Carla Baltazar: “Sinto-me muito melhor e mais realizada desde que mudei a rotina matinal”

Desafiámos Carla Baltazar, managing director da Accenture, a partilhar o que a levou a mudar a sua rotina matinal, que novos hábitos adotou e que impacto isso está a ter na sua vida.

Carla Baltazar é managing director da Accenture Portugal.

Carla Baltazar é managing director responsável pela área de Operations da Accenture Portugal. Licenciada em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, Carla Baltazar tem mais de 20 anos de experiência profissional em consultoria de tecnologias de informação para clientes nacionais e internacionais. Entrou na Accenture em 2001 e nos últimos anos especializou-se na gestão de serviços e outsourcing de processos de negócio com componentes inovadoras como automatização.

Há quatro anos, depois de perceber que chegava ao final do dia cada vez mais cansada Carla Baltazar decidiu que tinha mudar alguma coisa na sua vida e começou por alterar a rotina matinal. Nesta entrevista,  ficamos a saber o que mudou, que hábitos foram mais difíceis de adotar e como contornou as dificuldades, e que benefícios Carla Baltazar obteve com estas mudanças.

 

Quando e por que razão mudou a sua rotina matinal?

Os meus dias sempre foram muito intensos e comecei a tomar consciência de que chegava ao final do dia cada vez mais cansada. Durante a semana ficava sem tempo nem vontade de fazer alguma coisa para além de tarefas básicas e de trabalhar.

Comecei a perceber que quanto mais tranquilamente começava o meu dia, melhor me sentia durante e ao final do dia e melhor conseguia resolver os vários desafios profissionais. Tudo corria melhor e estava mais focada e até mais produtiva. Então, há cerca de quatro anos passei a fazer tudo mais lentamente depois de acordar, comecei a fazer pequenos exercícios físicos em casa e gradualmente fui introduzindo outras atividades o que levou a ter de me levantar e cada vez mais cedo. Em paralelo, comecei a ler sobre o tema, como as rotinas matinais trazem vários benefícios e como me sentia cada vez melhor, fui testando e adicionando gradualmente componentes à minha rotina matinal.

Para além dos benefícios que sinto durante o dia, o outro motivo que me levou a mudar as minhas rotinas foi uma mudança de paradigma. Assim, não chego ao final do dia a pensar o que posso fazer por mim, uma vez que agora quando saio de casa de manhã tenho a sensação que já o fiz. É como se o dia já “estivesse ganho”.

Que novos hábitos introduziu?

O exercício físico tornou-se um hábito obrigatório. Inicialmente, sem dedicar muito tempo fazia em casa acompanhando vídeos. Fui criando esse hábito e agora até planeio levantar-me mais cedo para conseguir ir ao ginásio.

Comecei também a ler de manhã, que se tornou em mais um momento não só de aprendizagem, mas também de tranquilidade. Escolho tipicamente livros mais técnicos que para mim funcionam bem uma vez que posso parar de ler ao fim de poucas páginas ou conceitos. Por outro lado, assim assimilo mais facilmente de uma forma gradual o conteúdo.

Para além disto, introduzi também a escrita e a reflexão sobre o que prevejo que vá ser o meu dia, quais as principais reuniões que vou ter e o que ainda tenho de preparar quando começar a trabalhar.

Qual é hoje a sua rotina matinal?

Começo o meu dia a fazer chá, que bebo tranquilamente à janela. Em seguida faço exercício físico, sendo que vou ao ginásio atualmente duas a três vezes por semana às 6:30h e nos restantes dias faço algo mais curto em casa. Depois sento-me a escrever e a pensar no dia, nas reuniões planeadas, nas pessoas que vou encontrar e o que acho que tenho de fazer igual ou diferente na minha vida pessoal e profissional. A leitura é a parte final, desta fase mais calma, onde no mínimo leio duas páginas diariamente.

Como também valorizo o papel de uma boa alimentação no meu bem estar, acabo por dedicar ainda tempo a preparar um pequeno almoço o mais completo possível. Nesta fase final da minha rotina enquanto tomo um café apanho um pouco de sol. E estou pronta para sair de casa e começar o resto do meu dia.

Que impacto tem na sua vida e carreira?

Genericamente, sinto-me muito melhor e mais realizada. Fico com a sensação que diariamente estou a “Ser” a pessoa que gosto de ser, “Estar” a viver o dia intensamente ao refletir sobre o mesmo logo cedo e também a “Fazer” porque começo o dia profissional já com muitas coisas feitas, o que me dá energia para fazer ainda mais.

Ao longo do dia acabo por estar muito mais calma e mais focada, não cedendo tão facilmente a distrações, o que me torna mais produtiva. Obviamente, que a nível de carreira acaba por me permitir ter muito mais qualidade nas interações com as pessoas e também conseguir aceitar mais desafios e atingir novos objetivos.

Como conseguiu tornar-se tão disciplinada?

Por natureza sou uma pessoa disciplinada, ávida de absorver novos conhecimentos e adoro temáticas relacionados com aspetos comportamentais humanos. Estas minhas características levaram-me a ler vários livros sobre metodologias de introdução de hábitos, sejam sobre a sua natureza ou a melhor altura do dia para cada tipo de tarefa. Fui introduzindo cada componente gradualmente. Estando sempre consciente de qual era o objetivo esperado com cada uma delas, fui verificando o resultado das teorias que tinha lido e adaptando ao que para mim fazia mais sentido e tinha melhores resultados.

Um aspeto importante foi que sempre privilegiei a consistência, ou seja, mesmo quando a agenda não permite dedicar o tempo que é o ideal, faço sempre algo nem que seja uma versão muito mais curta.

Qual o hábito mais difícil de adoptar?

O hábito mais difícil de adoptar foi começar a escrever. Exige mesmo um abrandamento do ritmo, porque escrevo naturalmente a um ritmo muito mais lento do que penso. Por outro lado, creio que genericamente as pessoas perderam o hábito de escrever em papel frases completas. Hoje, a maior parte dos textos completos são feitos ao computador e o que deixamos para escrever em papel são meras notas. A disciplina de escrever frases completas, com letra legível, acabou por ser menos natural para mim e por isso foi mais contraintuitivo de introduzir.

O que diria a quem está céptico em relação ao impacto deste tipo de mudança?

Para quem está mais cético quando aos benefício de começar a pensar em si e de forma tranquila, eu diria: Experimente durante 30 dias! Trinta dias é um período curto para se conseguir fazer algo mesmo que seja sem estar convencido, mas é tempo suficiente para ver efeitos.

Sugiro começar por fazer primeiro algo de que goste, mas que sinta que não tem tempo para fazer, e depois introduzir algo que gostaria de fazer, mas (acha) que nem gosta muito. Se num dia não fizer, o importante é não desistir e tentar não falhar o dia seguinte. Experimente e divirta-se!

 

Leia uma entrevista com Carla Baltazar sobre a sua carreira

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