Ainda não estava há um ano na Efacec Energia quando foi desafiada para integrar a equipa que ia abrir uma nova fábrica de transformadores de alta tensão nos Estados Unidos. Corria o ano de 2009, e Constança Oliveira e Sousa foi a mais nova e menos experiente do grupo de expatriados. Licenciada em engenharia eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico, e com um mestrado em Robótica e inteligência artificial, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), no Brasil, a jovem engenheira não receou a mudança de vida e aceitou o desafio.
A experiência nos Estados Unidos trouxe-lhe responsabilidades acrescidas, aguçando o seu forte espírito de empreendedora. Começou por dar apoio ao departamento de Planeamento e Controlo desta fábrica, e quatro anos depois já tinha responsabilidades sobre três importantes áreas: Planeamento e Controlo, Project Manager e Controller Operacional da fábrica. “Aprendi que a disponibilidade e motivação são os ingredientes mais importantes para se crescer numa empresa”, diz. A Efacec foi a sua rampa de lançamento – “uma escola de vida, porque foi o primeiro emprego e nada se passa como nas faculdades” –, mas depois de quatro anos, decidiu que estava na altura de consolidar conhecimentos para a sua grande ambição: gerir uma empresa. Queria mudar de indústria e a gestão era o seu maior apelo. Em agosto de 2013 cumpria um dos sonhos da sua vida, estudar em Harvard. Iniciava um MBA numa das melhores escolas de gestão do mundo, que lhe daria as bases essenciais que lhe faltavam para completar as competências que precisava de desenvolver: negociação, macroeconomia, estratégia, finanças, marketing e operações.
De volta à escola
Durante dois anos dedicou todo o seu tempo à formação e para conhecer outras indústrias fez visitas à banca de Londres, estágios em retalho na Colômbia, projetos de consultoria na Argentina. Assim que concluiu o curso recebeu uma proposta inesperada de trabalho, que a trouxe de volta a casa. Desde 2015 que Constança Oliveira e Sousa dirige, em Portugal, a Education First, a maior empresa privada de educação internacional, que ensina línguas em todo o mundo.
Aos 35 anos, a sua ambição é continuar a fazer crescer a EF Portugal – desde que se tornou country manager em Portugal, a EF abriu um escritório no Porto, aumentou o número de vendas e o número de alunos. A escola está preparada para formar jovens e adultos. Para os primeiros tem uma vasta oferta de cursos no estrangeiro em campos de férias e universidades. Aos adultos proporciona o enriquecimento do currículo, através de experiências internacionais e certificação de línguas – elementos diferenciadores em qualquer carreira.
A proposta da EF era irrecusável, pois alia duas paixões de Constança Oliveira e Sousa, viajar e estudar.
Sem medo de arriscar
Esta é a primeira vez que Constança assume uma direção geral, mas isso não a fez vacilar, pois nunca parou de investir na sua carreira. Ainda nos Estados Unidos, em Boston, Constança aliou-se à Portugal Ventures (sociedade de capital de risco que concentra a sua política de investimento em projetos inovadores de base científica e tecnológica, bem como em empresas com projetos de expansão internacional e do setor do turismo). Tornou-se parte do grupo de advisors, que avaliam os vários projetos que se candidatam aos fundos da PV, um desafio que lhe permitiu pôr em prática a sua formação em lançamentos de novas empresas, receber delegações portuguesas em Boston, investidores, assim como de visitar inúmeras startups, com grande potencial.
Atribui o sucesso da sua carreira a todas as experiências internacionais que teve, mas também à falta de medo de arriscar e à constante aprendizagem de novos conhecimentos – “never stop learning”, destaca. A relação entre as suas duas paixões – engenharia e gestão – pode não parecer óbvia, mas Constança prova o contrário. “A automação é algo que aplico todos os dias no meu trabalho e até nas mais pequenas coisas. Desde folhas de excel com fórmulas para tudo, a comandos para todos os candeeiros em casa. Tudo isso me poupa tempo, que é sem dúvida o bem mais valioso que tenho hoje em dia”, conclui.
O QUE APRENDEU FORA DE PORTUGAL
A experiência nos Estados Unidos ajudou Constança Oliveira e Sousa a valorizar as regalias laborais que a lei portuguesa prevê e a entender melhor as diferenças culturais entre os diferentes países.
“Parece um cliché dizer que só nos apercebemos da falta que nos fazem as coisas quando não as temos, mas é verdade”, realça, referindo-se aos 14 dias de férias por ano que existem nos Estados Unidos, versus os 22 em Portugal, e à licença de maternidade de 15 dias, ao invés, de 5 meses.
Na bagagem de regresso a Portugal trouxe também aprendizagens que não teria feito de outra forma. “Sei hoje que pelo facto de um mexicano ‘passar a vida em festas’ não quer dizer que não vai ser excelente no trabalho. Da mesma forma que se um colombiano chegar hora e meia atrasado a uma reunião não o faz por desleixo, mas muito provavelmente por causa do trânsito ou eventos inesperados na estrada, que acontecem todos os dias em Bogotá”, explica.
Estas aprendizagens contribuem para que Constança Oliveira e Sousa se sinta mais confortável na sua relação com pessoas de todo o mundo, e esteja como peixe na água na direção de uma empresa que há 50 anos transforma a aprendizagem linguística com o intercâmbio cultural.
