Nádia Reis é diretora de Comunicação e Responsabilidade Social do Continente, na MC Sonae. Licenciada em Ciências da Comunicação, pela Universidade do Minho, tem mais de 20 anos de experiência no sector do retalho alimentar e na área de Comunicação. Atualmente, Nádia Reis é responsável pelas áreas de Relações Públicas, Ativação de Marca, Conteúdos e Responsabilidade Social Corporativa na MC Sonae. A pandemia será sempre marcante na sua carreira, não apenas pelos desafios que lhe colocou a nível profissional, mas também por a ter apanhado precisamente a meio do Executive MBA, que estava a fazer na Porto Business School. Hoje reconhece que “foi uma jornada exigente, de superação e autoconhecimento, de forte necessidade de uma boa gestão do tempo, mas profundamente enriquecedora”.
O que a levou a licenciar-se em Ciências da Comunicação e o que sonhava para o seu futuro?
A área da comunicação sempre me suscitou um grande interesse. Por natureza, considero-me uma pessoa comunicativa, que sempre gostou do trabalho em equipa, em prol de um objetivo comum, fazendo parte e acrescentando valor na construção de algo, seja a nível pessoal como profissional. Na verdade, a ideia inicial era formar-me em jornalismo desportivo, mas acabei por seguir a vertente mais corporativa da comunicação. Hoje acredito que foi a melhor decisão, na medida em que determinou o meu percurso profissional na área do marketing e da comunicação e na qual me sinto tão feliz e realizada.
Tem a particularidade de estar há 20 anos na mesma empresa. Qual o segredo da longevidade da sua relação com a Sonae?
Em primeiro lugar, sou apaixonada por aquilo que faço, pela área do retalho e comprometida com esta grande empresa que é a MC, e que é uma verdadeira família. Depois, porque ao longo destes anos tenho tido sempre oportunidades de aprendizagem e crescimento profissional dentro da organização.
A MC é considerada, desde sempre, como uma learning organization, que promove e contribui para o desenvolvimento constante das suas pessoas. Face à diversidade e heterogeneidade de negócios em que atuamos, o nosso ecossistema de formação é muito vasto e holístico, desenvolvido de acordo com as necessidades de cada área, cada função e cada perfil. São vários os programas integrados de talento e formação aos quais temos acesso e todos eles permitem fazer emergir o melhor de cada um de nós, com otimismo, responsabilidade, confiança e autonomia, tornando-nos líderes mais ágeis, mais próximos, mais humanos.
Como já referi, na MC, sentimo-nos verdadeiramente em família, as pessoas estão no centro do sucesso da empresa, sendo reconhecido o empenho e valorizada a dedicação de cada um de nós. E com o objetivo de assegurar o bem-estar dos mais de 37 mil colegas, são desenvolvidas anualmente diversas iniciativas num esforço contínuo em fazer a diferença no nosso dia-a-dia de trabalho.
Continuo a sentir-me desafiada, entusiasmada e alinhada com os objetivos da MC. Também é muito gratificante todo o trabalho que temos desenvolvido com a Missão Continente, ao longo destes 20 anos, em que percebemos que podemos fazer a diferença nas comunidades onde estamos inseridos, para um mundo mais justo e positivo.
Ao longo destes anos a sua carreira também tem, naturalmente, evoluído. Quais as principais etapas por que passou?
Iniciei a minha carreira na Direção de Marketing da MC, na área de Customer Service e considero que foi fundamental para adquirir, desde logo, a sensibilidade e competências necessárias para entender os clientes, os seus pain points, as suas expetativas e necessidades. Foram os primeiros de anos de contato direto com um dos setores de atividade mais dinâmicos em Portugal – o retalho – que me permitiram desenvolver e continuar a evoluir. Sendo a área de comunicação a minha base de formação integrei, posteriormente, a equipa de Public Relations e foram vários anos focada em assegurar sempre a boa reputação das nossas marcas. Posteriormente, abracei dois grandes desafios, em áreas que estavam a emergir de forma mais consolidada e profissionalizada – a Responsabilidade Social e Ativação de Marca. Projetos como a Missão Continente, o Festival da Comida Continente, o patrocínio e ativação à Federação Portuguesa de Futebol ou à Volta a Portugal, fizeram nascer, na direção de Marketing, a área de Brand Engagement que agrega todas estas valências e trabalha o lado mais emocional da marca Continente, na sua interação com os diferentes stakeholders, sejam eles clientes, colaboradores, comunidades, organizações, entre outros.
Quais os principais desafios que enfrenta atualmente na sua função?
Com a permanente evolução na forma e nos modelos de comunicação, trabalho e gestão de equipas, os desafios são constantes. Assegurar alinhamento, sustentabilidade e motivação das equipas, encontrar os melhores modelos de interação entre todos, investir na formação contínua em prol da concretização dos objetivos estratégicos comuns, diria que são alguns um dos principais desafios.
E naturalmente os desafios tecnológicos com que nos deparamos diariamente. Sendo a tecnologia um forte aliado num setor tão competitivo como o retalho, importa estarmos permanentemente atentos e motivados para a criação e introdução de novas ferramentas, plataformas, canais de comunicação e serviços no setor, de forma a assegurarmos sempre a melhor proposta de valor.
É incontornável a necessidade de nos mantermos permanentemente atualizados e de, ao longo da nossa carreira profissional, adquirirmos continuamente novas competências e conhecimento.
Porque decidiu fazer o MBA e porque escolheu a PBS?
É incontornável a necessidade de nos mantermos permanentemente atualizados e de, ao longo da nossa carreira profissional, adquirirmos continuamente novas competências e conhecimento. Foi, por isso, muito gratificante ter a oportunidade de fazer um MBA numa altura da minha carreira em que sentia uma profunda vontade de voltar a estudar, mas através de um modelo que aportasse valor ao meu desenvolvimento pessoal e ao meu percurso profissional. A PBS foi uma escolha também ela muito natural, não só pela proximidade geográfica, que me permitia conciliar a frequência no Executive MBA com o trabalho e a vida pessoal, mas também pelo legado e qualidade da instituição de ensino. De resto, a PBS mantém há longos anos uma relação de forte proximidade com a Sonae, pelo que estavam reunidas as condições para abraçar esta aventura.
Como conciliou o MBA com a vida profissional e pessoal?
Foi um período muito intenso (e mais longo que o habitual para um MBA), pois fomos a primeira turma de MBA da PBS a ter de lidar com a pandemia. Recordo as primeiras semanas de forte incerteza em todas as dimensões das nossas vidas, em que foi necessária uma rápida adaptação nos domínios profissional, familiar e claro, académico. Toda a turma “Pandemic MBA”, como fomos apelidados, foi muito resiliente e solidária entre si; não deixou ninguém para trás e mesmo na adversidade do momento em que nos encontrávamos conseguimos superar juntos os desafios. Com o apoio incondicional da família, dos colegas e equipas de trabalho, bem como do corpo docente e staff da escola foi possível conciliar todas as frentes. Reconheço que foi uma jornada exigente, de superação e autoconhecimento, de forte necessidade de uma boa gestão do tempo, mas profundamente enriquecedora por tudo o que se retira daquela experiência.
Qual o impacto do MBA na sua carreira e na sua vida?
Claramente um impacto muito positivo e em diferentes dimensões. Quando iniciei o MBA estava longe de imaginar o quão transformadora seria esta experiência. Desde logo, pela aprendizagem e conhecimentos que adquiri, em áreas que não me eram tão naturais, e que hoje aplico diariamente no meu contexto de trabalho, mas também, pela partilha de experiências e know how, que se revelaram fundamentais para encarar o nosso trabalho e a nossa vida de uma forma mais plena e confiante. Por fim e não menos importante, o impacto das pessoas que trazemos connosco após o término do curso; foi e é uma turma presente, que ainda se contata diariamente e que faz questão de celebrar a amizade com muita frequência.
A pandemia da Covid-19 e os períodos de confinamento foram seguramente dos momentos mais marcantes [da carreira], que deram origem a alterações repentinas no comportamento dos consumidores, mas também obrigaram a uma enorme capacidade de agilidade e adaptação, nomeadamente no nosso setor.
Qual o projeto de que mais se orgulha na sua carreira?
É muito difícil escolher apenas um, pois ao longo de todos estes anos tive o privilégio de desenvolver e participar em projetos absolutamente incríveis e nas diferentes dimensões; seja no apoio às comunidades através de projetos da Missão Continente como, a Escola Missão Continente, ou as campanhas de emergência social, como as Luzes com Presença ou a atual em curso – a Ajuda Mora ao Lado – que este ano apoia 1000 instituições locais, naquele que acreditamos ser o maior movimento de apoio social local. Projetos como o Mega Pic Nic, o Mercado de Sabores, o Festival da Comida Continente, o apoio e patrocínio às Seleções Nacionais de Futebol, foram e são experiências únicas que fazem com que sinta que estes anos têm passado a correr. Poder proporcionar estes momentos de felicidade e entretenimento a tantos milhares de pessoas, também faz com que cada dia seja uma experiência de forte enriquecimento pessoal. Tenho ainda a grande sorte de poder trabalhar e aprender diariamente com pessoas e equipas extraordinárias, que fazem acontecer de uma forma única e exemplar, sempre com um forte sentido de responsabilidade, foco, resiliência e solidariedade entre todos.
Qual o momento mais desafiante que viveu profissionalmente e como o ultrapassou?
A pandemia da Covid-19 e os períodos de confinamento foram seguramente dos momentos mais marcantes, que deram origem a alterações repentinas no comportamento dos consumidores, mas também obrigaram a uma enorme capacidade de agilidade e adaptação, nomeadamente no nosso setor. Isto implicou uma profunda, mas rápida, transformação na nossa capacidade de servir, com impacto em inúmeras equipas e áreas, em ambiente de forte incerteza.
Mantivemos sempre as nossas lojas abertas, assegurámos a alimentação de milhares de famílias em Portugal e o Continente adaptou também a sua comunicação de forma a manter os clientes informados sobre o funcionamento das lojas, as medidas de segurança e os cuidados de proteção a ter no dia-a-dia e em particular, na ida às compras. Mas não só: sabendo que a maior parte das famílias estava em confinamento, decidimos apostar numa comunicação digital que ajudou a tornar esse período menos pesado, aproveitando a oportunidade para fazer coisas novas.
Criámos nas nossas redes sociais a #RotinadeImproviso: uma mudança de registo, com sugestões de receitas, trabalho manuais, concertos, aulas de ginástica e exercício físico, atividades para os mais pequenos, para os seniores, desafios com os animais de estimação, etc.
No e-commerce, rapidamente superámos os melhores benchmarks internacionais de retalho alimentar inovando no processo de abastecimento das famílias. E com a Missão Continente, através da campanha “Nunca Desistir”, apoiámos milhares de famílias que de um momento para o outro se viram numa situação de forte fragilidade. Apoiámos os hospitais, as forças de segurança, as entidades que diariamente estavam na linha da frente a garantir a saúde, a proteção e o bem-estar de todos nós.
Que conselho deixaria a uma jovem executiva que queira fazer carreira na sua área?
Que é muito importante manter uma mente aberta e uma constante vontade de aprender com as experiências, sejam elas mais ou menos positivas, encarando-as sempre como bons desafios; que a capacidade de adaptação e resiliência são fundamentais na resposta às constantes mudanças do contexto e ambiente, em particular no setor do Retalho, que está em permanente transformação; que ao trabalharmos em rede e de forma colaborativa com os nossos diferentes contatos, sejam eles colegas, parceiros, clientes ou comunidades, nos permitirá alcançar de forma mais efetiva os objetivos estratégicos de criação de valor económico e social; que o investimento em formação contínua é central e, por fim, que ao equilibrar de uma forma positiva as várias dimensões da nossa vida – individual, familiar e profissional – estaremos preparados para ser a melhor versão de nós próprios.
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