Podemos ter tudo, não podemos é fazer tudo

Esta foi uma das frases mais marcantes da Conferência Liderança Feminina, promovida pela Executiva, que lotou o Auditório Cardeal de Medeiros, na Universidade Católica Portuguesa. Mais de 400 mulheres juntaram-se para escutar 10 gestoras de topo.

A Grande Conferência Liderança Feminina encheu o Auditório Cardeal de Medeiros da Universidade Católica de Lisboa.

A Universidade Católica acolheu hoje mais de 400 mulheres que às 9h da manhã estavam prontas para escutar 10 gestoras de topo, António Ramalho, CEO do Novo Banco, e Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, na Grande Conferência Liderança Feminina, organizada pela Executiva. O programa da conferência incluiu duas mesas redondas – “Como chegar ao topo – competências e atitudes vencedoras” e “Como a liderança feminina está a mudar as empresas” – que contaram com a participação e moderação de CEO e executivos de topo. O objetivo foi o de inspirar a nova geração de executivas com a experiência e os conselhos de mulheres que construíram carreiras sólidas e chegaram à liderança de importantes empresas em Portugal.

 

António Ramalho, CEO do Novo Banco,

António Ramalho, CEO do Novo Banco, refletiu sobre o papel masculino na aceleração das políticas que promovem a igualdade de género nas empresas

Onde param as mulheres?!

António Ramalho, CEO do Novo Banco e um defensor das políticas de igualdade na liderança empresarial, foi o key note speaker da conferência, numa intervenção intitulada “Men really matter“, na qual refletiu sobre o papel masculino na aceleração das políticas que promovem a igualdade de género nas empresas, a importância de captar o capital de talento feminino, as boas práticas nesse sentido e as desigualdades que ainda levam ao desfasamento entre o número de mulheres que se formam no ensino superior e aquelas que ocupam lugares em conselhos de gestão de empresas nacionais. “O sistema profissional tem mantido um claro predomínio masculino, em quase todos os países, quer naquilo que é a remuneração, quer na taxa de presença feminina nos conselhos de administração, isto é, na gestão de topo. Se olharmos para a representação feminina nos boards das maiores empresas cotadas da Europa, no máximo ela atinge 22%, mas como CEO só atinge os 4,3%. No caso português a situação ainda é mais extremada – a representação feminina nos boards está nos 13% e não temos CEO nas empresas cotadas. Há uma perda de capital de género. Já falei nestes números várias vezes: se fizermos a progressão natural daquilo que é equilíbrio de géneros, só o teremos daqui a 80 anos. Para decisões de gestão, se fizermos a progressão natural daquilo que é a inteligência artificial, teremos a igualdade entre as decisões de homens e máquinas daqui a 35. Há uma perda de capital de género, porque perdemos todos os anos dinheiro, recursos e motivação feminina.”

O CEO do Novo Banco salientou ainda que, mesmo para os mercados e consumidores, a questão da igualdade de género não é irrelevante. “Exemplos como os de algumas sociedades que têm comportamentos menos claros na gestão da gravidez e da maternidade das suas colaboradoras, têm tido, normalmente, reflexos particularmente negativos do ponto de vista da gestão das empresas.” Para António Ramalho, as organizações devem ser inclusivas no que toca a equilibrar a vida profissional e pessoal e é necessária uma reflexão séria sobre os modelos de meritocracia da progressão das carreiras femininas. “Nomeadamente porque a decisão de progressão de carreira durante a escolha para os cargos de topo de uma empresa é normalmente feita numa altura em que há capacidade de maternidade por parte da mulher.”

 

Soledade Carvalho Duarte moderou a conversa entre Sofia Tenreiro, Inês Caldeira e Maria Antónia Torres.

Soledade Carvalho Duarte moderou a conversa entre Sofia Tenreiro, Inês Caldeira e Maria Antónia Torres.

Atitudes vencedoras para chegar ao topo

O primeiro painel da manhã, que se seguiu a esta intervenção, juntou Inês Caldeira, country general manager da L’Oreal, Sofia Tenreiro, general manager da Cisco, e Maria Antónia Torres, membro da Comissão Executiva e diversity leader da PwC, em torno do debate “Como chegar ao topo — competências e atitudes vencedoras”, moderado por Soledade Carvalho Duarte, managing partner da Invesco Transearch. A grande capacidade de trabalho, autenticidade, vontade de participar no processo de decisão e capacidade de comunicar as suas visões de forma clara foram algumas das atitudes de liderança destacadas por Inês Caldeira e Sofia Tenreiro, ao que Maria Antónia Torres juntaria ainda a capacidade de aceitar desafios de forma confiante: “Aproveitem as oportunidades de trabalho; guardem as dúvidas para depois e para vocês.” A diversity leader da PwC falaria ainda sobre o delicado equilíbrio entre a vida familiar e profissional e foi neste contexto que disse uma frase que fará de certeza refletir a maioria das mulheres que a escutaram: “Joguem com as regras de forma inteligente porque as empresas ainda não estão preparadas para responder às nossas necessidades. Podemos ter tudo, não podemos é fazer tudo.”

No que toca aos comportamentos a evitar, Sofia Tenreiro deixou o aviso: “Não sejam homens. Não temos que anular as nossas emoções ou feminilidade e perdemos muito quando o fazemos. As equipas, mesmo as mais masculinas, valorizam muito caraterísticas como a intuição, aquele nosso sexto sentido.” As oradoras partilharam ainda as características que valorizam mais quando procuram pessoas para as suas equipas e destacaram qualidades como a dedicação, lealdade, empatia, ambição. Procuram seleccionar pessoas apaixonadas pelo que fazem, motivadas e comprometidas com empresa.

 

Maria João Ricou, Madalena Tomé, Teresa Carvalho, Maria da Glória Garcia e Isabel Vaz responderam às perguntas de Alexandre Real.

Maria João Ricou, Madalena Tomé, Teresa Carvalho, Maria da Glória Garcia e Isabel Vaz responderam às perguntas de Alexandre Real.

Como a liderança feminina impacta as empresas

Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, Teresa Carvalho, responsável da área Legal & Compliance da Liberty Seguros, Madalena Tomé, CEO da SIBS, Maria da Glória Garcia, professora catedrática e primeira reitora da Universidade Católica e Maria João Ricou, diretora-geral da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira, foram as oradoras convidadas para a mesa redonda “Como a liderança feminina está a mudar as empresas”, moderada por Alexandre Real, managing partner da Sfori. Algumas das ideias de força deste painel passaram pela reflexão sobre as competências femininas na gestão e liderança, a importância da diversidade e o contexto cultural e familiar que ainda pauta muitas convicções e atitudes face à mulher, no que toca ao mundo do trabalho e à chefia. Maria da Glória Garcia, a primeira mulher a ser escolhida para reitora da Universidade Católica Portuguesa, recordou ainda as grandes mudanças ocorridas em Portugal em menos de 25 anos, no que diz respeito à igualdade de género na sua área, a docência , até então dominada por homens. “Quando entrei no Conselho Científico da Universidade fui considerada uma curiosidade. Em 25 anos mudámos radicalmente”, contou a professora catedrática.

A mesa redonda deixaria ainda conselhos às jovens líderes, que esta conferência procurou inspirar. Maria João Ricou realçou que “um líder deve saber transmitir confiança.” Para Madalena Tomé, saber pedir ajuda ou procurar mentoria na liderança é essencial. “Saibam levar as pessoas convosco, mas tenham a noção de que o processo de decisão é solitário”, observou Teresa Carvalho, destacando o papel inspirador que devem ter os grandes líderes. Maria da Glória Garcia acrescentaria que “que a tomada de decisão é um ato de coragem” e focaria o papel determinante das lideranças jovens, com a sua imaginação e criatividade. Isabel Vaz deixaria ainda a mensagem: “Lembrem-se que liderar é servir os outros”, enquanto recordou o papel dos líderes nos momentos de crise das empresas e o seu próprio caso e da sua equipa, à frente da Luz Saúde. “Sacrificámos as nossas vidas para salvar e servir 10 mil pessoas.”

 

Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, defendeu que é crucial que as mulheres tenham as mesma oportunidades que os homens.

Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, defendeu que é crucial que as mulheres tenham as mesma oportunidades que os homens.

Quotas de género nas cotadas até 2020

A encerrar a  Grande Conferência de Liderança Feminina, Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, destacou a importância de promover a igualdade de género na sociedade e nas empresas, com destaque para medidas legislativas que, na sua opinião, permitem acelerar este processo nos cargos de topo das empresas. “Estamos a desenvolver uma legislação que impõe quotas de género à administração pública e empresas públicas. Estamos também a avançar com algo que tem sido bastante polémico, mas muito desafiante: quotas de género para as administrações das empresas cotadas em Bolsa. Por um lado, porque este é o caminho que se está a tomar na Europa com uma diretiva que tem sido discutida há muito tempo, mas que ainda não conseguimos fazer aprovar. Por outro lado, porque o mercado é um mecanismo público. Estamos a dizer às empresas que, se quiserem ser cotadas e usufruir do sistema de mercado, têm que ter homens e mulheres na administração.” A legislação, que se espera ser desenvolvida até 2020, visa alterar o panorama da liderança feminina em Portugal. “Sabemos que países como a França, que desenvolveram mecanismos desta natureza, partiram de um valor semelhante ao nosso e estão, neste momento, nos 34%. Fizemo-lo com estabelecimento de cotas na Politica e resultou. É este limiar de paridade que queremos no nosso país.”

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