As 20 Mulheres mais influentes de Portugal, que dão cartas em diversas áreas de trabalho, foram homenageadas ontem ao fim do dia numa cerimónia realizada na Casa da Imprensa, em Lisboa, que contou com a presença da Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade. No seu discurso Catarina Marcelino defendeu as quotas de género e referiu que “é inaceitável e injusto que numa sociedade democrática e em pleno século XXI, só pelo simples facto de se ser mulher se ganhe metade do que ganha um homem e não se tenha acesso aos meus lugares e às mesmas posições”.
As quotas vão ser alargadas ao Estado para dar o exemplo e não criar injustiças.
Aproveitando a oportunidade dada por este evento, Catarina Marcelino falou das medidas já apresentadas em concertação social “para tentar inverter este processo injusto” e frisou o objetivo do governo em matéria de paridade de género para cinco universos distintos. A medida não será implementada apenas nas empresas, explica, “para que o Estado dê também o exemplo e não crie injustiças”. O sistema de quotas será implementado na administração direta e indireta do Estado, nos órgãos da administração e fiscalização das empresas públicas, na nomeação ou designação para ocupação de cargos nos órgãos de instituições de ensino universitário ou politécnico e nas entidades do setor empresarial.
“Podem dizer que o sistema de quotas é artificial”, prontificou-se a concluir a Secretária de Estado. “Pois é. Assumimo-lo frontalmente”, declarou. “É artificial mas necessário. Também já o foi na esfera política e até deu muita polémica mas hoje podemos dizer que temos uma presidente do CDS, uma coordenadora do Bloco de Esquerda e uma vice secretária-geral do Partido Socialista, todas elas mulheres que em determinado momento tiveram uma oportunidade e essa oportunidade deveu-se ao sistema de quotas introduzido em 2009 no Parlamento português”, concluiu.
A administradora mais bem paga de uma empresa cotada ganha menos de metade do administrador mais bem pago.
A necessidade de uma sociedade mais diversificada e justa foi uma tónica constante no seu discurso, muito apoiado em dados que infelizmente já não surpreendem, mas que nem por isso deixam de ser vergonhosos. “Em 2015, nas 17 empresas cotadas em bolsa não havia uma única presidente. O administrador mais bem pago da Bolsa ganha anualmente 1.629.010 euros. A administradora mais bem paga ganha 629.706 euros. Esta é a realidade e na política passa-se o mesmo. Nas 380 Câmaras Municipais portuguesas, por exemplo, apenas 8% dos presidentes são mulheres. Em geral, as mulheres ganham menos 18% do que os homens e quanto mais se sobe na hierarquia maior é a diferença de género”, relatou Catarina Marcelino.
Mas as empresas não estão a traduzir uma realidade já demonstrada nas universidades: as mulheres são melhores alunas. Por isso as questões da oportunidade e da igualdade para todos e todas são temas muito presentes na agenda da Secretária de Estado, que se definiu como defensora acérrima das mesmas oportunidades para todos. “Precisamos dos melhores e das melhores”.
“Temos uma sociedade onde as mulheres são vistas como reprodutoras e cuidadoras e os homens como produtores.”
Para além do combate à desigualdade e às disparidades sociais, Catarina Marcelino quer também “combater a segregação ocupacional, porque há profissões tradicionalmente mais femininas e outras mais masculinas” e defender as questões da parentalidade. “Temos uma sociedade onde as mulheres são vistas como reprodutoras e cuidadoras e os homens como produtores, mas precisamos de uma sociedade onde toda a gente assuma o papel que quer assumir e não haja estereótipos”, reforçou.
Premiar o mérito também é um dos caminhos para a consciencialização destas necessidades. Foi isso que a Executiva fez ontem ao fim da tarde na Casa da Imprensa, ao Chiado, homenageando 20 mulheres portuguesas que se distinguem em áreas que vão do desporto, à ciência, educação, música, artes plásticas, comunicação social. Veja a lista e os perfis das premiadas aqui.