‘Jogo de Damas’ é o filme da jovem realizadora Patrícia Sequeira que chega aos cinemas a 28 de janeiro. Uma estreia em longas-metragens para Patrícia Sequeira e também uma estreia em escrita para cinema de Filipa Leal, que tem feito carreira na área na escrita de poesia, teatro, jornalismo. E que elenco! Ana Padrão, Ana Nave, Fátima Belo, Maria João Luis e Rita Blanco são as protagonistas, que se reuniram para o funeral de uma das amigas e ao longo dessa noite de velório vão recordar a longa amizade que as une e falar da vida e da morte.
“Já me disseram que ando a fazer cinema na televisão. Espero não ouvir o contrário com este filme”, diz Patrícia Sequeira. As críticas que a realizadora tem recebido dos seus trabalhos televisivos, sobretudo na realização de novelas e de séries de ficção – ‘Laços de Sangue’, ‘Sol de Inverno’, ‘Conta-me como foi’, ‘Depois do adeus’, entre outras – têm sido “tão boas que parece cinema”, esclarece. Claro que as linguagens são diferentes, o formato e o tempo de filmagem também, mas os comentários recebidos só atestam a qualidade do trabalho da realizadora que espera agora não defraudar com o ‘Jogo de Damas’.
Sou a autora, realizadora, produtora e também fui eu que financiei este filme. Mas fechei um contrato com a RTP e vou zerar os custos.
A novela da SIC ‘Laços de Sangue’ recebeu um Emmy em 2011, e o último sucesso de audiências que Patrícia teve enquanto coordenadora ativa foi com ‘Mar Salgado’. Desde 2014 é coordenadora geral artística da produtora SP Televisão. Falámos com ela sobre o ‘Jogo de Damas’.
É a sua estreia em cinema?
Sim. Tenho um longo percurso na ficção televisiva mas já há algum tempo que queria experimentar o cinema, que tem uma linguagem muito diferente da das séries de televisão e das telenovelas. E sempre quis trabalhar com estas cinco excelentes atrizes. Admiro-as como criadoras.
A ideia do filme é sua?
Sim, eu sou a autora, realizadora, produtora e também fui eu que o financiei. Mas sei que os custos do ‘Jogo de Damas’ vão ser “zerados”. Acabei de fechar contrato com a RTP para o exibir. Também tive uma proposta da SIC mas optei pela RTP porque é a casa principal do cinema.
Eu sou tudo o que não se espera de um realizador, que normalmente estão 1 a 2 anos a preparar o seu filme. Rodei o filme em 10 dias.
Não conseguiu financiamento?
Nem tentei. É o meu primeiro filme e em Portugal tem de se provar primeiro fazendo. Eu sei como é complicado para os meus colegas conseguirem verbas por isso resolvi avançar sozinha. Tive o apoio da SP Televisão, onde trabalho, e fiz o filme sem ajudas.
A necessidade de tempo para as filmagens desviou-a da televisão?
O filme foi rodado em dez dias. A acção passa-se numa herdade em Alcácer do Sal e a própria estrutura da história exigia isso. Foi possível filmar em tão pouco tempo graças à extraordinária preparação destas atrizes e à minha certeza de querer fazer o que queria sem grandes distrações.
Eu sou tudo o que não se espera de um realizador, que normalmente estão 1 a 2 anos a preparar o seu filme. Mas eu estou ligada a uma máquina, a SP Televisão, onde adoro trabalhar mas que não pode parar. E o filme também foi financiado às minhas custas.
Iniciou-se com um tema forte: a morte e o luto…
O tema forte é o que cada um quiser tirar da história. Para mim é um filme sobre a amizade feminina explicada por mulheres maduras, reais. É uma viagem à intimidade destas mulheres pela amizade. Como se cada uma delas fosse um lugar. A morte e o luto estão também muito presentes mas o que quero mostrar é que a morte faz parte da vida e é um pretexto para se falar dela.
Quando o filme foi apresentado no Lisbon & Estoril Film Festival, em novembro, foi interessante ver uma plateia a rir em determinados momentos. As pessoas reagiram bem ao humor do filme.
Diz que a preparação para o filme começou por ser um jogo também, para o qual convidou cada uma das atrizes. Como assim?
Quis trabalhar num filme em que eu estabelecia os pontos de enredo e elas depois uniam esses pontos. O ‘Jogo de Damas’ podia ter um resultado diferente. O guião foi escrito à medida que o processo foi avançando, os diálogos foram criados pelas cinco atrizes, até que eu decidi fechá-lo e convidar a Filipa Leal, poeta e jornalista, para o agarrar e escrever. Foi um exercício coletivo, com jantares e encontros em que cada uma delas trazia uma personagem. Escolhi trabalhar com atrizes de uma idade em que às vezes é difícil um recomeço. Elas estão muito expostas neste filme.
Mais do que falar da amizade e da condição feminina, o filme fala da condição humana e de temas do quotidiano apresentados de uma forma diferente.
Por que devemos ver o ‘Jogo de Damas’?
Porque o filme mais do que falar da amizade e da condição feminina, fala da condição humana e de temas do quotidiano apresentados de uma forma diferente. Depois, as cinco mulheres que contracenam são extraordinárias. O cenário é muito bonito, e o filme pode ser resumido como uma viagem alucinante. É um convite para passar das 6h da tarde às 6h da manhã com estas amigas, numa noite onde tudo pode acontecer.
Quando me perguntam se é um filme de mulheres, responde que sim, claro, pois se o núcleo duro é composto por sete mulheres: eu, as cinco atrizes, e a Filipa Leal que escreveu o argumento. E depois quando me perguntam se o filme mostra o ponto de vista feminino também respondo que sim, e acrescento: já é altura das mulheres darem a sua perspetiva!
Especialmente as mulheres deviam ver este filme?
Especialmente as mulheres, sim. Até porque nós estamos a gostar mais de nós próprias, a admirarmo-nos mais umas às outras e a querer fazer coisas juntas. As mulheres deste filme falam de temas da vida mostrados de vários quadrantes e qualquer uma de nós gostará de os conhecer ou rever. Mas os homens também se sentirão identificados pela condição humana ali retratada. E os homens também têm interesse em ver as mulheres a falar. Já reparou que eles estão sempre ligados a uma? Pelo menos à mãe estão.
O próximo filme já está pensado?
Eu e a Filipa Leal estamos a trabalhar noutro projeto para cinema. O guião estará pronto em março, mas como está em alterações não vou adiantar mais nada. Posso dizer que tem um pouco mais de loucura.