Nascida no actual Cazaquistão, Mila Suharev aprendeu programação aos 13 anos e descobriu a paixão por Matemática na Universidade. Filha de empreendedores, aos 14 anos criou o seu primeiro negócio. Depois de ter trabalhado em Moscovo, criou parcerias de negócios e de marketing que contribuíram para um aumento de 30% das receitas da maior empresa europeia de videojogos de browser. Mais tarde viria a fundar e a criar uma rede social que atingiu a liderança no ranking de aplicações na Alemanha.
Empreendedora em série, antes da proptech (Property Technology) Casafari, que detém a mais completa, limpa e em tempo real base de dados do mercado imobiliário em Portugal”, trabalhando com as maiores e mais importantes agências imobiliárias em Portugal, Mila Suharev esteve envolvida em várias empresas tecnológicas: foi diretora para a Europa de Leste e Russia da empresa de videojogos BigPoint, fundadora e conselheira para a Polónia e a Rússia da fintech Kreditech, e fundadora e CEO da rede social meetOne. Como parceira no fundo YoungBrains, co-fundou e investiu em várias startups, incluindo Whow Games, IDnow, justBook, Secret Escapes, Edition F, e Meatjet.
Mila Suharev é uma simbiose do Cazaquistão, da Rússia e da Alemanha, uma mistura que lhe dá o “gosto pela exploração, a descoberta e a evolução através do crescimento e da inovação”. Nos tempos livres faz mindfulness, meditação, yoga, e running.
Como foi o seu percurso escolar e profissional?
Comecei a aprender programação em LISP e Prolog na disciplina de computadores de George Soros quando tinha 13 anos e continuei a aprender algoritmos enquanto estudava Matemática Aplicada. Também estudei Gestão Financeira com foco em modelagem matemática. Aos 19 anos comecei a trabalhar como engenheira de planeamento no instituto de pesquisa e no Ministério de sistemas de defesa. Depois disso, fui criar e construir as operações internacionais na Bigpoint, uma empresa de jogos de vídeo em Hamburgo, Alemanha, que se tornou na maior empresa de jogos da Europa há 15 anos.
Uma pequena saída com stock options para funcionários desta empresa desbloqueou uma oportunidade para investir em outras empresas e em imóveis na Alemanha e Espanha. Tornei-me uma investidora fundadora na Kreditech (onde também era consultora), na Nebenan.de, na Whow games, na IDNow, na Secret Escapes, etc.
Ao investir em imóveis em Espanha, senti as dificuldades causadas pela assimetria de informação e pelo caos no mercado imobiliário e decidi resolvê-las criando a Casafari para trazer transparência ao mercado imobiliário e permitir a concretização de negócios de uma forma eficiente.
Quais os momentos mais marcantes do seu percurso profissional?
Fundar e sair de empresas líderes têm sido os momentos mais importantes, uma vez que aceleraram o imenso crescimento em novas áreas de especialização.
Quando e porquê decidiu tornar-se empreendedora? Qual o seu trajecto como empreendedora?
Venho de uma família de mulheres empreendedoras e financeiras que me encorajaram a iniciar o meu primeiro empreendimento aos 14 anos – organizei um grupo de colegas de escola para criar e vender acessórios feitos de tecidos de calças. Anos mais tarde, quando estava a trabalhar nos sistemas de defesa, percebi que o empreendedorismo era a única forma de crescer e sentir-me verdadeiramente realizada e feliz. Como empreendedora, gosto da liberdade ilimitada e da possibilidade de ter e fazer um impacto positivo no mundo, juntamente com pessoas unidas em torno de uma visão.
Como e quando surgiu a ideia da Casafari?
Ao investir no setor imobiliário em Espanha, eu e meus co-fundadores deparamo-nos com um problema de caos e assimetria de informação que causava incerteza e ineficiência do mercado. Ao consolidar e profissionalizar mercados fragmentados, aumentámos a eficiência energética e a disponibilidade de uma vida profissional a preços acessíveis, ajudando assim os investidores e os governos a resolver a crise da habitação e da terra, alcançar a sustentabilidade, a igualdade e uma melhor proteção do consumidor. Além disso, sou apaixonada por trazer um impacto positivo para o mundo, criando e construindo tecnologias exponenciais como solução para os persistentes desafios globais da habitação e da igualdade.
Quando e porque decidiu vir para Portugal?
Viemos para Portugal em 2017 para criar uma equipa e aqui começámos efetivamente a construir negócios em 2018. Portugal oferece um equilíbrio perfeito entre estilo de vida, custo de vida e popularidade entre os profissionais internacionais dispostos a deslocalizarem-se. Antes de Portugal, vivi em Espanha, URSS, Rússia, Cazaquistão e Alemanha (sou cidadã alemã).
Como ensinam na Universidade de Columbia, uma empresa multicultural é um país por si só, com a sua própria constituição.
Sente que ganhou novas formas de trabalhar em cada país por onde passou?
Sim, cada país tem uma mentalidade e uma ética de trabalho diferentes. Eu estava a crescer num lugar multicultural e multirracial com amigos da Coreia, Grécia e Alemanha, e isso ajudou-me a adaptar-me mais rapidamente a novos países.
Diversidade, aceitação, tolerância e inclusão são essenciais, especialmente nos tempos atuais de globalização acelerada. Atualmente temos escritórios em vários países com algumas culturas que são consideradas opostas em valores e comunicação entre si. Enquanto a ética de trabalho na Alemanha é diferente, por exemplo, da Espanha, é mais importante equilibrar as diferenças culturais encontrando a identidade cultural de uma empresa. Como ensinam na Universidade de Columbia, uma empresa multicultural é um país por si só, com a sua própria constituição.
Trabalhar com tantas culturas de todo o mundo tem sido um desafio por si só, e passo muito tempo a estudar as diferenças com Cultural Atlas e Hofstede Insights.
Como é que se adapta a uma equipa que não conhece, num país também desconhecido?
A nossa equipa é multicultural desde o primeiro dia, com três fundadores vindos de três culturas diferentes. Temos mais de 15 nacionalidades na nossa equipa com escritórios em cinco países e em estamos expansão.
A cultura e a forma de trabalhar em Portugal é muito diferente dos outros mercados em que trabalhou antes?
A forma de trabalhar é diferente em Portugal do que em outros países, mas o mais importante é a equipa globalmente orientada e aberta. No entanto, trabalhar com tantas culturas de todo o mundo tem sido um desafio por si só, e passo muito tempo a estudar as diferenças com Cultural Atlas e Hofstede Insights.
Qual o principal erro que cometeu e que lição aprendeu, enquanto empresária?
O meu principal erro foi uma decisão rápida demais em aceitar capital externo na minha primeira empresa de tecnologia, acabei de aceitar a primeira proposta de investimento. A aprendizagem é ser muito mais rigoroso ao escolher parceiros certos, uma vez que criar e construir uma empresa é uma longa caminhada com altos e baixos, onde confiança, persistência e perseverança são exigidas de todos os lados.
Que conselho deixaria a uma jovem que se quisesse tornar empreendedora?
A chave é ter uma visão forte pela qual se torne obcecada — é preciso a Estrela do Norte que irá guiá-la. Especialmente em tempos difíceis, será preciso uma lembrança constante do porquê de fazer o que se está a fazer, e uma visão forte é o poder máximo para ajudar a superar qualquer obstáculo. Encontre um bom mentor que a ajudará a identificar os seus pontos fortes e a guiará no seu crescimento pessoal.
“É mais fácil contratar pessoas de todo o mundo e convencê-las a vir para Lisboa do que, por exemplo, Hamburgo” O que mais gosta e menos gosta no nosso país?
Aprecio muito a abertura dos portugueses para com os estrangeiros. Portugal tem uma mistura única de natureza rica e de paisagem cultural espantosa, mesmo à parte da praia — vivo junto ao parque nacional Cascais-Sintra, onde faço caminhadas e corro em trilhos todas as semanas e é um paraíso para mim. O que poderia ser melhor em Portugal, é a rapidez da mudança ambiental e social.
O que é melhor em Portugal do que em outro lado qualquer?
Portugal é muito atraente para a comunidade internacional. É mais fácil contratar pessoas de todo o mundo e convencê-las a vir para Lisboa do que, por exemplo, Hamburgo. O baixo custo de vida, o clima, as pequenas distâncias tornam Lisboa muito popular.