Esta é uma das questões mais prementes da política económica atual. Não é apenas um problema da América. É uma questão difícil para a Grã-Bretanha e para outras grandes economias, da Alemanha ao Japão. Depois de descontada a inflação, para o trabalhador médio da América os salários estão estagnados há 40 anos. No Reino Unido tem havido uma queda sem precedentes dos rendimentos reais desde a crise financeira global de 2008. Na Alemanha e no Japão, os salários de nível médio auferidos pelas pessoas situadas a meio da cadeia de distribuição do rendimento estão estagnados há cerca de duas décadas.
Com a recuperação económica em curso nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, o desemprego desceu drasticamente para níveis de longo prazo inferiores a 5%. Assim, parece que o emprego recuperou da recessão. Um mercado de trabalho mais saudável normalmente significa haver emprego e também melhores salários. No entanto, enigmaticamente, os salários não estão a crescer bem.
Não é aquilo que os modelos de mercados laborais perfeitamente concorrenciais teriam previsto. Nestas teorias, é pago aos trabalhadores o valor da sua produção, por isso, os seus salários não seriam baixos se a economia estivesse a crescer e houvesse maior procura daquilo que eles produzem. Mas, como Joseph Schumpeter disse, a concorrência é uma das construções irrealistas da economia, que ajuda a resolver equações matemáticas, mas não é como o mundo real funciona.
Joan Robinson é vista como “a mulher mais importante da história do pensamento económico”. O seu lugar entre os Grandes, especialmente numa altura em que havia poucas mulheres economistas, é notável.
Joan Robinson rejeitou a concorrência perfeita e procurou explicar de que modo as imperfeições podem levar às discrepâncias nos salários e no emprego realmente observadas nos mercados. Por causa do seu trabalho pioneiro, Joan Robinson é vista como «a mulher mais importante da história do pensamento económico». O seu lugar entre os Grandes, especialmente numa altura em que havia poucas mulheres economistas, é notável. Mesmo agora, as mulheres estão substancialmente sub-representadas na profissão de economista. Em mais de 50 mil economistas académicos no mundo inteiro, menos de um quinto são mulheres.
O primeiro livro de Robinson, The Economics of Imperfect Competition [A Economia da Concorrência Imperfeita] foi publicado em 1933 e trouxe-lhe reconhecimento internacional. O seu manuscrito pioneiro foi concluído apenas três anos depois de ela ter iniciado os seus estudos de teoria económica. Esta obra veio alterar o nosso modo de pensar acerca da forma como são determinados os preços e os salários. Robinson analisou a determinação dos preços em condições monopolistas, em que há um poder de monopólio e mercados concorrenciais menos que perfeitos. Por outras palavras, os mercados não estavam cheios de empresas demasiado fracas para influenciarem a indústria, os preços dos bens ou o vencimento dos trabalhadores. Robinson argumentava que, onde havia concorrência imperfeita, era pago aos trabalhadores menos do que o valor de mercado do seu trabalho. Amplamente lido em ambos os lados do Atlântico, o livro depressa se tornou um texto-padrão neste novo campo de investigação da concorrência imperfeita. Foi reeditado 13 vezes entre 1933 e 1965.
O trabalho de Robinson seguia o pensamento keynesiano, por isso contestava a noção económica neoclássica dos mercados perfeitamente concorrenciais. Por outras palavras, Joan Robinson tomou o partido de John Maynard Keynes contra o seu antecessor de Cambridge, Alfred Marshall. No ano a seguir ao aparecimento de A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de Keynes, em 1936, Robinson publicou Essays in the Theory of Employment [Ensaios sobre a Teoria do Emprego], que aperfeiçoou e aprofundou as ideias de Keynes, concretamente no que respeitava ao mercado de trabalho. A esse trabalho seguiu-se outro livro, Introduction to the Theory of Employment [Introdução à Teoria do Emprego], impressionantemente no mesmo ano. Foi o primeiro manual a enraizar na economia os conceitos keynesianos.
Embora tivesse sido uma seguidora de Keynes, mais tarde concluiu que nem a economia neoclássica nem a keynesiana eram capazes de explicar os resultados económicos de longo prazo. Mas ela considerava que a economia keynesiana era a que tinha melhores hipóteses. Por isso, a sua última grande obra tentou explicar o modo como as economias se desenvolvem. Publicado em 1956, The Accumulation of Capital [A Acumulação de Capital] apresentava uma teoria sobre como a acumulação de capital na economia, que consiste no investimento das empresas e do governo, se altera com o tempo, numa tentativa de explicar melhor a dinâmica do crescimento a longo prazo.
Embora fosse uma economista influente e prolífica já nessa altura, com um histórico de publicações que se estende de 1932 até dois anos após a sua morte, em 1983, nunca foi agraciada com o mais alto prémio da economia. Paul Samuelson, um dos laureados, afirmou: «Fiquei surpreendido por ela nunca ter recebido o Prémio Nobel.»
Robinson foi coberta de honrarias no decurso da sua longa carreira. Mas também não escapou à controvérsia. Embora fosse uma economista influente e prolífica já nessa altura, com um histórico de publicações que se estende de 1932 até dois anos após a sua morte, em 1983, nunca foi agraciada com o mais alto prémio da economia. Paul Samuelson, um dos laureados, afirmou: «Fiquei surpreendido por ela nunca ter recebido o Prémio Nobel.» E acrescentou: «Foi uma figura muito polémica, mas também muito importante.» O nome de Robinson foi considerado pela Academia Sueca em meados da década de 1970, e aparentemente esteve na lista dos finalistas, mas foi repetidamente passada para trás.
As possíveis razões por que ela passou do círculo restrito dos mais chegados a Keynes para uma pessoa alheia a esse grupo são de diversa natureza. Além do crescente ceticismo quanto à economia keynesiana, Joan Robinson chegou mesmo a rejeitar o seu próprio trabalho inicial radicado no keynesianismo, à medida que procurava respostas para o longo prazo. Ela rejeitava também o enfoque matemático da economia que gradualmente emergira, liderado por Irving Fisher e outros, como foi abordado em capítulos anteriores. Um dos seus ditos favoritos era: «Nunca aprendi matemática, por isso fui obrigada a pensar.»
Quando foi abordada para integrar a direção da Associação Econométrica, Robinson recusou com o fundamento de que não era capaz de ler os artigos altamente técnicos publicados pela principal publicação da casa, a Econometrica, que versavam sobre quantificação e teoria.
Ter escrito um livro acerca da economia de Marx, enquanto se continuava a afastar do keynesianismo, também contribuiu para sua marginalização do círculo dos economistas da corrente dominante. E o seu apoio aos regimes comunistas da China e da Coreia do Norte não a tornaram popular. Robinson não escondia as suas convicções – até se vestia como uma camponesa vietnamita para dar as suas palestras. Em parte, isto era provavelmente também um reflexo dos desafios que ela enfrentava numa era e numa profissão dominadas por homens. Contudo, Joan Robinson foi uma pioneira ao introduzir na economia a concorrência imperfeita, um conceito que transformou fundamentalmente este campo de estudo. Como Robinson observou, certa vez: «A matéria de estudo da economia é nada mais, nada menos do que a sua própria técnica.» Robinson ofereceu aos economistas as técnicas e as ferramentas para ajudar a analisar o problema dos baixos salários, entre outros.
A vida e a época de Joan Robinson
Joan Robinson (com o apelido de solteira Maurice) nasceu no seio de uma família de elite, no condado de Surrey, em 1903. O pai era baronete e foi major-general do Exército britânico na Primeira Guerra Mundial. O seu avô fora um famoso cirurgião, que dava aulas na Universidade de Cambridge, onde ela estudou e construiu a sua carreira.
Robinson estudou economia no Girton College, tendo-se licenciado em 1925 sem grande distinção e com louvor de segunda classe [classificação média]. No ano seguinte, casou-se com Austin Robinson, que viria a tornar-se um importante professor de Economia em Cambridge e editor do Economic Journal [Diário Económico], mas ainda assim iria ser ofuscado por Joan. Os dois mudaram-se para a Índia durante dois anos, assumindo o marido o cargo de tutor do jovem marajá de Gwalior, no estado indiano de Madhya Pradesh.
Quando o marido regressou à Universidade de Cambridge, Joan começou a assistir às palestras de Piero Sraffa sobre «teoria avançada do valor», que era a expressão-padrão para designar o que hoje descreveríamos como teoria daquilo que determina os preços numa economia. No artigo de Sraffa no Economic Journal, em 1926, este abandonava radicalmente a presunção dos mercados concorrenciais e focava-se nos monopólios. Antes desta altura, a teoria do monopólio era usada apenas para analisar empresas com uma posição dominante no mercado, tais como os fornecedores de serviços básicos e os caminhos de ferro. Depois do seu artigo, cresceu o interesse pela análise dos mercados concorrenciais imperfeitos. O seu trabalho estimulou a investigação entre os economistas de Cambridge e outros, incluindo a da própria Robinson, que viria a estabelecer a concorrência imperfeita como um novo ramo da economia.
Os diagramas de Robinson baseavam-se em observações empíricas de como os mercados realmente funcionavam, que era de uma forma menos que perfeita e resultava em salários inferiores ao que a produção de um trabalhador justificava.
Não eram tempos fáceis para economistas mulheres. Em 1881, as alunas de Girton e Newham, as duas faculdades de Cambridge para mulheres, obtiveram permissão para se proporem a exames com louvores e obter uma avaliação dos seus trabalhos, que eram os mesmos então fixados para os homens. Mas não receberiam o diploma. Cambridge era a única universidade britânica onde as mulheres continuavam a estar excluídas da função de leitoras e de cargos na administração. Foi preciso chegar a 1925, ano em que Robinson se licenciou, para que as mulheres pudessem assumir cargos na universidade. Mas continuavam a não poder ser membros académicos das faculdades masculinas, que compunham o cerne do ensino e da investigação de Cambridge.
A acrescentar aos obstáculos enfrentados pelas mulheres em Cambridge, Robinson merecera uma licenciatura com um louvor abaixo da primeira classe. Foi obrigada a publicar a matéria de investigação para fazer o lugar de uma dissertação académica bem-sucedida de modo a estabelecer a sua reputação como economista de peso. Enquanto mulher da classe média-alta, Robinson podia contratar empregadas domésticas e, deste modo, tinha tempo para fazer investigação. No espaço de apenas um ano e meio, entre março de 1931 e outubro de 1932, concluiu o que viria a ser um livro pioneiro, A Economia da Concorrência Imperfeita.
Ao pensar nas empresas com posição de monopólio, Robinson reformulou a teoria sobre os fatores que determinam os preços em mercados concorrenciais menos que perfeitos. Ao fazê-lo, pôde reconciliar os dois lados da economia. De um lado estavam aqueles que usavam digramas para estabelecer relações teóricas precisas, por exemplo, preços e quantidade. Do outro lado estavam os empiristas, que consideravam que os dados superavam a teoria. Os diagramas de Robinson baseavam-se em observações empíricas de como os mercados realmente funcionavam, que era de uma forma menos que perfeita e resultava em salários inferiores ao que a produção de um trabalhador justificava.
Keynes até prefaciou a Introdução à Teoria do Emprego de Robinson, que foi o primeiro manual de economia keynesiana.
Outro fator na ascendência de Robinson ao cerne económico de Cambridge foi a sua relação com o economista desta mesma universidade, Richard Kahn. Em 1930, os dois foram partilhando ideias. No ano de 1931 iniciaram um caso amoroso. Foram descobertos por, nada mais, nada menos que John Maynard Keynes: «No início de 1932, Keynes surpreendeu-os no chão do estúdio de Kahn: “Embora eu suspeite”, disse ele à mulher, Lydia, “que a conversa versava apenas sobre A Teoria Pura do Monopólio.”»
As gravidezes de Robinson, em 1934 e 1937, de duas filhas, não pareceram alterar a sua relação. Em 1938, Robinson sofreu um esgotamento nervoso, pelo que ela e o marido começaram a levar vidas separadas. Em 1952, ela sofreu outro esgotamento, embora menos severo do que o primeiro.
Richard Kahn poderia ter sido um potencial candidato no desenvolvimento de uma nova teoria da concorrência imperfeita. Em vez disso, tornou-se um apoiante. Kahn era um protegido de John Maynard Keynes. Robinson juntou-se a ele, ao marido, a Sraffa e a James Meade naquilo que era conhecido como o «circo». Em 1935, Joan pertencia a este grupo de cinco economistas em quem Keynes confiou para obter feedback sobre A Teoria Geral. Isto colocava Joan Robinson no centro da discussão de economia em Cambridge. Keynes até prefaciou a Introdução à Teoria do Emprego de Robinson, que foi o primeiro manual de economia keynesiana.
Apesar da sua distinta posição elevada, Joan Robinson enfrentava concorrência ao reivindicar-se como líder de um novo campo de investigação.
Em 1934, Robinson havia sido nomeada, em part‑time e à experiência, para a função de leitora de uma cadeira na Universidade de Cambridge. Em 1937 passou a leitora estagiária em full‑time, o que levou a que se tornasse responsável por essa cadeira com carácter de permanência no ano seguinte. Robinson encontrava-se entre alguns dos mais influentes economistas da época. Em 1938, o estudo económico em Cambridge era liderado por Keynes, Sraffa e Kahn. A par destes, havia ainda J. R. Hicks e A. C. Pigou. John Hicks haveria de receber mais tarde tanto o título de cavaleiro como, em 1972, o mais elevado prémio de economia – partilhou o Prémio Nobel com Kenneth J. Arrow pelo trabalho de ambos na introdução de conceitos do estado-providência na economia, tais como a avaliação de como a utilidade ou felicidade das pessoas é afetada pelas opções económicas. Arthur Pigou desenvolveu mais plenamente a ideia de «externalidades», os custos ou benefícios para os outros que não são contabilizados, por exemplo, por um poluidor ou por uma pessoa que plante árvores. Um imposto pigouviano é um tributo que é imposto ao poluidor para fazer com que ele internalize o custo social das suas atividades poluentes.
Apesar da sua distinta posição elevada, Joan Robinson enfrentava concorrência ao reivindicar-se como líder de um novo campo de investigação. Edward Chamberlin, da Universidade de Harvard, publicou The Theory of Monopolistic Competition [Teoria da Concorrência Monopolista] três meses antes de A Economia da Concorrência Imperfeita de Robinson. Mas durante uma discussão numa mesa-redonda realizada na sessão de dezembro de 1933 da Associação Americana de Economia (AEA – American Economic Association) sobre aquele tópico, os participantes adotaram o conceito de Robinson, e não o de Chamberlin, para fixar os parâmetros do novo domínio de investigação. Robinson foi favorecida pelas visitas de Kahn às universidades americanas, que alargaram o leque de referências de consulta de Robinson no seu livro, quando comparadas com as de Chamberlin. No entanto, Edward Chamberlin viria a desenvolver a fecunda área de estudo da organização industrial, que investigava questões como a interação oligopolista, que analisava a forma como umas poucas empresas são capazes de dominar uma indústria, por exemplo, o setor das companhias aéreas. Robinson haveria de desenvolver a sua abordagem mais teórica no campo da economia do trabalho, ao invés de no da teoria da empresa. Curiosamente, um dos participantes na discussão dos estudos apresentados era o próprio Chamberlin e a mesa-redonda foi presidida por Joseph Schumpeter. Este, mais tarde, iria recomendar Robinson para membro honorário da AEA: «Eu sei que me considerarão como estando a pisar o risco se, neste país antifeminista, sugerir que se distinga uma mulher, mas a senhora Joan Robinson teve um bem merecido sucesso internacional com o seu livro A Economia da Concorrência Imperfeita, em 1933. Em virtude disso, ela detém uma posição de liderança numa das mais populares linhas de progresso.»
A ascensão de Joan Robinson como líder mundial em economia foi impressionantemente rápida. Em 1930, ela era apenas a mulher de um membro de uma faculdade de Cambridge. No final dessa década, tornar-se-ia uma economista internacionalmente respeitada que estava no centro da revolução keynesiana.
O livro seguinte de Robinson complementou e expandiu a Teoria Geral de Keynes. Em março de 1936, apenas um mês depois de ter surgido o livro de Keynes, Robinson publicou um artigo intitulado «The Long-Period Theory of Employment» [«A Teoria do Período Prolongado do Emprego»]. Uma vez que as hipóteses de Keynes se focavam no curto prazo, Robinson ampliou o trabalho dele para analisar as condições a longo prazo. Em junho do mesmo ano, apareceu outro artigo, «Disguised Unemployment» [«Desemprego Disfarçado»], que de novo expandiu a economia keynesiana. Keynes alegava que uma procura insuficiente resultava em trabalhadores desempregados. Robinson postulava que, quando os trabalhadores são despedidos, aceitam empregos menos produtivos de modo a poderem sobreviver, nem que tenham de vender caixas de fósforos nas esquinas. Embora estejam tecnicamente empregados, tal emprego era, na verdade, um desemprego disfarçado, o que significava que a taxa de desemprego oficial não contava a história completa. Os Ensaios sobre a Teoria do Emprego de Robinson, publicado em 1937, exploraram mais aprofundadamente os problemas em torno do emprego que foram levantados na Teoria Geral.
A ascensão de Joan Robinson como líder mundial em economia foi impressionantemente rápida. Em 1930, ela era apenas a mulher de um membro de uma faculdade de Cambridge. No final dessa década, tornar-se-ia uma economista internacionalmente respeitada que estava no centro da revolução keynesiana. Contudo, só foi nomeada professora catedrática na Universidade de Cambridge em 1965, o ano em que o marido se retirou da sua cátedra.
Joan Robinson publicou o seu último grande trabalho em 1956. A Acumulação de Capitalera um estudo dos modelos de crescimento económico que se afastou das abordagens-padrão keynesianas e neo-clássicas para obter um entendimento mais profundo quanto ao motivo por que alguns países prosperam. Tal como as suas outras investigações, este trabalho é de leitura muitíssimo fácil, especialmente porque Robinson apresenta os seus argumentos recorrendo a diagramas e figuras, em vez de a equações e complexos modelos matemáticos. Prosseguindo nestes moldes, o seu trabalho da década de 1960 moveu-se cada vez mais na direção dos problemas do desenvolvimento económico, especialmente na Índia, mas também na China e na Coreia do Norte.
Robinson não empreendeu apenas esta nova direção na sua investigação. Também analisou os alicerces da economia, como aconteceu no seu livro de 1962, Economic Philosophy [Filosofia Económica], onde sarcasticamente observou: «Durante todo o tempo, [a economia] tem-se esforçado por fugir ao sentimento e conquistar para si própria o estatuto de ciência.» E acrescentou: «[…] não tendo um método experimental, os economistas não são forçados, de maneira suficientemente rigorosa, a reduzir conceitos metafísicos a termos falsificáveis e não podem obrigar-se uns aos outros a chegar a acordo quanto ao que tem sido falsificado. Por isso, a economia lá vai coxeando, com um pé nas hipóteses não testadas e o outro em lemas intestáveis.»
Ainda assim, Robinson via a tarefa dos economistas como a de «resolver, o melhor que conseguir[em] esta mistura de ideologia e ciência. Não serão [por nós] encontradas respostas simples para as questões que ela levanta».
Uma vida notável
Não restam dúvidas de que a investigação de Robinson tem ajudado os economistas a descortinar algumas das respostas a questões como a razão por que os salários não se comportam como foi previsto pelos mercados perfeitamente concorrenciais. Mas, como ela também sub- linha, sem acesso a provas científicas como acontece nas ciências naturais, a análise económica não pode oferecer respostas definitivas. O melhor a que podemos aspirar é ser conduzidos por modelos mais realistas do mercado de trabalho. Deste modo, Robinson aponta uma das razões por que todos devíamos estudar economia: «O propósito de estudar economia não é para obter um conjunto de respostas prontas a usar para as questões económicas, mas para aprender a forma de evitarmos ser enganados pelos economistas.»
Joan Robinson morreu em 1983, após uma vida longa e influente. O seu trabalho proporcionou uma forma completamente nova de olharmos para os mercados, ao rejeitar as perspetivas convencionais quanto aos salários e outros assuntos baseadas na convicção irrealista da existência de uma concorrência perfeita. Tais mercados não existem realmente, mas os salários baixos sim.
A solução para o problema da remuneração é, não surpreendente-mente, complexa, como seria de esperar no complicado mundo de Robinson de concorrência imperfeita, exploração dos trabalhadores e resultantes baixos salários. Ainda assim, para os trabalhadores que têm trabalho, trata-se de um problema que pode ser resolvido. Como Robinson comentou: «A infelicidade de se ser explorado por capitalistas não é nada quando comparada com a infelicidade de não se ser explorado de todo.»
Os grandes economistas
Desde os tempos de Adam Smith que os economistas trabalham com uma série de problemas recorrentes, mas nem sempre a sua abordagem é fácil de compreender. Nesta obra, a prestigiada economista Linda Yueh explica o pensamento-chave dos maiores economistas da história, como fomos influenciados pelo seu trabalho e, principalmente, que resposta dariam aos desafios políticos e económicos dos dias de hoje.
À luz dos problemas económicos atuais e, em particular, do crescimento económico, Yueh explora os princípios de economistas como Adam Smith, David Ricardo, Joan Robinson, Milton Friedman, Douglass North e Robert Solow. Ao longo da obra, surgem questões como: o que dizem as ideias de Karl Marx sobre o provável futuro da economia chinesa? De que forma o trabalho de John Maynard Keynes, defendendo os gastos do governo para criar o pleno emprego, nos faz refletir sobre o investimento do Estado? E o que podemos aprender sobre questões fraturantes como o Brexit e o governo de Trump?Linda Yueh é fellow em Economia na Universidade de Oxford, professora adjunta de Economia na London Business School e fellow visitante no centro de pesquisa LSE IDEAS. Foi conselheira, entre outros, do Fórum Económico Mundial em Davos, do Banco Mundial e da Comissão Europeia. Foi correspondente da área de negócios da BBC News e editora de economia da Bloomberg TV. Escreve regularmente para jornais como The Times, The New York Times e Financial Times. Este é o seu primeiro livro e foi considerado Livro de Negócios do Ano pelo The Times e um dos melhores livros de não ficção da revista Newsweek.