possam dinamizar mudanças mais abrangentes, no sentido de uma maior igualdade de género neste sector. Mas, por enquanto, os especialistas de recursos humanos parecem preferir os nomes femininos mais óbvios, com mais experiência e que já fazem parte da sua rede de contactos.
O The Boardlist tenta ajudar a criar uma lista de mulheres com experiência mas menos visíveis aos olhos dos recrutadores.
O sector das IT pode estar a cair naquilo a que o The Guardian já chamou “a armadilha das saias douradas”. A expressão refere-se ao caso da Noruega, quando aquele país aprovou quotas de género de 40% nos conselhos de administração das empresas. Assumiu-se, à partida, que não existiam muitas mulheres altamente qualificadas e um pequeno grupo de executivas de topo norueguesas bem conhecidas começou a acumular cargos nos conselhos de administração de várias empresas – o que aliás, acontece também em muitos outros pequenos países com administradores do sexo masculino. A diversidade tinha crescido, efetivamente, mas as caras eram sempre as mesmas.
O sector das IT’s vai precisar de sair da sua zona de conforto e apostar em sangue novo para estes cargos, que traga ao negócio perspectivas mais frescas e inovadoras, se quiser contrariar esta tendência.
Uma das iniciativas mais inovadoras e recentes no sentido de promover a igualdade de género na liderança empresarial foi a criação, em 2015, da plataforma The Boardlist, que reúne e destaca os nomes e currículos das mulheres mais qualificadas para pertencerem a conselhos de administração. O projeto iniciado por Sukhinder Singh Cassidy — fundadora e presidente da Joyus, start-up dedicada ao e-commerce e vídeo — reúne já mais de 1300 mulheres, menos de metade das quais com experiência anterior em conselhos de administração. Para constar da lista, as novas candidatas devem ser propostas por um membro que já pertença ao Boardlist.
Mas enquanto se discute a maior presença de mulheres em cargos de gestão do sector das tecnologias de informação, esquece-se que as quotas de género deveriam estar representadas em toda a linha hierárquica destas empresas, sobretudo ao nível das chefias intermédias ou de 2ª linha, cargos de que muitas mulheres desistem ou nos quais são preteridas em favor dos seus colegas homens. Não é por acaso que depois é ainda mais difícil encontrar mulheres preparadas para assumir lugares de topo.