Todo o progresso começa com uma decisão corajosa. O progresso pessoal, profissional, coletivo, social, nasce da decisão que uma pessoa toma de agir, levantar‑se da cadeira, erguer a voz e fazer qualquer coisa, em geral, muito antes de haver qualquer garantia de sucesso. Outra coisa que a maioria das pessoas não consegue ver: a ação surge antes da coragem para agir. A ação gera a coragem e não o contrário.
A ação também gera motivação. Em vez de esperar pela inspiração, a ação implora‑lhe que continue.
Pense na prática do exercício físico. Nem sempre está para aí virado. De facto, pode muito bem não o querer fazer. Se prestar atenção à voz na sua cabeça, ouvi‑la‑á dizer qualquer coisa como, não estou para isso, sinto‑me cansado, não quero. Amanhã começo — contudo, se teimar em calçar os ténis e começar a mexer‑se, verá que acontece uma coisa muito curiosa. É como se uma força mais poderosa tomasse conta de si e, em poucos minutos, já se sente cheio de energia e vitalidade — ou até inspirado. Faça exercício físico vários dias de enfiada e PUMBA — instala‑se o efeito de dominó. Sem grande esforço, começa a desejar alimentos mais saudáveis, a beber mais água e, quem sabe, a ansiar pela próxima sessão. Podemos ver esse mesmo fenómeno em praticamente todos os atos criativos. Os corpos em movimento tendem a manter‑se em movimento. Fazer algo gera o desejo de continuar a fazê‑lo.
É por isso que esta prática de “começar antes de estar preparado” é tão fundamental para a filosofia de que tudo se resolve. Quando começa qualquer coisa antes de se sentir preparado, acaba com a inércia e ganha impulso. Isto aplica‑se a tudo o que queiramos concretizar. O impulso é o elixir secreto, que só se obtém de uma única forma: Tem de desobedecer à voz na sua cabeça que diz ainda não me sinto preparado.
Sabe porquê? Porque essa voz só diz balelas e é uma parasitazinha preguiçosa, choramingas e repetitiva que nos suga a vida. Essa voz — a que está sempre a dizer‑lhe que não se sente preparado, que não lhe apetece fazer isto ou aquilo, que é incapaz, incompetente e imprestável —, não é o leitor, nem diz a verdade. O único poder que tem é a atenção e a autoridade que lhe der. Tenha cuidado, pois a voz é astuta e tudo fará para o manter encarcerado na estagnação com mentiras lógicas e racionais.
Não é a melhor altura para isso. Preciso de esperar até que __________ aconteça. Se começar já, espalho‑me ao comprido. Não tenho conhecimentos para isso. Ainda não tenho tudo bem definido na minha cabeça. Só posso correr o risco de __________ quando souber se __________ poderá correr bem.
Essa voz só vira o disco e toca o mesmo. Só sabe contar a mesma velha e cansada lengalenga do quanto somos incompetentes. Não se deixe seduzir. Quanto mais rapidamente aprender a desobedecer‑lhe, mais depressa desenvolverá a capacidade de concretizar tudo e mais alguma coisa.
Quem fala assim?
Marie Forleo é uma das coaches norte-americanas de maior sucesso. É oradora motivacional, filantropa e apresentadora do MarieTV, um programa online premiado, visto em mais de 195 países e por dezenas de milhões de fãs. É fundadora da Marie Forleo International, empresa com a missão de ajudar pessoas de todo o mundo a desenvolver o seu próprio negócio. Antes de atingir o sucesso internacional como empresária, trabalhou na Bolsa de Valores de Nova Iorque, colaborou com o grupo editorial Condé Nast, foi produtora e coreógrafa na MTV, tendo-se tornado uma das primeiras atletas mundiais da Nike Elite Dance. O seu trabalho é elogiado por figuras como Tony Robbins, Richard Barnson, Oprah Winfrey, Elizabeth Gilbert e Seth Godin. O seu livro “Tudo se resolve – Treine o seu cérebro para enfrentar todos os desafios da vida” acaba de ser editado em Portugal pela 2020 Editora.
Como começar antes de estar preparada
A estratégia de “começar antes de estar preparado” é tal como se lê. Deixe de pensar e comece a fazer, mexa‑se, seja como for. Envie um e‑mail, inscreva‑se no curso, pegue no telefone, agende a reunião e tenha a conversa. O sonho de “viajar mais” não é, nem de perto, tão fácil de começar como “ir para o surf camp na Costa Rica neste verão”. Ao segmentar o seu sonho, torna os passos seguintes dolorosamente evidentes.
Os pontos que se seguem ajudam‑no a dominar a arte de começar antes de estar preparado:
1. Cuidado com a procrastinação disfarçada de investigação e planeamento.
Começar antes de estar preparado não significa que deva ser ignorante ou irrefletido. Dependendo da natureza do seu sonho e do quanto já sabe, talvez tenha de fazer algum trabalho prévio de investigação e planeamento. Por exemplo, para alcançar o seu maior sonho de falar espanhol a nível da conversação, nos próximos 12 meses, talvez seja melhor procurar cursos intensivos de línguas, aulas particulares e aplicações de ensino de línguas que possa descarregar. Isso será bom.
Mas atenção: um trabalho mais exaustivo de investigação e planeamento poderá ser uma forma de procrastinar. Poderá passar semanas, meses e até anos a “preparar‑se”, sem fazer quaisquer progressos reais e tangíveis. A pesquisa, sobretudo na Internet, poderá ser uma coisa especialmente traiçoeira. Já perdi a conta às horas e aos dias que perdi em investigações intermináveis que não iam dar a lado nenhum.
Lembre‑se de que não precisa de saber tudo sobre o seu sonho, nem de definir previamente todos os passos a dar. Deixe de se esconder atrás dos livros e do ecrã e passe a desenvolver o hábito de agir. Agende compromissos e tenha conversas a sério para aprender mais e progredir mais depressa. Comece antes de estar preparado. Comece antes de estar preparado. Comece… antes… de… estar… preparado.
Se tiver de investigar, faça-o, sem se distrair. A Internet é um campo de minas de distrações que devora insaciavelmente os nossos recursos mais preciosos: tempo e energia. O seu objetivo deverá ser sempre obter informação suficiente para dar o próximo passo ativo e mais nada. E nada de se fiar na força de vontade. As tentações dos links promissores, anúncios, notificações e e‑mails são demasiadamente irresistíveis. Fixe um objetivo bem definido para a sua pesquisa (a ÚNICA coisa que pretende aprender/descobrir/confirmar/executar) e estabeleça uma janela de tempo para o cumprir. Depois, acerte um temporizador, obtenha a informação necessária e faça o que tiver a fazer imediatamente.
2. Aposte forte e feio
Encontre uma forma de apostar o seu tempo, dinheiro e/ou ego. Crie objetivos que tenham consequências reais e dolorosas se não estiver sempre a avançar. A psicologia cognitiva e a teoria da decisão demonstram que nós, seres humanos, temos uma coisa que se chama aversão à perda, o que significa que preferimos evitar perdas a obter ganhos. Digamos que uma nota de 20 dólares cai acidentalmente do seu bolso e a perde. O impacto negativo de perder 20 dólares é muitíssimo superior ao impacto positivo de encontrar 20 dólares.
Uma forma de apostar forte e feio é fazer um compromisso financeiro. No início da minha carreira, tinha pavor de falar em público. Como sabia que era uma competência importante, aderi a um grupo Toastmasters local. O preço da adesão era de cerca de 50 dólares. Eu mal tinha para comer, por isso, apesar de querer realmente melhorar as minhas competências de oratória, não queria gastar tanto dinheiro. A verdade é que, quanto melhor conhecia o grupo, mais me dava com os outros membros e os contactos sociais que aí fiz também contribuíram para “apostar forte e feio” na concretização dos meus objetivos. Se faltasse às reuniões, sentir‑me‑ia culpada, envergonhada e embaraçada, o que servia para me incentivar ainda mais a ir sempre.
Existem ferramentas digitais ilimitadas para o ajudar a apostar forte e feio. Pesquise na Internet accountability apps + [ano atual], para descobrir uma abundância de opções incríveis com todos os tipos de funções. O formato básico consiste, mais ou menos, em definir um objetivo (por exemplo, escrever 500 palavras por dia, cinco dias por semana) e a multas financeira que pagará se não cumprir o processo à risca. Caso não aja, perderá esse dinheiro. Algumas aplicações permitem‑lhe inclusivamente decidir para onde vai o dinheiro que perde. Pode definir que esse dinheiro seja enviado para o seu pior inimigo, para uma instituição anticaridade ou uma qualquer organização que deteste. Assim, eleva a aversão à perda a outro patamar.
Independentemente do método que utilizar, aposte forte e feio para evitar a procrastinação. Não se ponha com tretas. Trata‑se da sua vida, pelo que deve fazer o que puder para começar já.
3. Valorize o crescimento e a aprendizagem acima do conforto e da certeza
À semelhança de muitos empreendedores que subiram a pulso, nos primeiros anos do meu negócio fiz tudo sozinha. Fui pau para todo o serviço, marketing e prestação de serviços, agendamento, faturação, atualizações de website, geração de conteúdos, correspondência eletrónica, apoio ao cliente… tudo e mais alguma coisa.
A certa altura, cheguei a um ponto de rotura. Era impossível responder a todas as solicitações. Sabia que tinha de contratar ajuda, mas tinha pavor de dar o primeiro passo. Dado ter muito poucos rendimentos, contratar alguém parecia‑me fora de questão. Além de que nunca tinha sido chefe de ninguém. Não sabia como arranjar tempo para os outros, para os contratar, formar, gerir ou delegar‑lhes trabalho.
Era tudo tão avassalador e desconhecido, mas tinha uma escolha crítica a fazer. Ou permanecia na minha zona de conforto e continuava a tentar fazer mais, nadar mais depressa e pedalar com mais energia ou crescia e aprendia a contratar alguém. Poderia começar antes de estar preparada e concretizar tudo.
Sabia, instintivamente, que se permanecesse muito mais tempo na minha zona de conforto, acabaria precisamente com aquilo que trabalhara tanto para construir e que era o meu próprio negócio. O passo seguinte era evidente. Tinha de começar a viver no que agora chamo zona de crescimento. Caso contrário, nunca teria a hipótese de ir para além do ponto em que estava.
Ainda que seja mágica, a zona de crescimento é um lugar assustador, mas só aí poderia aprender a ser chefe, a delegar e a desenvolver o meu negócio, para além de mim própria. Para entrarmos na zona de crescimento, teria de me mentalizar de que nada é seguro, de que teria muita inquietação e de que o mais certo seria espalhar‑me ao comprido — muitas vezes.
Adivinhe lá? Espalhei‑me mesmo. Fiz montes de erros. Inicialmente, contratei as pessoas erradas e era terrível a delegar. Estava mergulhada num mar de inseguranças, incerteza e lágrimas, mas assim que pus os pés nessa zona de crescimento, recusei‑me a desistir. Não havia volta a dar e lá chegaria o dia em que começaria, por fim, a acertar.
Na zona de conforto, onde a maioria das pessoas passa demasiado tempo, a vida parece segura. Mesmo que estejamos cheios de stress, pelo menos, sentimo‑nos seguros na familiaridade. Estamos habituados aos padrões, por mais disfuncionais que sejam. É o melhor que temos.
Tudo aquilo que sonhamos vir a ser, alcançar ou concretizar reside, porém, na zona de crescimento (também conhecida como zona de desconforto). Na zona de crescimento, sentimo‑nos garantidamente vulneráveis e inseguros, mas, para crescer, temos de renunciar (pelo menos, temporariamente) à necessidade de conforto e segurança, por um lado, e de aprender a valorizar o crescimento e a aprendizagem acima de tudo, por outro.
É na zona de crescimento que adquirimos novas competências e capacidades, que ganhamos força e conhecimento e produzimos novos resultados. Se aguentar o tempo suficiente na zona de crescimento, algo maravilhoso acontecerá. Essa zona de crescimento tornar-se-á a sua zona de conforto.
Todas as coisas que antes nos pareciam aterrorizantes, passam a deixar de nos afetar. A nossa confiança aumenta, fortalecendo‑nos, para enfrentarmos o próximo conjunto de desafios. Começamos a esperar e a aceitar a incerteza, a vulnerabilidade e a humildade em todas as experiências de aprendizagem. Este é um ciclo fundamental para dominarmos a filosofia de que tudo se resolve.
Quase tudo o que é preciso para tornarmos um sonho realidade exige novas competências, novas experiências e uma compreensão renovada. Temos de fazer coisas que nunca fizemos. Não é fácil começar o que quer que seja sem estarmos preparados, mas só assim poderemos criar a mudança.
A compreensão do desafio para a ação
- Recorde pelo menos um momento da sua vida em que, por escolha ou por força de circunstâncias fora do seu controlo (por exemplo, novo emprego, desemprego, mudança forçada, um nascimento ou uma morte, um divórcio, etc.), começou a fazer qualquer coisa sem estar preparado e acabou por obter bons resultados.
- Alguma vez protelou a ação, por estar convencido de que ainda não estava “preparado”, mas, assim que o fez, pensou, “afinal, não foi assim tão difícil. Porque é que não o fiz antes”?
- Responda depressa: no que se refere ao seu grande sonho, o que é que sabe que tem de fazer para começar antes de estar preparado? Que passo ativo lhe vem imediatamente à cabeça e ao coração? Esse sonho grande e assustador que sabe instintivamente que o fará descolar? Escreva‑o e leia‑o em voz alta.
- Como pode empenhar tempo ou dinheiro ou utilizar a responsabilidade social (por exemplo, pressão dos pares positiva ou medo da culpa, da vergonha e do embaraço) para dar o grande passo em direção ao seu sonho? Aposte forte e feio no processo e comece já a mexer‑se!