“Sou uma mulher muito afortunada, não sou líder de coisa nenhuma, não sou CEO de uma empresa, nem tenho essas ambições. A minha ambição é levar a minha arte a públicos e continuar a ser artista. Nasci para ser artista, música, cantora, porque a minha ambição é pisar palcos de concerto e de ópera. Sou apenas líder da minha vontade e da minha ambição e da minha paixão”, começou por se apresentar Carla Caramujo, cantora lírica, para quem é muito mais fácil cantar em palco do que falar em público, “sobretudo com mulheres tão empoderadas”.
A sua talk na 7.ª Grande Conferência Liderança Feminina foi sobre o papel das mulheres na música ocidental e procurou demonstrar que o percurso das mulheres na área da música e das artes em geral tem sido difícil. “Hoje temos exemplos de grandes mulheres a dar cartas na área da música porque, durante mil anos, as mulheres lutaram para ter um lugar no palco e como autoras e compositoras. Ao nível das artes performativas só no século XX foi possível uma mulher ter autorização para pisar um palco, ser interprete, e como autoras e compositoras só conseguiram dar o salto a partir da segunda metade do século XX”, afirmou Carla Caramujo.
Ao longo de mil anos muitas das mulheres que foram percursoras na história da música foram apagadas ou a sua obra foi catalogada de forma errada sob o nome de autores do género masculino, “restam-nos algumas musas inspiradoras”.
Mozart e Martinez
Conhece-se Beethoven e Mozart, mas quase toda a gente desconhece Marianna Martines, ou Marianne von Martinez (1744 -1812) ou Clara Schumann (1819-1896). Como revelou Carla Caramujo, “Marianne foi não só a grande patrocinadora de Mozart como muitas das suas obras estavam erradamente catalogadas como sendo do próprio Mozart”. São cerca de 300 obras. A própria Clara Schumann, em pleno século XIX, sentia-se mal e culpava-se por escrever música e “ainda bem que o fez porque é um dos poucos exemplos dos século anteriores ao século XX”. Mas no século XVII uma infanta portuguesa ousou escrever música, Barbara de Bragança que foi discípula de Domenico Scarlatti e viria a ser rainha de Espanha.
Carla Caramujo fez uma pequena resenha de várias mulheres que desde a Idade Média até ao século XX procuraram romper os muros e que foram “exemplos de tenacidade e lutadoras pela sua arte”. São os casos de Hildegard von Bingen (1098-1179), que foi abadessa, escritora, música, visionária, pintora, para quem o Homem era o centro do Universo. Depois há um hiato até ao século XVI quando surgem alguns exemplos de mulheres pertencentes aos extratos sociais mais elevados que tinham acesso ao ensino da música. Foi o caso de Francesca Caccini (1587 1641), autora da primeira opera escrita por uma mulher. Já na transição para o século XIX Maria Szymanowska (1789 –1831), pianista e compositora, foi a precursora e que desenvolveu o género do noturno que o génio de Chopin transformaria.
Carla Caramujo foi sempre incentivada a fazer outros cursos para não se centrar na música, estudou violino, mas depois de dois anos na Universidade de Coimbra, “sem saber o que estava a fazer” rumou a Oxford para fazer da música a sua vida. Desde que se diplomou pela Guildhall School of Music and Drama e pelo Royal Conservatoire of Scotland, tem trabalhado sempre.
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