Mulheres Mais Influentes de Portugal: Catarina Martins

Como coordenadora do Bloco de Esquerda ajudou a viabilizar o Governo atualmente em exercício. Em entrevista à Executiva falou sobre a relação entre política e teatro e sobre quotas.

Catarina Martins: "As mulheres são mais escrutinadas do que os homens".

Foi o compromisso com as lutas políticas desde a juventude, como a mobilização contra a PGA, que a levou a envolver-se com movimentos culturais. Com 21 anos torna-se cofundadora da Companhia de Teatro Visões Úteis e mais tarde foi dirigente do CITAC. Em 2009 é eleita deputada ainda como independente, mas no ano seguinte adere ao Bloco de Esquerda, integrando a sua direção. Depois de um período em que partilhou a liderança com João Semedo, em 2016 assume sozinha as funções de coordenadora do BE.

É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e com um mestrado em Linguística.

Em que medida o teatro e a política se tocam?
O teatro, como a política, é um trabalho coletivo. E ambos são uma expressão de resistência e de construção. Além disso, eu já fazia política antes de ser deputada: participei em movimentos pela escola pública, contra as propinas no ensino superior, pelo direito à cultura ou contra a precariedade. No meu trabalho sempre foram centrais as preocupações com o direito à cidade, a democratização do espaço público e o combate à exclusão social. Defender no parlamento o que defendia fora dele é apenas uma outra forma, mais intensa, de fazer política.

Já sentiu o “teto de vidro” para as mulheres em cargos de liderança?
Julgo que todas as mulheres o sentem, de uma forma ou outra, e os números comprovam-no. Em Portugal, as mulheres em lugares de decisão ganham menos 25% do que os homens, e, muito embora sejam hoje mais qualificadas, a sua presença na administração das grandes empresas é meramente residual.

As mulheres na política ainda são vistas de forma diferente dos homens, pela sociedade e pelos seus pares?
Sim. Desde logo, as mulheres são mais escrutinadas do que os homens e esse escrutínio estende-se a todas as áreas da sua vida. Dou-lhe um exemplo: não há praticamente nenhuma entrevista a uma mulher com responsabilidade política em que não se pergunte pela conciliação entre a vida política e a vida pessoal; raramente essa pergunta é feita da mesma forma a um homem.

As quotas de género na liderança das empresas ainda são vistas como uma questão secundária ou difícil de conseguir?
Ainda há muitos obstáculos, mas também há caminho feito e devemos ser exigentes não apenas com a lei, mas também com cada organização. O Bloco, desse ponto de vista, foi um partido pioneiro: aplicou a paridade aos seus órgãos internos antes de esta estar consagrada na lei e hoje, num momento em que a lei exige representação de um terço de um dos sexos, aplica a paridade absoluta na sua direção: 50% de homens e 50% de mulheres. Batemo-nos pela introdução da paridade nas listas eleitorais e o balanço é francamente positivo: há hoje mais mulheres na política e mais política feita por mulheres. Seria importante que este princípio fosse aplicado às empresas, a começar pelas empresas públicas. O Bloco, aliás, apresentou recentemente uma iniciativa legislativa nesse sentido.

Qual a batalha política que lhe falta ganhar ou que tomou como prioridade?
Neste momento, é essencial garantir maior estabilidade a quem vive e trabalha neste país; daí a nossa grande preocupação com o combate ao trabalho precário, tanto no público como no privado, e a urgência em libertar recursos para um investimento que crie emprego e aumente a capacidade produtiva do país. A política tem que ser sustentada e só tem sentido se soubermos que por detrás das estatísticas estão pessoas.

Complete a frase: “Quem trabalha diretamente consigo sabe que…”
A política tem esta característica: nunca nada está acabado

Esta entrevista foi feita em Abril 2017

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