Há quem diga que não há receitas infalíveis para alcançar o êxito e quem faça dele uma meta mística, apenas acessível aos mais iluminados e bafejados pela sorte. Mas afinal é tudo mais científico do que pensamos. Num artigo publicado no blog da TED Ideas, o físico Albert-László Barabási apresentou uma equação matemática que explica o sucesso:
S = Qr .
Ou seja: o sucesso (S), seja ele de um negócio ou de uma descoberta científica, é o produto do potencial de uma determinada ideia (r) e da capacidade humana para a sua execução (Q, a combinação certa de skills e talento inato numa pessoa). A equação explica-se bem até para quem nunca foi muito forte a matemática, diz Barabási. “Se um indivíduo com um fator Q pequeno tem uma ideia com um potencial r elevado, o impacto será medíocre, ainda assim. Excelente ideia, execução pobre. O inverso também acontece: uma pessoa criativa, com um fator Q alto, pode lançar vários produtos fracos ou medíocres — ou com um r fraco. Se uma ideia tiver um valor r baixo, não interessa o quão alto é o fator Q, esse produto será banalizado. Excelente execução, ideia pobre.”
Ocasionalmente, acontece uma espécie de “tempestade perfeita” para o sucesso, quando uma ideia genial nasce de uma pessoa com uma ótima capacidade para a executar.
De que maneira é que esta informação pode, então, ser útil a quem está a tentar progredir na carreira ou a lançar um negócio? Segundo Albert-László Barabási, de duas formas. Por um lado, a fórmula matemática significa que as suas hipóteses de sucesso aumentam com a quantidade de ideias que lança. Nem todas serão geniais e o tal fator “r” não terá sempre o mesmo valor, mas a persistência e resiliência compensam. Depois, tendo consciência que onde reside verdadeiramente o seu fator Q.
Sucesso não depende da idade
O fator talento desta equação pode ser visto de duas perspectivas. Primeiro, a idade pouco tem a ver com as nossas hipóteses de sucesso, desde que tenhamos um alto fator Q. “Assim que a minha equipa e eu percebemos como medir o fator Q de um cientista, percebemos que ele se mantém inalterado ao longo da sua carreira”, explica Barabási. “Os dados são claros: todos nós começamos as nossas carreiras com um determinado fator Q, alto ou baixo, que mantemos até nos reformarmos. Tive alguma dificuldade em acreditar que eu fosse tão bom cientista aos 22 anos, quando publiquei o meu primeiro trabalho de investigação — aquele cujo impacto foi absolutamente nulo — como sou hoje. E vocês provavelmente também acham que não eram, nem de longe nem de perto, tão bons professores, escritores, médicos ou vendedores quando tinham 20 e poucos anos como são hoje. Porém, passámos seis meses a confirmar os nossos resultados e chegámos à mesma conclusão.”
Para o ilustrar, lembra um colega cientista da universidade de Yale, John Fenn, cujo primeiro trabalho revolucionário surgiu aos 67 anos, recebendo depois o Nobel da Química quando já era octogenário. Mas há exemplos em outras áreas e profissões: Nelson Mandela foi presidente aos 76, depois de 27 anos de prisão; Ray Kroc só aos 56 anos criou o império em que se tornou a McDonalds, e Julia Child tornou-se uma estrela depois dos 50, com os seus programas de culinária na televisão norte-americana.
A outra perspectiva — bem menos otismista, mas bastante mais realista — implica que, se o nosso fator Q para a área em que estamos a trabalhar não é elevado, provavelmente nunca alcançaremos êxito verdadeiro, por mais incessantemente que trabalhemos. Albert-László Barabási dá o seu próprio exemplo: quando andava na escola secundária, estava a preparar-se para ser escultor. Era a sua paixão, mas não tinha o talento necessário para ela. “Já nessa altura era melhor a física, por isso segui o meu fator Q.”
Jeff Bezos queria ser cientista quando foi estudar para a Universidade de Princeton. “A meio do caminho, percebi que não era assim tão inteligente para ser físico”, disse em entrevista à CNBC. Trocou para o curso de gestão, fundou a Amazon… e o resto são cifrões e presenças assíduas no topo da lista dos mais ricos do mundo.
Mais importante do que ter confiança é, por isso, um bom autoconhecimento sobre onde residem os nossos pontos fortes.