Aos 20 anos – e ainda a estudarem Gestão e Economia na faculdade – Lara Vidreiro e Filipa Neto concorreram ao concurso de empreendedorismo ‘Realize o seu sonho’, da Acredita Portugal, e ficaram em segundo lugar com uma ideia de negócio que partiu da sua própria experiência. Então e se pudéssemos ser Cinderelas por uma noite e usar um vestido de luxo, sem ter necessariamente de o comprar?
Criaram inicialmente uma primeira empresa, com o apoio de um business angel e focada apenas no mercado ibérico, mas rapidamente perceberam que poderiam voar mais alto e adaptaram-se a outro modelo de negócio, recorrendo a fundos de investimento. Em 2014 fundaram a Chic by Choice, uma plataforma digital de aluguer de vestidos e produtos de moda de grandes designers, com entregas em 24 horas na maior parte dos países europeus. Por uma fração do preço de venda, as suas clientes podem reservar criações de mais de 50 marcas consagradas como Valentino, Just Cavalli, Missoni, Diane von Furstenberg, BCBG Max Azria ou Alberta Ferreti.
Em 2015 trataram de adquirir as principais concorrentes: compraram a empresa rival alemã La Remia e os ativos (vestidos e bases de dados) de uma empresa no Reino Unido. Os resultados não se fizeram esperar: no último trimestre desse ano, o aluguer de vestidos cresceu 65%. Em junho de 2016 já tinham angariado dois milhões de euros em investimento.
Hoje, aos 26 anos, Lara e Filipa são um exemplo pouco comum em Portugal de empreendedorismo jovem no feminino. O mote pelo qual se regem diz muito sobre o seu estilo de liderança e a sua geração: “ouve toda a gente mas segue o teu instinto”. Hoje a sua startup é um caso sério de sucesso, com escritórios em Lisboa e Londres que dão trabalho a 16 pessoas nas áreas de marketing, apoio ao cliente, logística e desenvolvimento tecnológico. Falámos com Lara Vidreiro sobre os desafios de criar e fazer crescer uma startup e sobre o que define a geração millennial de consumidores e empresários.
Como surgiu a vossa ideia de negócio?
Nasceu de uma experiência pessoal, quando estávamos na faculdade e precisámos de um vestido para um baile de gala. Nesse exato momento descobrimos um problema que precisava de ser resolvido, “como usar um vestido de luxo só por uma noite sem gastar uma fortuna?”
Quem acreditou mais em vocês e quais os apoios financeiros ou de aconselhamento tiveram nessa primeira fase?
Sabíamos que era necessário obter validação externa da nossa ideia e, por essa razão, participámos no concurso de empreendedorismo da Acredita Portugal. Acabámos por ficar em segundo lugar entre mais de 3000 projetos. Isto trouxe-nos cada vez mais a certeza de que o conceito poderia funcionar. Felizmente, conseguimos o apoio por parte da Faber Ventures, Portugal Ventures e do The Edge Group para o investimento.
Quais os principais obstáculos que encontraram?
Para além dos obstáculos que todas as startups têm de enfrentar, a Chic by Choice tem como desafio dar a conhecer uma nova categoria de mercado, o aluguer de vestidos de luxo online. No momento em que a Chic by Choice foi lançada, a concorrência era quase nula na Europa e o mercado tinha apenas como referência o player americano, a Rent the Runway. Tivemos de dar a conhecer às consumidoras uma nova realidade e incentivá-las a contar connosco como o seu segredo para estarem perfeitas em qualquer ocasião.
Quais os grandes desafios de gerir uma startup?
Um dos grandes desafios é a gestão da equipa. É muito importante para nós garantir não só que a equipa está focada nos objetivos da empresa, quer sejam eles a curto, médio ou mesmo longo prazo, como também assegurar de que os vários departamentos trabalham lado a lado para os alcançar. Só assim é possível garantir que ultrapassamos os pequenos e grandes desafios do nosso dia a dia.
“Ainda existe uma barreira grande para que as mulheres se possam fazer ouvir numa sala de reuniões. É preciso chegar com a confiança de que nós, melhor do que ninguém, conhecemos a natureza do nosso negócio e da nossa empresa e estamos a rumar no sentido de a fazer crescer da melhor forma.”
Muitas jovens profissionais e empresárias referem que, por vezes, a juventude pode representar um desafio para se fazerem ouvir. Alguma vez sentiram isto na pele? Como se contorna este fator?
Neste caso é importante mencionar que para além de sermos jovens e de estarmos a criar um projeto dentro de uma categoria de mercado muito recente, também somos mulheres. Ainda existe uma barreira grande para que as mulheres se possam fazer ouvir numa sala de reuniões. É preciso chegar com a confiança de que nós, melhor do que ninguém, conhecemos a natureza do nosso negócio e da nossa empresa e estamos a rumar no sentido de a fazer crescer da melhor forma que o mercado nos permite. Preparamos muito bem o nosso discurso e estamos prontas para responder a qualquer dúvida no momento. Isso é fundamental para conseguirmos fazer-nos ouvir.
A vossa plataforma oferece também aconselhamento às clientes através das stylists e do chat online. É imprescindível, num negócio desta natureza, garantir um acompanhamento próximo das necessidades das clientes?
Sem dúvida. Neste tipo de negócio, no qual procuramos ajudar as nossas clientes a sentirem-se confiantes em qualquer evento que tenham, é muito importante garantir que estamos em contacto com elas para esclarecer qualquer dúvida que possam ter em relação ao fitting dos vestidos e, antes disso, ao tipo de vestido mais adequado para cada ocasião. É fundamental que as nossas clientes sintam que podem contar connosco para as ajudar com todas as dicas de styling possíveis e a nossa equipa de Serviço de Apoio ao Cliente faz um trabalho excelente nessa matéria. Estamos disponíveis via e-mail, telefone e live chat para que o serviço possa ser o mais personalizado possível.
Conseguem estabelecer um perfil das vossas clientes? Grande parte delas são jovens mulheres da geração Millennial?
As nossas clientes são maioritariamente mulheres corporate, entre os 25 e os 40 anos de idade, que possuem poder de compra e ao mesmo tempo, gostam de gastar o seu orçamento de forma inteligente. São exigentes no que respeita à rapidez do serviço, e à qualidade e exclusividade dos vestidos que procuram. O tempo para elas é um bem precioso e gostam de ter tudo à distância de um clique.
“Os clientes do Reino Unido são aqueles que registam mais pedidos, sobretudo porque têm um maior poder de compra, têm mais eventos no seu calendário. 14% da população compra online e o tamanho do mercado é superior ao de Portugal.”
Não quiseram restringir o vosso negócio às fronteiras de Portugal. Qual o país que regista mais pedidos?
Desde o primeiro dia, e apesar da Chic by Choice ser uma startup portuguesa, a empresa está focada no mercado europeu, principalmente no Reino Unido. Os clientes do Reino Unido são aqueles que registam mais pedidos, sobretudo porque têm um maior poder de compra, têm mais eventos no seu calendário. 14% da população compra online e o tamanho do mercado é superior ao de Portugal. Tendo em conta esta distribuição, o nosso tempo é dividido 50/50 entre os escritórios de Lisboa e de Londres.
De entre os modelos e designers que disponibilizam, quais os vossos favoritos desta temporada?
Destacamos três designers bastante distintos mas que acabam por apresentar uma oferta muito vasta às nossas clientes. Alexis tem uma coleção de primavera/verão incrível, com várias opções para diferentes tipos de eventos, desde vestidos de cocktail sexy off the shoulder, até opções mais clássicas, perfeitas para ir a um casamento. A Self- Portrait é uma das preferidas das nossas clientes – a coleção está repleta de vestido românticos e femininos, perfeitos para um casamento ou uma saída sofisticada com amigas. Tadashi Shoji que assenta em qualquer tipo de corpo, a coleção primavera/verão tem uma seleção fantástica de vestidos easyfit que, acima de tudo, beneficiam as formas femininas e a confiança de quem os usa.
“É preciso haver felicidade e um sentido de realização grande para que a geração millennial se sinta bem-sucedida. A necessidade de mudança e de conhecer realidades novas também é fundamental.”
Como definiriam a nova geração de profissionais da geração millennial, no que toca aos objetivos de carreira e vida?
A geração millennial tem, sem sombra de dúvida, um foco muito grande nas experiências que retiram dos produtos e serviços que consomem. Isso acaba por se refletir nos seus objetivos de carreira e vida. O local de trabalho desta geração tem de lhes dar a possibilidade de desenvolverem os seus projetos de uma forma proactiva e permitir-lhes expressar as suas ideias aos seus superiores sem muitas restrições. Um ambiente que fomente o trabalho em equipa e a capacidade de fazer brainstorming na criação de novas ideias é muito valorizado. Consideramos que as suas aspirações em termos de progressão de carreira não são menores que as das gerações anteriores, mas simplesmente a forma de lá chegar é que difere. É preciso haver felicidade e um sentido de realização grande para que esta geração se sinta bem-sucedida. A necessidade de mudança e de conhecer realidades novas também é fundamental.
O que aprenderam durante a vossa experiência à frente deste negócio, que possam partilhar com outras jovens empreendedoras?
Preparem muito bem o vosso discurso e conheçam bem o mercado onde operam. Acreditem no vosso negócio ou projeto e não se esqueçam que ninguém vai fazer o trabalho por vocês. É fundamental que estejam sempre a par de todas as novidades que acontecem no mercado e que não percam a capacidade de se renovarem. Estas são as dicas e os conselhos pelos quais ainda hoje nos regemos.
Com um ritmo de trabalho tão acelerado, como recarregam baterias?
É importante sermos capazes de desligar do nosso trabalho nos tempos livres. É uma tarefa complicada, principalmente porque o nosso trabalho é passível de ser feito em qualquer lugar e em qualquer hora. No entanto, fazemos um esforço nesse sentido porque ao desligarmos, também voltamos com novas ideias e com uma mente fresca para enfrentar os desafios de uma forma diferente, e muitas vezes mais eficiente. Por isso gostamos de passar tempo com os nossos amigos e família, viajar, ler e experimentar restaurantes novos.
Quais os principais objetivos que gostariam de ver realizados a curto e médio prazo no futuro da Chic by Choice?
A curto prazo, ambicionamos reforçar a nossa posição no mercado europeu, principalmente no Reino Unido. Para alcançar essa posição temos como objetivo a abertura de uma loja física no coração de Londres, para as nossas clientes experimentarem e alugarem os nossos vestidos. A médio prazo, queremos ser a marca top of mind das nossas clientes quando pensarem no que vestir para qualquer evento especial. A resposta imediata tem de ser “Chic by Choice”. Isso será um dever cumprido para ambas e para a nossa equipa.