Teresa Marta: Fazer do medo coragem

Viveu uma vida de medo até que percebeu que ou acabava com essa vida ou a vida acabaria consigo. No livro Fazer do Medo Coragem, Teresa Marta conta como aprendeu a não se deixar controlar pelo medo e tem usado a sua experiência para ajudar outros a superarem os seus medos. .

Teresa Marta conseguiu escapar ao medo e encontrar razões para sorrir.

Conheceu o medo na infância e habituou-se a viver com ele. Tinha medo em casa, na escola e passou a ter medo também no local de trabalho. Licenciou-se em Comunicação Social e ocupou várias funções executivas ao longo da carreira, mas tinha medo de quase tudo. A sua vida só começou a mudar quando entrou no Mestrado em Psicoterapia Existencial, fem 2007. Desde então, não esqueceu o medo, mas não permite que ele controle a sua vida. E também não quer que controle a vida dos outros, por isso trocou a carreira no mundo corporativo para se dedicar de corpo e alma à coragem. Faz sessões de coaching individuais, workshops para a coragem e tem o blogue Teresa Sem Medo.

Deixamos um excerto do seu livro que acaba de chegar às livrarias. Nele ajuda a lidar com o medo através de 10 histórias verídicas que conheceu clinicamente, para através dele traçar os 10 passos da coragem. Ao longo de quase 200 páginas dá ferramentas, abre caminhos e lança exercícios aos leitores para que possam treinar a coragem.

“A minha vivência pessoal e a actividade profissional como coach da Coragem deram-me a perceber que o medo é visto por muitos de nós como um pagamento que nos permite alcançar algumas metas: um casamento, uma família estável, emprego, vida social importante ou, simplesmente, um carro de marca. Mas um pagamento também como “moeda de troca” para sermos bem-sucedidos, belos, desejados, ricos, conhecidos. Percebi ainda que, mesmo sofrendo com medo, permanecemos em relacionamentos abusivos, aceitamos ficar com quem não amamos e suportamos empregos onde somos explorados ou não nos sentimos realizados, entre tantos outros contextos.

Até no plano profissional, ao longo dos meus 21 anos de gestão de empresas, todos os dias enfrentava medos.

No meu caso, nunca acreditei que nasci para sofrer! Recuso-me a pensar, sequer, nessa hipótese! Se tive dias, semanas, meses, anos maus? Mesmo muito maus? Sim! Péssimos! Péssimos momentos. Péssimas notícias. Perdas insubstituíveis. A estratégia que usei para sair desta agonia foi seguir em frente. Agir. Agir. Agir. Não conheço forma mais eficaz e mais rápida de sair do medo paralisante do que a acção. Agir significa, aqui, começar por olhar de frente para quem somos, para o que já temos e para o que estamos a fazer a nós mesmos, agora. Ou seja, tomar consciência do ponto de partida. Onde estamos? Para onde queremos ir? O que temos de mudar para lá chegar? Agir! Seguir em frente! Talvez o que temos agora nos pareça pouco, mas a grande vantagem da ação é permitir-nos sair do marasmo, da apatia, da solidão emocional. Da culpa, da pena de nós mesmos. E, com tudo isto, sair do medo.

O livro onde se fala abertamente sobre medos e como ultrapassá-los.

O livro onde se fala abertamente sobre medos.

Até no plano profissional, ao longo dos meus 21 anos de gestão de empresas, todos os dias enfrentava medos (medo de não atingir os objectivos, de falhar como líder, de não ser entendida, de perder o poder, de mudanças repentinas na economia, de perder o crescimento do meu filho, de perder o meu casamento).

Ultrapassei esses medos, mas, para isso, tive de me superar e reaprender a usar a extraordinária capacidade transformadora do ser humano para conduzir a minha vida de forma proativa, passando de liderada a líder. Sou, por isso, uma defensora acérrima da ação para a resolução de problemas pessoais. E, por insignificante que nos pareça a ação, temos de agir todos os dias. Este é o verdadeiro antídoto contra o medo. Quando nos movemos, tudo à nossa volta se move e isso é o bastante para que a perspetiva sobre o que nos acontece mude. E a vida mude connosco.

Mapa emocional – onde nasce o medo?

Somos geridos por uma espécie de mapa emocional que vamos criando ao longo da vida, construído com o que recebemos da família, da educação, dos relacionamentos pessoais, profissionais e sociais, da própria genética. Enquanto crescemos, memorizámos os comportamentos que fomos vendo e registámo-los em nós, passando a usá-los para atingirmos objetivos ou fugirmos a situações de desconforto, até se tornarem marcas de vida que fazem de nós quem somos. Estas marcas ensinam-nos, desde muito cedo, aquilo que entendemos ser bom e mau, positivo e negativo.

O medo depende da forma como contamos a “história”, do modo como interpretamos o que nos acontece.

No nosso mapa emocional existe, pois, dor e prazer. Duas faces que fazem parte da mesma condição: a nossa humanidade. Ou seja, nenhum de nós nasce com consciência de medo (dor). Aliás, movemo-nos pelo princípio do prazer, pela ausência de medo, mas o nosso núcleo familiar e social faz questão de nos ir ensinando a ter medo desde muito cedo. Um ensinamento entendido como proteção da cria, mas que assimilamos e vamos repetindo ao longo da vida. E nós, virgens emocionais, aprendemos o “dom” de ter medo e passamos a ser autolimitados, esquecendo que nascemos sem ele.

Costumo dizer aos meus trainees que o medo depende da forma como contamos a “história”, do modo como interpretamos o que nos acontece. Mais: o medo depende da forma como imaginamos aquilo que nos pode vir a acontecer, muito antes do próprio acontecimento. Criamos cenários com base no que imaginamos, tendo em conta aquilo que já vivemos, mas também o que os outros nos dizem que viveram.

Lembro-me, por exemplo, de que, quando estava grávida, deixei de ouvir histórias sobre a experiência do parto! Eu já o temia, desejava que ele fosse de modo natural e que tudo corresse bem. Mas, de cada vez que me viam a ficar mais barriguda, os cenários sugeriam essa experiência como algo potencialmente perigoso.

Nos processos de medo e angústia não é raro adoecermos com depressão, crises de estômago, isolamento social e até cancro.

Isto acontece também noutras situações, como um simples exame de condução, uma ida às finanças prestar informações sobre o IRS ou um convite do médico para que voltemos à consulta antes do tempo. O medo começa logo a funcionar. E, na grande maioria das vezes, os culpados somos nós. Começamos por contar à família que fomos chamados para ir às finanças e aí começa a grande caminhada do medo. Pintam-nos logo imensos cenários de coisas que já viveram relativas às finanças, de algumas que ouviram e de outras, ainda, que são os clichés: “Das finanças nunca vem nada de bom!”. E pronto, quando chegamos ao dia de ir ao balcão, o céu está a desabar sobre nós!

Isto somos nós a deixarmo-nos controlar pelos outros. E fazemo-lo sempre que temos medo de perder alguém, de ficar sós, medo de ser abandonados, medo de sermos humilhados, excluídos, medo de não sermos aceites ou medo de termos de sobreviver sem o conforto “aparente” de uma excelente condição financeira. Geralmente, associados aos processos de medo e de angústia ocorrem danos colaterais: psicológicos, emocionais, sentimentais, de bem-estar e da nossa própria saúde física e mental. São fases em que não é raro adoecermos com depressão, crises de estômago, isolamento social, descuido com a nossa auto-imagem e até cancro. A minha experiência pessoal teve um pouco desta mistura explosiva.

Apesar deste quadro, acredito, porque tenho vindo a praticá-lo ao longo dos últimos 20 anos, que, se aprendemos a ter medo, somos igualmente capazes de desaprender. Mais: somos capazes de reaprender novos padrões onde o medo seja, se não eliminado, pelo menos, muito atenuado.

Uma das fases mais importantes do meu processo transformativo foi ter conseguido começar a usar “eu posso” em vez de “eu devo”.

Quando falo em reaprender, estou a referir-me a mudar o nosso mapa emocional, praticando coisas tão simples como a alegria, a esperança e a fé incondicional no processo da vida. A noção de que, aconteça o que acontecer, nós vamos conseguir, sobretudo conseguir parar de repetir padrões que nos fazem mal. Que nos prendem ao lado escuro da vida, que nos amarram ao passado e não nos deixam projetar um futuro de pleno potencial.

Foi através da mudança da minha matriz e mapa emocionais que, depois de momentos de desespero pessoal, comecei a olhar a vida de frente. Nada no meu caminho de reconhecimento do medo foi fácil. Tive as minhas próprias crises, momentos de desespero, descrédito, de medo, no fundo. Momentos duríssimos em que a minha janela não se abria e também eu me fechava, tentando disfarçar a minha dor. Mas uma das fases mais importantes do meu processo transformativo foi ter conseguido começar a usar “eu posso” em vez de “eu devo”. Parece simples, mas, naquela altura, os meus níveis de amor-próprio e de auto-estima estavam tão baixos que esta aparente alteração de léxico acabou por ser um catalisador poderoso de mudança. Por muito que as coisas se compliquem, eu posso! Nós podemos! Você pode! E é com essa convicção que avanço. Todos nós podemos! Mesmo que assim não pareça.

 

OS 10 PASSOS DO COACHING DA CORAGEM

  1. Aceitar que temos medo: o início do processo de transformação
  2. Identificar os acontecimentos geradores do medo: mapear os pensamentos que desencadeiam o medo
  3. Avaliar o nível de realidade do medo: correspondência com a realidade
  4. Sentir o medo: o corpo como receptor de emoções tóxicas
  5. Valorizar o que temos: a força da gratidão
  6. Readquirir confiança: a capacidade de acreditar na vida
  7. Resiliência: voltar a acreditar no nosso valor
  8. Libertar padrões opressores: largar o passado, viver o presente
  9. Voltar a acreditar que merecemos: aumentar a autoestima e 
identificar crenças limitativas
  10. Readquirir a capacidade de amar: aumentar a qualidade dos 
relacionamentos

 

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