Destacam-se em áreas como a biotecnologia, engenharia de materiais, tecnologias de informação, media ou comércio online. Mas apesar das suas diferentes formações, todas estas jovens profissionais da geração millennial têm duas características em comum: as novas tecnologias e a Ciência são o pilar em que os seus projetos ou negócios assentam e todas elas demonstram dinamismo, criatividade e ousadia enquanto empreendedoras. Algumas trocaram mesmo carreiras promissoras em grandes corporações pela incerteza de liderarem o seu próprio projeto. E não se arrependeram.
Carly Zakin e Danielle Weisberg, 30 anos, fundadoras do site e app theSkimm
Conheceram-se em Roma, onde ambas estudavam, depois tornaram-se produtoras para a NBC News, onde trabalham conteúdos como notícias de última hora, política e documentários. “Demo-nos logo muito bem enquanto colegas, amigas, companheiras de casa e não demorou muito até o theSkimm ser lançado a partir do sofá da nossa sala de estar”, contam no site. Criado em 2012, especializou-se em conteúdos noticiosos breves, de leitura simples e divertida, direcionados a mulheres entre os 22 e os 34 anos (80% dos seus leitores, segundo a Bloomberg) e distribuídos em formato de newsletter diária aos mais de 4 milhões de subscritores. Uma popularidade que em muito se deve a uma inteligente estratégia de divulgação: os Skimm’bassadors —mais de 16 mil fãs que divulgam o theSkimm pela sua rede de amigos e que têm privilégios e merchandising grátis consoante o número de subscritores que consigam — e o aval de celebridades como Oprah Winfrey, Sarah Jessica Parker ou Lena Dunham.
Cotadas pela revista Fortune na lista “40 Under 40” e no ranking “30 Under 30” da Forbes, lançaram uma aplicação paga que pode ser integrada no calendário do iPhone, o Skimm Ahead, e ainda conseguiram 8 milhões de dólares em financiamento, em junho de 2016, para um novo projeto, agora em vídeo: os Skimm Studios.
Cristina Fonseca, 30 anos, co-fundadora da Talkdesk e membro dos Global Shapers
Quando se fala em jovem empreendedorismo feminino ela é o nome incontornável, não só em Portugal, mas também a nível internacional. Em 2016 foi um dos “30 Under 30” da Forbes, com as maiores promessas millennial em diversas áreas. Formada em Engenharia de Telecomunicações e Informática pelo Instituto Superior Técnico, co-fundou a Talkdesk, que permite a qualquer empresa criar um call center em menos de 5 minutos. Tornou-se a primeira startup portuguesa a ser aceite num programa de aceleração de renome dos Estados Unidos em 2011, angariando quase 25 milhões de dólares de investimento nos últimos anos.
Cristina é também membro dos Global Shapers, parte do Global Agenda Council on Europe, um grupo promovido pelo Fórum Económico Mundial cujo papel é discutir e influenciar a estratégia da Europa.
Em 2016 anunciou que iria afastar-se das atividades diárias da startup para se dedicar a outros projetos pessoais, permanecendo como sócia da Talkdesk e continuando a apoiar as suas iniciativas. Outro projecto recente em que participou foi um programa intensivo da Singularity University que, durante um verão, juntou 80 pessoas do mundo da ciência e dos negócios para usar as mais recentes tecnologias para resolver os maiores desafios da humanidade.
Fidji Simo, 31 anos, diretora de produto do Facebook
A Fortune incluiu-a na sua lista dos “40 Under 40” e o site Fast Company tem o seu nome no radar das “Pessoas Mais Criativas” de 2017. A jovem francesa é a responsável pelo lançamento de vários produtos e funcionalidades do Facebook, dos vídeos live à publicidade – de facto, segundo aquele site, 80% das receitas de publicidade da rede social vêm de produtos publicitários pensados por Simo. Um dos seus maiores sucessos profissionais foi o lançamento do Facebook Live, a aplicação de video que primeiro surgiu como ferramenta promocional destinada às celebridades, mas que rapidamente se tornou disponível a todos em 2016, transformando-se num fenómeno global. Sempre atenta às emoções que quer provocar nos utilizadores — é, aliás, esta a pergunta que faz à sua equipa quando quer lançar um produto: “o que querem que os utilizadores sintam?” — incrementou a aplicação com a introdução de comentários em direto e emoticons nos vídeos Live. O sucesso levou ao desenvolvimento de novas funcionalidades, como Live with Friends, que permite juntar outro utilizador, num ponto diferente, à transmissão de vídeo.
Cláudia Ranito, 36 anos, fundadora da Medbone
Em 2008, com 27 anos, criou a Medbone de uma forma bem arrojada: não tinha clientes em mira e a única funcionária da empresa era ela própria. Formada em Engenharia de Materiais pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e a trabalhar em investigação e desenvolvimento, Cláudia fez um estágio na área de Medicina, no 4º ano do curso, e apaixonou-se pela ideia de desenvolver soluções que melhorassem a qualidade de vida dos pacientes a necessitarem de regeneração óssea.
Quando teve que optar entre emigrar ou ficar em Portugal, decidiu-se pela aposta nacional na área da biotecnologia e no empreendedorismo, que acabou por compensar: hoje a Medbone fatura cerca de meio milhão de euros e exporta 90% da sua produção de osso sintético para mais de 50 países. As soluções, que se destinam à ortopedia, medicina dentária e veterinária, são pensadas para pacientes que precisam de próteses temporárias para preencher ou regenerar tecidos ósseos. O seu dinamismo empreendedor rapidamente chamou a atenção da ANJE e do programa DNA Cascais, que apoiaram a empresa, e Cláudia conquistou vários prémios como o Inovação BES (2009), Empreendedor do Ano (2011) e Jovem Empreendedor (2012).
Elisabete Oliveira, 33 anos, investigadora FCT – UNL
É investigadora da ReQuimTe – Rede de Química e Tecnologia, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e deu nas vistas ao ganhar a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, em 2016. A investigadora está a desenvolver nanopartículas luminescentes biodegradáveis capazes de detetar biomarcadores de cancro — moléculas libertadas especificamente pelas células tumorais — servindo de veículo de libertação controlada dos fármacos usados no tratamento da doença. Esta abordagem terapêutica permitirá diminuir a resistência à quimioterapia convencional, diminuindo os seus efeitos adversos através de um tratamento não invasivo, administrado por via oral. Uma nova esperança na melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Ann Makosinski, 19 anos, inventora
Ninguém bate a precocidade de Ann, a adolescente-prodígio canadiana que ainda no liceu inventou a lanterna Hollow, que trabalha com a energia que capta da mão humana. É dos nomes mais novos da lista da Forbes “30 Under 30″, mas já em 2013 arrebatou o prémio nacional “Canada-Wide Science Fair” e o “Google Science Fair” na categoria 14/15 anos, para além de outros prémios em feiras de ciência e engenharia. Outra invenção sua: a eDrink, uma caneca que converte o calor da bebida em energia elétrica, equipada com uma entrada USB que serve para carregar o telemóvel – consegue mesmo prolongar a carga da bateria de um iPhone até 30 minutos.
Ann já foi convidada a dar cinco conferências TEDx. Mas o que surpreende mais é o facto de não ser estudante de ciência ou engenharia e sim de literatura inglesa na Universidade de British Columbia, Canadá. “Só porque é uma área que me interessou, mas continuo a fazer todos os meus projetos de ciência e negócios fora da escola”, diz à CBC. “Acredito que é importante ter um bom equilíbrio entre Ciência e as Artes e Letras de modo a estarmos acessíveis nas duas áreas.”
Alice Zhang, 28 anos, CEO da Verge Genomics
Deixou a meio um doutoramento na UCLA na área da genética aplicada às doenças neurológicas para fundar a sua companhia de biotecnologia, a Verge Genomics. E sem qualquer preconceito de não ter esse passaporte direto — que em biotecnologia é quase sempre um requisito — entrou num programa acelerador de startups de Silicon Valley, reuniu 4 milhões em investimento e recrutou grandes nomes da investigação em genética e doenças neurodegenerativas, contactando-os diretamente via email ou LinkedIn.
A Verge Genomics tem a indústria farmacêutica como alvo, ao prestar um serviço que lhes pode poupar tempo, dinheiro e trabalho — 99,6% dos testes a novos medicamentos falham, diz a Forbes. Recorre à tecnologia para analisar as redes de genes que estão na origem das doenças neurodegenerativas como a esclerose lateral amiotrófica, Parkinson ou Alzheimer, ao mesmo tempo que tenta encontrar os pontos fracos que permitam desenvolver terapêuticas mais ajustadas.
Yunha Kim, 28 anos, CEO e fundadora da app Simple Habit
Trocou a carreira na banca em Wall Street, em 2013, para fundar a sua primeira startup e criar o Locket, um criador de aplicativos para usar em ecrãs bloqueados, que a Google chegou a eleger como uma das melhores apps de 2014. A sua experiência financeira ajudou-a nessa hora: depois de conseguir financiar-se em 3,2 milhões de dólares graças a fundos de investimento, vendeu a Locket à Wish, empresa especializada em e-commerce.
Foi curiosamente dessa sua primeira experiência como empreendedora que surgiu a sua mais recente ideia de negócio. O stresse intenso desse período levou-a a procurar a meditação, que começou a praticar diariamente, traduzindo-se numa “melhoria dramática da sua qualidade de vida”, como a própria diz. Resolveu então criar a Simple Habit, uma app com exercícios de meditação de cinco minutos pensados por uma equipa de psicólogos de Harvard e especialistas em meditação, destinada a quem tem pouco tempo. A aplicação figura na lista das recomendadas pela Apple e Business Insider.
Emily Motayed, 29 anos, co-fundadora do Havenly, site de comércio e design de interiores
Emily está a democratizar o design de interiores nos EUA. Juntamente com a irmã, Lee, criou a plataforma Havenly partindo da sua experiência pessoal. Quando mudou para o primeiro apartamento, depois de adulta, queria ajuda profissional para o decorar de forma bonita e funcional, mas não tinha orçamento. Teve então uma ideia revolucionária e muito atrativa que permite aos clientes aceder aos serviços de um profissional que projeta o design interior do espaço, através do pagamento de uma comissão fixa de 79 ou 199 dólares por divisão (dependendo da quantidade de trabalho a ser feita). Os clientes podem ainda comprar o mobiliário e peças de decoração propostos diretamente no site. Em três anos a sua equipa cresceu de duas para 60 pessoas e a empresa conseguiu angariar mais de 13 milhões de dólares em investimento, segundo a Forbes.
Katrina Lake, 34 anos, CEO da empresa de comércio de moda Stitch Fix
O conceito é perfeito para quem não tem tempo nem paciência para correr lojas à procura de roupa. Por uma franquia de 20 dólares, o Stitch Fix, a companhia fundada por Lake em 2011, envia aos subscritores uma caixa com 5 peças de roupa, sapatos ou acessórios de marcas conhecidas, escolhidos de forma personalizada para cada pessoa por personal stylists. O subscritor do serviço experimenta as peças em casa, paga aquelas com que quer ficar e devolve as restantes — sendo-lhe descontada a franquia. Em três anos o número de colaboradores de Katrina triplicou: tem agora mais de 3400 personnal stylists, a grande maioria em part-time e a trabalhar a partir de casa, que escolhem as peças para os clientes. Segundo o New York Times, em julho de 2016 as suas receitas atingiram os 730 milhões de dólares. Um dos segredos para o sucesso é o seu elaborado sistema de gestão de dados informáticos.