Carla Rebelo: A Arquitetura da Escolha

Alicerçadas em técnicas de análise de dados, as empresas estão hoje a utilizar a ciência comportamental para melhorar, por exemplo, a experiência dos clientes e o bem-estar dos seus colaboradores, ajudando-os a tomar melhores decisões. Um empurrãozinho (nudge) pode ajudar.

Carla Rebelo é diretora-geral do Adecco Group em Portugal.

Carla Rebelo é diretora-geral do Adecco Group em Portugal

 

Um dos temas mais falados nas Escolas de Negócios atualmente, para além da transformação digital, é como a economia e a psicologia estão mais interligadas do que nunca.

A área científica da economia comportamental aprofunda desde 1950 como a irracionalidade humana se pode socorrer de pequenos empurrões (nudges) que podem ajudar na tomada de melhores decisões, sejam pessoais ou profissionais. O estudo do desenho de intervenções subtis para ajudar as pessoas a tomar melhores decisões é assim algo muito recente e de certo modo ainda embrionário.

Richard Thaler, economista com especial interesse na psicologia da tomada de decisões foi reconhecido mundialmente pela relevância do seu trabalho (comportamento de consumo baseado em contabilidade mental inadequada) com um Prémio Nobel em 2017.

Thaler é também um dos criadores do conceito nudge detalhado no seu livro com o mesmo título. Um dos episódios descritos no livro e que ilustra bem a essência do conceito, explica por exemplo, como em Amesterdão se conseguiu resolver o problema no estádio do Ajax com a quantidade de beatas de cigarros no chão, promovendo tão somente um jogo simples: pedia-se ao público que depositasse a sua beata num dos dois recetores instalados à saída do estádio, correspondente ao jogador de futebol que cada fumador considerasse ser o melhor do Mundo: Messi ou Ronaldo. As contagens das beatas em tempo real criaram uma dinâmica que levou a um nível tal de entusiasmo resultando numa participação crescente do público e, deste modo, o espaço exterior do estádio deixou de estar sujo.

Antecipa-se que se criem nas empresas, nos próximos anos verdadeiros departamentos especializados em nudges e que a cognição humana seja o centro do desenho das suas práticas.

Alicerçadas em técnicas de análise de dados, as empresas estão hoje a utilizar a ciência comportamental para melhorar, por exemplo, a experiência dos clientes e o bem-estar dos seus colaboradores, ajudando-os a tomar melhores decisões. Algumas simples outras mais difíceis. Desde a sua aplicação no cumprimento das normas de segurança no local de trabalho à escolha de opções alimentares mais saudáveis, o facto é que um “empurrãozinho” ou, também chamado de encorajamento, no momento certo, pode fazer autênticos milagres. Enquanto este método é reconhecido como um método doce para inspirar bons resultados, não deixa de nos transportar para a excelente reflexão em torno da verdadeira existência ou não do livre arbítrio, defendida tão intensamente por Harari nos últimos anos.

Antecipa-se que se criem nas empresas, nos próximos anos verdadeiros departamentos especializados em nudges e que a cognição humana seja o centro do desenho das suas práticas. Tudo com o propósito de melhorar a qualidade das decisões. Será este, eventualmente, um dos mais importantes passos na tão ambicionada dimensão de inteligência humana aumentada. Mas atenção…… um nudge é literalmente um “empurrãozinho” e nunca poderá ser um “encontrão”!

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