José António de Sousa é gestor aposentado depois de quatro décadas na liderança de multinacionais.
A palavra oxímoro define-se como um “recurso estilístico que consiste em reunir, no mesmo conceito, palavras de sentido oposto ou contraditório” (“silêncio expressivo”, por exemplo, é um bom exemplo). Oxímoro é uma palavra de origem grega que junta numa só as palavras oxys (arguto) e mórón (estúpido).
Quando falamos hoje em “ética no trabalho” (ou na política, ou na sociedade), dá-nos cada vez mais a nítida sensação de que estamos perante um oxímoro, ou seja que ética no trabalho, ou ética na política, ou ética nos negócios, ou ética na nossa vida particular, aparentam ser termos de sentido contraditório, ser conceitos incompatíveis. E no entanto mais do que nunca é absolutamente imperioso que os valores éticos voltem a ditar as regras de relacionamento dos humanos em sociedade a todos os níveis, se não quisermos acabar inevitavelmente numa distopia orwelliana, totalitária e opressora, num horizonte não muito longínquo.
O grau crescente de insatisfação nas sociedades com mais “sangue na guelra”, como os espanhóis ou os franceses (nós somos uns mansos, como “a tua tia”, dir-me-ia o Sócrates…), mostram-nos aquilo em que rapidamente uma cidade se pode transformar, um recinto de batalha campal, com pilhagens, vandalismo, incêndios, e muita violência animal cega, quando explodem as tensões acumuladas por anos de enganos e má gestão dos recursos públicos por parte da classe política governante.
Resulta claro para mim que, para sobreviver, o capitalismo precisa de se reinventar de forma mais inclusiva, em vez de continuar a aprofundar a clivagem cada vez mais gigantesca e selvagem entre ricos e pobres.
Um livro que me foi oferecido pelo então Presidente do BBVA em Portugal, Alberto Charro, um bom amigo que está hoje como representante do BBVA no Uruguay, permite-nos uma jornada extraordinária por este mundo fascinante da ética. Uma jornada que parece infindável, pois o livro, que se chama Values and Ethics for the XXI Century, fica a 17 páginas das 700, mas que nos prende do primeiro ao último minuto.
O tamanho do livro é consentâneo com o peso dos artigos de opinião que concentra, com autores de primeira linha a abordar temas em áreas como “Ética num mundo Global”, “Ética na Ciência e Tecnologia”, “Ética no desenvolvimento, pobreza e meio ambiente”, “Ética nos negócios” e, por fazer parte do meu ADN desde que comecei a trabalhar há mais de 40 anos, o capítulo que me pus a ler primeiro, começando o livro pelo fim: “Ética em Finanças”.
De todos os contributos, aquele que curiosamente mais “mexeu” comigo foi o preâmbulo escrito pelo conhecido filósofo e teólogo suíço, Hans Küng, Presidente da “Global Ethics Foundation”, um dos principais signatários do Manifesto “Global Economic Ethic Consequences for Global Businesses”, que vem publicado na íntegra no livro. Deste Manifesto, escrito por algumas das mentes mais brilhantes do nosso tempo, resulta claro para mim que, para sobreviver, o capitalismo precisa de se reinventar de forma mais inclusiva, em vez de continuar a aprofundar a clivagem cada vez mais gigantesca e selvagem entre ricos e pobres.
Este Manifesto foi apresentado em Outubro de 2009 na sede das Nações Unidas e, correndo o risco de ser injusto (estava ainda no ativo, e lia 7 jornais diários…), não vi ou ouvi então o que quer que fosse sobre o tema nos nossos media (OCS e TV). Talvez pelo ocupados que estávamos nessa altura a lidar com os primeiros casos escabrosos que começaram a surgir na nossa banca, logo a seguir à crise financeira de 2008, a saber os BPP e BPN de má memória, exemplos paradigmáticos das consequências nefastas que invariavelmente advêm para as instituições que cavalgam a falta de valores éticos na pratica quotidiana dos seus negócios! …
O livro (versão original em inglês) pode ser descarregado gratuitamente na íntegra em http://www.bbvaopenmind.com, assim como uma série de outros livros fabulosamente atuais da série BBVA OpenMind, que abordam temas cruciais para a gestão de qualquer companhia nos tempos difíceis e exigentes que atravessamos. Se alguém estiver interessado, mas tiver algum problema em descarregar o pdf do livro, com gosto o reencaminho via e-mail. Só precisam de o solicitar através do meu próprio e-mail, [email protected].
Para quem tem responsabilidades executivas, como é o caso da esmagadora maioria das leitores e leitores da Executiva.pt, um must read. Cada vez mais os consumidores demonstram uma clara tendência a comprar apenas e deliberadamente produtos de companhias comprometidas com valores e princípios éticos indiscutíveis, por um lado, e preocupações ambientais e sociais por outro.
Aplaudo fortemente esta onda crescente de consciência cívica, ética e ecológica dos consumidores, pois irão permitir que aquelas companhias que hoje em dia se movem exclusivamente pela maximização dos lucros, sem olhar aos meios para os obter, terão desaparecido em uma, máximo duas décadas.
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