Um grupo de mulheres do consórcio PSA Peugeot Citroen pôs “prego a fundo” e decidiu acelerar a progressão nas carreiras. Começou por se constituir em comité e já criou uma rede profissional feminina noutros países. A ideia surgiu em França, em 2010, no seio deste gigante automóvel, com a constituição do ‘Women Engaged for PSA’ (WEP) e partiu de quatro executivas de topo que quiseram enfrentar as desigualdades do mercado de trabalho. Atualmente o grupo tem “sucursais” em Espanha, Portugal e Argélia. A luso descendente Hélène Bouteleau dá a cara por ele no nosso país.
O objetivo do WEP é ter 20% de quadros diretivos até 2020.
O objetivo do WEP, que sempre teve o apoio da direção do grupo PSA, é muito claro: conseguir 20% de quadros superiores e diretivos femininos até 2020. E para isso foi (e ainda é) preciso levar as mulheres a ousar. Este networking também quer mostrar que a diversidade de género só favorece a dinâmica e os resultados das empresas do grupo.
“E as mulheres também são uma mais valia para o negócio da venda de carros. Metade dos clientes das marcas automóveis é mulher e 50% dos clientes homens tem por detrás uma mulher a decidir. No processo de decisão de compra de um carro o papel da mulher é fundamental e por isso é muito importante nós darmos uma opinião, estarmos mais perto do negócio, ajudarmos no desenvolvimento de novos produtos desde o design até à venda”, explica Hélène Bouteleau.
Os pilares da rede
A PSA portuguesa divide com a espanhola esta missão de “manter viva a chama da ambição profissional feminina”. Para o efeito formaram uma “plataforma ibérica” para tratar do desenvolvimento da rede mais ao sul da Europa e a ela também já se integrou a Argélia. Para todas, incluindo a rede-mãe francesa, os objetivos são os mesmos, apesar de todas estarem em fases diferentes de desenvolvimento: feminizar as equipas dirigentes do Grupo PSA.
“Em Portugal ainda precisamos de mostrar o que valemos e a questão cultural trava muito a ascensão da carreira”, diz Hélène Bouteleau.
Hélène Bouteleau foi convidada para a criação da rede ibérica e ficou com a missão de a desenvolver em Portugal. A presidente para a Península Ibérica é Estefaná Narrillos, diretora financeira desta zona e da Argélia, que foi uma das 40 fundadoras da rede em França. Estas duas executivas, em conjunto com Marta Blásquez, diretora de marketing da Peugeot Citroen Retail, e Soledad Fernández, diretora regional Norte e Centro da Peugeot em Espanha, são os pilares da rede ‘Women Engaged for PSA’ ibérica. A rede global é presidida por Virginie de Chassey, diretora de comunicação interna e managment, que está à frente do ‘comité de pilotagem’ onde se decidem todas as orientações da WEP.
Hélène tem a partir de agora uma função um pouco mais exigente: continuar a comandar o trabalho da rede a partir de Inglaterra, para onde se mudou há poucos dias para assumir o cargo de diretora financeira da PSA inglesa. Mas diz que não vai abandonar o comité. “É um trabalho muito necessário em Portugal onde ainda só estão duas integrantes na rede. Em Espanha ela é muito mais dinâmica e destaca muito mais as mulheres, mas em Portugal ainda precisamos de mostrar o que valemos”.
Nestes dois últimos anos uma mulher foi nomeada diretora da marca Citroen e isso não tinha acontecido anteriormente.
As espanholas são mais reivindicativas
A vontade de partilhar experiências, conselhos e de acompanhar outras mulheres que têm vontade de progredir profissionalmente, é a base de trabalho deste networking feminino. Os resultados medem-se em número de evoluções de carreira e de presença de mulheres em postos de direção e de topo. “Nestes dois últimos anos uma mulher foi nomeada diretora da marca Citroen – Linda Jackson – e isso não tinha acontecido anteriormente. O grupo está mais preocupado em diversificar o top managment”, conta Hélène.
O mundo do trabalho não é fácil para as mulheres, onde é muito mais difícil crescer profissionalmente. E o trabalho desenvolvido pelas “mentoras” da rede também não é pequeno. Cada representante local desenvolve-o paralelamente à atividade profissional diária, mas Hélène sente que em Portugal a questão cultural trava muito a ascensão da carreira. E não tem havido muitos dedos no ar quando o desafio de integrar a rede é lançado. “Pelo contexto económico a estrutura reduziu bastante e ainda há que avivar as almas. A diminuta participação das mulheres portuguesas não é um problema só da rede, é um problema mais vasto que está relacionado com a crise vivida. Por outro lado, em Portugal há menos quadros femininos e as mulheres espanholas são mais reivindicativas. Mas já estão alguns convites feitos que aguardam resposta”.
Carlos Tavares, CEO do Grupo PSA, acredita que esta rede pode ser uma mais valia para o negócio.
Mulheres que puxam por mulheres
A plataforma ibérica, lançada em 2014, conta com 20 mulheres participantes e tem tido uma atividade intensa: pequenos almoços de trabalho, coaching feminino, encontros temáticos periódicos, conferências, troca de experiências com outras redes exteriores para partilhar boas práticas e experiências.
Carlos Tavares, CEO do Grupo PSA, é um grande apoiante destes encontros e um dos impulsionadores deste trabalho, lançando frequentemente novos desafios à rede para que ela possa ser uma mais valia para o negócio, conta Hélène. Mas esta questão não provocará uma guerra de sexos na empresa? “Não. O apoio dos homens é fundamental. No nosso grupo soma-se não se divide”, esclarece.
Um dos trabalhos mais enriquecedores que a rede desenvolve é o de “amadrinhar” outras mulheres com talento dentro da empresa. “Em muitos casos é preciso abrir-lhes os olhos e mostrar-lhes as vantagens e ambições escondidas por detrás de questões mais pessoais como a maternidade, por exemplo”. As representantes oficiais locais da WEP, é assim que se designam as representantes de cada país, também são mães e executivas e conhecem bem os problemas da conciliação. Por isso consideram este trabalho tão importante para que ninguém fique para trás. E acaba-se também com o mito da rivalidade feminina.
Ambição de evoluir
Mas o que é preciso para entrar neste comité com tão bom acolhimento dentro do grupo PSA? “A seleção é rigorosa porque é preciso provar o que se vale. Insisto muito na competência em igualdade de circunstâncias com os homens, porque o objetivo é termos as mesmas oportunidades”, acrescenta Hélène. O perfil pretendido: ser quadro da empresa, com competências e resultados mostrados, com a ambição de evoluir independentemente da área da empresa a que pertença”.
A existência de quadros superiores e de direção de ambos os sexos dá à empresa mais diversidade e riqueza.
A área automóvel continua a ser um mundo muito masculino mas em Portugal, sem contar com a fábrica da PSA em Mangualde, a proporção de géneros começa a aproximar-se dos 50-50 em alguns departamentos. “Na fábrica de Vigo, por exemplo, a percentagem de mulheres é muito superior (na de Mangualde são apenas 20%) e elas dinamizam muito o trabalho da rede”, esclarece Hélène.
Este apoio dado às mulheres, que tão bons resultados tem dado em França e em Espanha, também se reflete nos resultados do negócio e já é ponto assente dentro do grupo que “a existência de quadros superiores e de direção de ambos os sexos dá à empresa mais diversidade e riqueza”. Até porque 80% da decisão de compra de um automóvel, dizem os estudos, é feita por mulheres e o consórcio PSA tenta cada vez mais que elas estejam presentes no processo criativo das marcas. Um comité de onde saem todos a ganhar. Mas ainda faltam as diretoras e as executivas portuguesas porem também “prego a fundo”.