Os jantares de sexta-feira à noite, os domingos de família, a corrida do dia a dia, o consumo desenfreado deram lugar a uma nova forma de estar e a uma nova Oportunidade de Ser. A estranheza do isolamento social desnudou a nossa faceta de seres sociais. Um abraço apertado, uma gargalhada em grupo ganharam uma valorização talvez sem precedentes.
A história da Humanidade habituou-nos às tendências cíclicas e à necessidade de adaptação e evolução. A atual transformação nos laços sociais faz adivinhar uma mudança na existência coletiva, refletida nos padrões quotidianos. Este emaranhado de incertezas decorrente do novo momento comporta a urgência de uma postura diferente. Que tal aproveitar a oportunidade para uma revolução comportamental interna? A conhecida reflexão crise-oportunidade apresenta-se aqui com os moldes perfeitos.
Reinventar e reinventar-se!
Sempre gostei de Física. Perante o atual contexto de pandemia recordo-me com frequência do conceito de resiliência dos materiais: a capacidade de um material estar sujeito a determinadas forças ou pressões sem sofrer ruptura e poder retomar a sua forma original. A Covid-19 abriu-nos as portas para repensarmos as nossas prioridades e para agirmos. Permite-nos a oportunidade de segurar firmemente a lupa, aplicar o conceito de resiliência como catalisador de ações que nos tragam realização interna.
Fado ou Descobrimentos?
O Fado, Património Imaterial da Humanidade, é algo que me toca e do qual me orgulho profundamente. Consta que se trata de uma fusão histórica e cultural ocorrida no século XIX, inspirada no romantismo, procurando expressar a tristeza de um povo, as dores decorrentes das dificuldades vividas. Já os Descobrimentos portugueses, fazem-nos encher o peito, remetem-nos para um arquétipo de coragem, conquistas e expansão.
Quer o Fado, quer os Descobrimentos são parte do nosso património coletivo enquanto portugueses, e de alguma forma encontram-se embrenhados em cada um de nós. Temos vivido em moldes de Fado. A história repete-se. Estamos perante o desconhecido. Surge a sombra do Velho do Restelo… Parece-me que o cenário atual requer o resgate da ousadia dos Descobrimentos. Talvez seja o momento de nos abrirmos a novos horizontes para outras conquistas. Afinal, a capacidade de reconstruir bússolas e de escolher um novo Norte continua lá. Requer coragem. Sim! Já demos inúmeras provas de que esses genes e tradição cultural continuam bem vivos dentro de nós! Basta observarmos tantos percursos verdadeiramente inspiradores de portugueses que insistem em levantar as velas e conquistar novos mundos.
O desafio consiste em Escolher e agir de acordo. Aquilo que decidir desenvolver, irá vingar. Este é para mim, um dos ensinamentos mais fascinantes do DeROSE Method (metodologia de alta performance, com a qual trabalho).
Se esta reflexão fizer sentido para si, se a sua escolha recaiu sobre resgatar a bravura dos Descobrimentos, venha comigo! Vamos ingressar numa fascinante aventura rumo ao Norte pretendido, a vida que lhe traz verdadeira realização. Como? Através do resgate dessa bússola talvez empoeirada pelo tempo: os seus Talentos.
Metamorfose
Se é certo que todos nós experienciamos diferentes habilidades, menos certo é que todos tenhamos concentrado esforços em desenvolvê-las. Quando falo em habilidades ou talentos, refiro-me àquilo que é fácil para cada um de nós e que talvez não seja tão simples para os outros. Algo que de alguma forma nos distingue. O mais curioso é que somos impulsionados a desenvolver aquilo em que não somos tão bons. Desde sempre que oiço pais dizerem: “o meu filho não é bom em matemática, vou levá-lo para a explicação”. Mas engraçado que nunca ouvi: “o meu filho é ótimo em matemática, então vou levá-lo para a explicação para que se aprimore ainda mais e possa dar um bom contributo nesta área”. Pois é… Aperfeiçoar aquilo em que não somos tão bons? Sim, vamos crescer sempre! Mas aperfeiçoar aquilo em que realmente nos destacamos, isso é extraordinário! Geralmente os nossos talentos estão conectados com algo que gostamos de fazer, experimentar, viver, e nesse sentido, são a bússola que nos permite navegar rumo à realização pessoal. A este propósito, Ken Robinson, uma referência nas áreas de educação e criatividade, refere no livro, O Elemento, que todos temos capacidades de imaginação e criatividade, que quando desenvolvidas, nos permitem viver o nosso Elemento, ou seja, o que realmente queremos fazer e Ser.
A Natureza sempre me inspira. Um destes dias estava eu a contemplar a paisagem da janela do meu quarto. Era um dia ventoso. E subitamente surgiu um pássaro. Captou a minha atenção. Voava contra o vento, permanecendo no mesmo local. Percebi que ali ficava para fortalecer-se, treinando-se desse modo. A ave decidiu aproveitar a resistência do ar para treinar o seu talento que é voar. Aquele pássaro foi exímio na lição: podemos viver uma vida automatizada, sendo levados pelos ventos da vida, ou podemos aproveitá-los para aprimorarmos os nossos talentos. Vamos?
Sente-se confortavelmente. Caneta e papel. Durante alguns instantes procure recordar-se daquilo que faz muito bem. Permita-se percorrer as diversas fases da sua vida: infância, adolescência, vida adulta. Anote tudo. Provavelmente irá resgatar algumas preciosidades empoeiradas. De seguida, peça aos familiares, amigos e colegas que lhe digam quais os talentos que observam em si. Reúna toda a informação. Faça uma reflexão sobre cada uma dessas potencialidades e pense de que forma poderão abrir portas para chegar ao Norte que pretende, ou seja, que talentos podem funcionar como uma espécie de super poderes que o permitam viver a vida que lhe traz realização. Por fim, selecione os seus super poderes e defina ações concretas para o aprimoramento de cada um deles. Concentre-se e usufrua a sua viagem! Boas conquistas!
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