Chama-se Joya e é uma verdadeira preciosidade: um hotel boutique de 13 quartos e 9 suites, mesmo em cima do mar, com um restaurante também internacionalmente reconhecido. Na sua cozinha, há mais de 25 anos que nascem as criações culinárias do chef austríaco Dieter Koschina, que há 18 anos conquistou duas estrelas Michelin que ainda hoje brilham.
Em 1978, o casal alemão Claudia e Klaus Jung compraram a casa algarvia, de inspiração mourisca, onde a família passava férias. Quatro anos depois, transformavam-na num hotel, “um lar”, como corrige a filha Joy, que desde 2013 é a proprietária do empreendimento. A mãe falecera em 1997 e Joy prometera-lhe que continuaria a gerir a Vila Joya como ela desejaria. Depois de um périplo de estudos que a levou a Lausanne, Paris, Nova Iorque, Himalaias e Bruxelas, regressou a Portugal com uma bagagem que lhe permitiu fazer o percurso de aprendizagem no hotel que então o pai dirigia. Antes de o substituir na gestão, ainda passou dez meses a trabalhar com crianças na Índia, “um enriquecimento pessoal e uma fonte de força de que retira o amor e entusiasmo” que hoje coloca na sua qualidade de anfitriã quando, por exemplo, conversa com os hóspedes na mesa de pequeno almoço ou se despede deles como se fossem familiares.
Joy, de 39 anos, nasceu em Munique, mas sempre se recorda de passar as suas férias na praia da Galé, próximo de Albufeira. O mar é “o seu companheiro”, o que lhe dá forças. Com uma casa em Lisboa, a capital portuguesa é o seu refúgio e Portugal o seu país adoptivo. Seguiu os passos da sua mãe, mas não deixou de transformar o estabelecimento e imprimir o seu cunho pessoal.
Quais são as suas memórias mais remotas do hotel Vila Joya?
Em primeiro lugar, não é um hotel, mas sim um lar. Subir ao telhado em criança – adorava isso. Existe uma janela oval no topo do lobby e do telhado conseguimos sentarmo-nos nessa janela e ver o que se passa lá em baixo. Estar sempre na cozinha com os chefs. Tomar conta de crianças, quando eu também era uma criança: a minha mãe sempre quis que eu fizesse as refeições com as outras crianças no Vila Joya antes de os adultos comerem, para que nós pudéssemos brincar e eles pudessem jantar sem as crianças. Tínhamos uma mesa no jardim e serviam-nos sempre sopa. Crianças e sopa – acho que não preciso de dizer mais nada. Tive a ideia de dar a maravilhosa sopa às plantas que estavam na colina junto à nossa mesa. Assim que o empregado saía, corríamos todos até à colina e deitávamos a sopa fora… Hoje ainda acredito que as plantas nesse lado da colina são tão bonitas graças ao nosso “tratamento especial”.
Quando ficou responsável pela gestão do Vila Joya e porque decidiu assumir essa responsabilidade?
Com 26 anos, em 2003. A minha mãe adoeceu com cancro em 1996 e, infelizmente, a doença evoluiu muito depressa e acabou por falecer no início de 1997. Prometi-lhe que tomaria conta do seu bebé – o Vila Joya. Depois de ter terminado a escola em Munique, comecei a aprender o negócio da hotelaria através de estágios em Paris e em Nova Iorque, de um curso intensivo de Gestão e Operação Hoteleira na Suíça e de uma formação em Gestão na Índia, onde conheci a minha diretora-geral, Sue, com quem trabalho desde janeiro de 2017. Antes, aceitei duas propostas de trabalho na Bélgica, uma na área de finanças e contabilidade, outra para a pré-abertura de uma propriedade enquanto assistente da direção e de recursos humanos, em Bruxelas. Depois o meu pai ligou-me a dizer que uma funcionária da receção estava grávida e que precisava que eu regressasse ao Vila Joya. Primeiro frequentei um curso de português, em Lisboa, porque não dominava a língua e, dois meses depois, rumei ao Algarve.
“Encontrar pessoas está a tornar-se um desafio para todos os departamentos.”
Quais as principais mudanças que introduziu?
O Vila Joya era muito mais íntimo, com 17 quartos. Temos uma propriedade ao lado a funcionar, com mais suites e um spa. Depois do “Tribute to Claudia” e do prémio no World’s 50 Best Restaurants, o restaurante passou a ser muito mais conhecido e popular. Aumentámos o número de funcionários e o turnover. A decoração mudou muito. Construímos uma nova cozinha com o Kitchen Table. Ah, e o nosso novo restaurante de praia, o Vila Joya SEA, bem como o meu adorado Xiringuito Beach bar, um bar de praia que muda de decoração todos os anos.
Quais os desafios de gerir um hotel de 5 estrelas, um restaurante com 2 estrelas Michelin e um spa?
Sem dúvida, o staff é um grande desafio. Encontrar pessoas também está a tornar-se um desafio para todos os departamentos. O empenho constante em melhorar e em não deixar que a qualidade diminua. Concentrarmo-nos em todos os pequenos detalhes a toda a hora. Os custos da comida e da qualidade são também uma questão a ter em atenção e a trabalhar.
“Gostaríamos de ser o melhor sítio do mundo para trabalhar.”
Dez anos depois do festival gastronómico Tribute to Claudia, por que razão decidiu não o fazer novamente?
Fomos, entre outros na Europa, mas os primeiros em Portugal a organizar festivais de comida. Tivemos connosco os chefs mais incríveis. Hoje em dia muitos restaurantes estão a fazer o mesmo. É algo que já não me desafia. E penso que, 10 anos depois, esta é uma boa altura para parar, repensar e criar um conceito diferente.
Quais são os seus projetos para o futuro?
Adorava fazer uma horta – uma horta ecológica que respeite as estações do ano e o local onde estamos, que não sirva apenas para cultivar coisas para a cozinha e flores. Gostaríamos de ser o melhor sítio do mundo para trabalhar.
O que é melhor em Portugal do que em qualquer outro lado do mundo?
A luz. O oceano. As pessoas. O peixe.
E o que é melhor na Alemanha do que em qualquer outro lado do mundo?
O pão. As árvores. As estações do ano.