Cardiologia personalizada

Os desenvolvimentos tecnológicos que atravessaram o mundo nas últimas décadas tornam possível a prevenção, precocidade e detecção da maioria das doenças cardiovasculares.

A partir dos 45 anos deve fazer exames com mais frequência.

Por Victor M. Gil,  coordenador do departamento cardiovascular do Hospital dos Lusíadas.

Em poucas áreas, como na Medicina Cardiovascular, se vai hoje tão longe na prevenção, precocidade na detecção da doença, precisão no diagnóstico e individualização da terapêutica. Isto é possível devido a enormes desenvolvimentos tecnológicos que atravessaram o mundo nas últimas décadas e cuja aplicação à medicina encontra nesta área uma expressão muito forte, mas também porque estudos epidemiológicos de grande dimensão e a incorporação dos conhecimentos gerados pela chamada “medicina baseada na evidência” têm aqui uma importância destacada.

Hoje conhecemos melhor as causas e os mecanismos das doenças, o que constitui a base do desenvolvimento de novos fármacos e diversas intervenções terapêuticas. A doença das coronárias, responsável pela obstrução das artérias que fornecem nutrientes e oxigénio ao próprio músculo cardíaco – causadora de situações como a angina de peito e o enfarte que muito contribuem para a mortalidade nos países desenvolvidos – o mau funcionamento das válvulas que separam as cavidades cardíacas, doenças agudas e crónicas que afectam o músculo cardíaco, perturbações da actividade eléctrica do coração e situações associadas a risco de morte súbita, são alguns exemplos.

40% dos óbitos em Portugal são causados por doenças cardiovasculares.

Estas doenças são hoje tratáveis após uma avaliação diagnóstica precisa que associa à indispensável avaliação clínica testes como a ecocardiografia, a cintigrafia, a tomografia computorizada, a ressonância magnética. Estamos longe do tempo em se aplicavam soluções mais ou menos estandardizadas a diversas situações. O tratamento da doença das coronárias, por exemplo, deve ser um tratamento individualizado, em que não só o tipo de intervenção – medicamentosa, por cardiologia de intervenção ou cirúrgica – mas até modalidade de intervenção (por exemplo, a escolha do tipo de stents a implantar nas coronárias) é determinada pelas características clínicas de cada doente e pela própria anatomia das obstruções coronárias em concreto. O mesmo se poderá dizer do tipo de intervenção nas doenças valvulares ou na escolha dos pace-makers mais adequados a cada situação.

Uma área que tem merecido grande atenção é a da avaliação do risco cardiovascular, conceito hoje universal mas que se desenvolveu a partir de estudos epidemiológicos iniciados nos ainda próximos anos 1960, os quais permitiram identificar um conjunto de factores – tabaco, hipertensão, colesterol, diabetes, sedentarismo, obesidade – cuja presença, magnitude e associação determinam a probabilidade de ocorrência de eventos cardiovasculares graves, incluindo morte cardíaca.

45 anos é a idade a partir da qual se devem realizar exames periódicos.

A aplicação das modernas técnicas de imagem, permite ir muito mais longe na determinação do risco individual, antes apenas calculado por tabelas de risco, saltando de uma avaliação meramente epidemiológica e estatística, de certo modo abstracta, para a abordagem personalizada do risco. Entre as técnicas ao nosso dispor, a determinação do score de cálcio permite uma estimativa precoce da presença de aterosclerose coronária em fase ainda não sintomática, contribuindo para a individualização do risco cardiovascular que não dispensa a avaliação dos factores de risco “tradicionais”.

SORRIA, PORQUE SORRIR FAZ BEM AO CORAÇÃO

Cardiologia personalizada

As pessoas otimistas tendem a ter melhor prognóstico nas doenças cardiovasculares.

“Vários estudos sugerem que o optimismo e a 
boa disposição se associam a menor risco cardiovascular. É também sabido que o riso tem uma influência benéfica. Algumas observações sugerem que, perante igual gravidade de doença cardiovascular, os optimistas tendem a ter melhor prognóstico”, revela Victor Gil. “Do mesmo modo, a actividade sexual parece associar-se a um menor risco cardiovascular, tal como é ilustrado num estudo que envolveu mais de 1100 homens com idade média de 50 anos”, acrescenta. E se acha que ser boa pessoa não leva a lado nenhum, saiba que afinal até compensa. “A bondade, serenidade e equilíbrio são também factores de saúde cardiovascular”, confirma o coordenador da Unidade Cardiovascular do Hospital dos Lusíadas.

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