Antes: diretora de agências e grandes contas do Expresso
Agora: Crítica gastronómica e gestora dos cursos de cozinha
Em Dezembro de 2003, Sofia Mesquita deixou Lisboa e mudou-se para o Rio de Janeiro, para acompanhar o marido, João, que recebera um convite para general manager da Telecine. Já lá vão quase 12 anos. Mas a mudança não se ficou por aqui. No Brasil, Sofia licenciou-se em Jornalismo pela Universidade de Comunicação FACHA, fez o MBA em Gestão Empresarial pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), e deu asas à sua paixão pela cozinha. Tirou um curso na prestigiada Le Cordon Bleu, em Paris, tornando-se chef e hoje é responsável pela gestão nacional dos curso de nicho da Estácio, o maior grupo privado de educação superior no Brasil.
No Brasil tirou um MBA. Como foi essa experiência?
Sim, tirei um MBA em Gestão Empresarial na FGV (Fundação Getúlio Vargas). Na época estava a trabalhar na Euro RSCG (agora HAVAS), no Rio de Janeiro, como gerente de planeamento estratégico. Ser formada em comunicação ajudou muito na função, mas sentia falta de uma formação mais orientada para o negócio. Precisava de desenvolver uma visão mais completa das diversas áreas de gestão de uma empresa. Foi uma experiência riquíssima, um networking fantástico. Na minha turma encontrei outra portuguesa. Foi uma surpresa agradável!
Como descobriu a paixão pela cozinha?
Sempre gostei muito de cozinha. Em casa, somos todos muito apaixonados por cozinhar e por comer! Somos cinco filhos, três meninas e dois rapazes, e todos nós nos sentimos muito confortáveis na cozinha. Herdamos esse gosto dos nossos pais. A minha mãe é a minha inspiração. Conheço grandes chefs, mas poucos têm a sua capacidade de me surpreender. O slow food era já como que um princípio básico na cozinha da minha mãe: fomos criados com comida de verdade, feita em casa, com ingredientes biológicos, do produtor local ou de origem controlada. Muitas vezes o peixe vinha diretamente do pescador: comprávamos na praia em frente a casa.
Mas fez o curso da conceituada escola Le Cordon Bleu?
Em 2012 decidiu tirar um ano sabático. Fiz a primeira parte do curso no modelo intensivo. Como fui estudar no Le Cordon Bleu, em Paris, não queria ficar longe dos meus filhos e do meu marido. Mas esta modalidade do curso chega a ser violenta. Passávamos o dia na escola, com aulas teóricas e práticas, que se iniciavam às 7h30 da manhã e terminavam às 22h00. Não nos era dado tempo para refletir sobre o que tínhamos aprendido na véspera. Uma loucura! Decidi, então, prosseguir o curso na modalidade clássica. Vivi em França durante um ano. As saudades de casa eram muitas, mas a tecnologia ajudou, com chamadas por Skype todos os dias e algumas viagens Rio/Paris, Paris/Rio.
Que recordações guarda desses tempos?
O meu primeiro café da manhã da manhã. As idas ao mercado, todos os sábados, na Convention, uma feira de rua onde ficamos a conhecer os produtores e uma variedade de produtos incrivelmente frescos. As tardes passadas no Jardin des Tuileries a estudar. As viagens pelo interior de França, feitas, sempre que possível, aos fins de semana e feriados, para vivenciar o conteúdo das aulas! As idas ao Louvre, todos os passeios que fiz pelas ruas e ruelas de paris, a baguette à l’Ancienne, o croissant au beurre, o pain au chocolate, as moules frites, o foie gras. Todos os novos amigos de diferentes regiões do globo. São muitas memórias.
O que pretendia fazer depois de tirar o curso?
A minha grande motivação para estudar gastronomia era para poder exercer crítica gastronómica. Conheço poucos críticos que sabem o que estão a dizer. A grande maioria não tem formação na área. Há uma velha frase, cujo autor desconheço, que diz “se está no jornal é porque é verdade”. Algumas críticas podem ser devastadoras para um chef, outras são publicidade enganosa para o consumidor.
Como surgiu a gestão nacional dos curso de nicho da Estácio?
A Estácio surge nesta virada de vida. Para além de escrever, e depois da experiência vivida no LCB, apaixonei-me verdadeiramente pela cozinha e decidi também que daria aulas. Candidatei-me à Estácio, o maior grupo privado de educação superior no Brasil. Hoje temos cerca de 550 mil alunos. A Estácio tem parceria com a escola do Alain Ducasse, em Paris, e com diversas universidades portuguesas: IADE, Universidade de Coimbra, Universidade Lusófona e Universidade Lusíada, para intercâmbio de alunos.
Passei por várias entrevistas no processo. Foi um processo longo, mas acabaram por me oferecer a gestão nacional do curso de Gastronomia e Hotelaria com a gestão das parcerias internacionais – Alain Ducasse Education e Ecole Hotelière de Lausanne respetivamente. Acabei por, ainda, não conseguir dar aulas. A função que ocupo obriga-me a uma rotina de viagens intensa. E o meu portefólio aumentou no último ano. Hoje tenho sob minha responsabilidade 16 cursos.
Mantém a escrita gastronómica no blogue…
Comecei o blogue em 2014, com o objetivo de falar sobre este universo tão maravilhoso que é a gastronomia. Sempre com base nas minhas experiências: fazer crítica, falar de tendências, as minhas receitas. Por isso o nome “Sofia dá uma mordida”. Gostaria de ter tempo para me dedicar mais ao projeto.
Como é o seu estilo de vida no Brasil?
Vivemos na zona sul do Rio de janeiro, no Leblon, um bairro muito simpático, familiar, por isso, mais calmo. A vida por aqui é tranquila. O dia dá para fazer muita coisa, como ir ao ginásio todos os dias. Antes do curso no LCB saíamos muito para jantar fora. Agora acabo por cozinhar muito em casa. Aos fins de semana mimo a família deixando que eles façam o cardápio!
E a violência da cidade? Como lida com essa ideia?
Assusta-me inclusive a ideia da aceitação da violência. Para o carioca já faz parte. O meu carro é blindado. E dentro da medida do possível evitamos determinadas regiões da cidade depois de escurecer.
A forma de trabalhar é muito diferente?
Trabalho é trabalho, aqui ou em qualquer outro lugar. Acho que a grande diferença está na atitude das pessoas: sempre bem dispostas.
O que mudou com esta experiência de viver noutro país?
Aprendi a apreciar o meu país. Hoje sou apaixonada por Portugal. O melhor lugar do mundo.
Portugal- Brasil
O que é melhor em Portugal do que em qualquer outro local do mundo? A nossa gastronomia, a diversidade das nossas paisagens, as nossas praias!
O que é melhor no Brasil do que em qualquer outro local do mundo? As frutas, os sumos, o jeito alegre do povo.
Qual seria a sua última refeição? Café e pão com manteiga.