“A infertilidade é uma doença que afeta 1 em cada 6 pessoas, em Portugal”

Adiar a maternidade, por opção ou por infertilidade, e o impacto na carreira foi o tema da palestra de Teresa Almeida Santos, coordenadora do Departamento de Ginecologia, Obstetrícia, Reprodução e Neonatologia do CHUC, na Executiva Women's Health Conference.

Teresa Almeida Santos, coordenadora do Departamento de Ginecologia, Obstetrícia, Reprodução e Neonatologia do CHUC.

Pela primeira vez, a Executiva realizou a Executiva Women’s Health Conference, que reuniu médicas e executivas para falarem sobre temas da saúde da mulher e como impactam a sua carreira e vida pessoal. A fertilidade e a infertilidade foi um dos temas abordados.

A fertilidade está na ordem do dia, seja pelo adiamento da maternidade ou pela dificuldade em engravidar. As mulheres são mães mais tardiamente, adiando “a decisão de ter filhos para a quarta década de vida. Se nos anos 70, o primeiro filho nascia aos 24 anos, agora nasce, em média, aos 31 anos”, destaca Teresa Almeida Santos, coordenadora do Departamento de Ginecologia, Obstetrícia, Reprodução e Neonatologia do CHUC, durante a sua palestra sobre “(In)fertilidade e carreira”.

O número de mães de primeira viagem com mais de 40 anos quase triplicou na última década, atingindo os 5,3% em 2020. Adiar a decisão de ter filhos “significa o desejo de compatibilizar a maternidade com a carreira, de prolongar o tempo de estudos, de procurar as condições ideais para constituir família”, explica Teresa Almeida Santos, que considera 31 anos, “uma ótima idade para ter filhos”, o problema, diz, é que “muitas mulheres adiam para bem mais tarde e algumas são confrontadas com uma situação de infertilidade, quando decidem ter filhos.” Outro alerta deixado por esta especialista foi o número médio de filhos por mulher, que é hoje de 1,3, quando o mínimo para assegurar a renovação das gerações é de 2,1. “Temos um gap de fertilidade de 0,8 filhos, o que vai ter consequências a breve prazo, com um envelhecimento populacional muito acentuado, não havendo pessoas para sustentar quem vai estar na reforma.”

 

“As mulheres com mais de 35 anos que estejam a tentar engravidar há mais de seis meses, não devem esperar um ano para consultar o médico.”

 

Considerada já o tabu do século, a infertilidade é apontada como um problema de saúde pública em França, da tal forma que o Estado francês oferece a todos os jovens franceses, aos 25 anos, uma consulta para discutir e planear o risco de infertilidade e sobre comportamentos que a podem provocar. “O presidente Macron está a investir no rearmamento demográfico, como lhe chama, e proporciona a todas as mulheres francesas dos 29 aos 37 anos a possibilidade de congelarem ovócitos para assegurarem a maternidade numa fase mais tardia, o que é completamente revolucionário. Uma realidade que está longe de nós, e a qual negamos um pouco”, partilha a especialista.

Em Portugal, “a infertilidade é hoje uma doença que afeta 1 em cada 6 pessoas, quando um estudo feito em 2009 apontava para uma prevalência de 1 em cada 10”, sendo que aos 35 anos o “potencial reprodutivo cai de forma determinante e as técnicas de fertilidade têm taxas francamente menores e se algo há algo a fazer, deve ser feito antes”, alerta Teresa Almeida Santos, chamando a atenção para as mulheres “com mais de 35 anos que estejam a tentar engravidar há mais de seis meses, não devem esperar um ano para consultar o médico. E esta não é uma mensagem que passe, não sendo sequer uma mensagem que esteja muito presente nas unidades de cuidados de saúde primários e nos médicos de família.”

Encarada por muitos como um problema da mulher, a infertilidade pesa cada vez mais nos homens, e “tem aumentado de forma assustadora, em parte, devido a exposições ambientais e não podemos esquecer que o homem é uma parte essencial no projeto de fertilidade e também deve estar atento e ser estudado.”

A fertilidade tem um limite natural, afirma, estando esgotada “habitualmente, 10 anos antes da menopausa.” E se o potencial reprodutivo é determinado por fatores genéticos e ambientais, há comportamentos que podem acelerar este envelhecimento ovárico, “alguns dos quais a que não podemos fugir, porque todos estamos expostos”, e pôr em causa a fertilidade. Esta especialista dá como exemplo os estrógenios que podem ser também um tóxico ambiental, explicando que “há muitos milhões de mulheres a tomar estrógenios, quer na pilula contracetiva quer como THS, que são eliminados na urina, a qual vai para os rios. E a água que bebemos já vem com estrógenios, que não mitigam os efeitos da menopausa, mas que têm impacto sobre o aparelho reprodutivo feminino e masculino. É também por esta razão que a infertilidade está a aumentar.”

 

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