Temos outra idade. E ainda bem.

Tenho o privilégio de ter muitos amigos com quem posso falar de trabalho. Cada um no seu negócio ou área profissional, mas com imensos pontos em comum, não fôssemos nós engenheiros, na maioria. Na verdade, a maior parte das nossas conversas são sobre relações e pessoas — como lidamos com situações, hierarquias, sensibilidades. Num dos nossos almoços, entre episódios que íamos contando e como cada um reagia a determinado acontecimento, chegou a frase que cada vez tem mais batido na minha cabeça: “pois, é que agora temos outra idade!”

E temos. Temos outra idade e mais de 20 anos de experiência a gerir e a ser gerido por gente.

Aquilo que nos incomodava e nos faria sofrer há duas décadas, hoje faz-nos rir. Encolhemos os ombros, pomos água na fervura. Vemos para além da reação imediata de um colega, da frustração de uma chefia, da decisão de um diretor. Lemos melhor os outros. Conhecemo-nos melhor a nós próprios. E levamos muito menos a sério as duas partes. Escolhemos as nossas batalhas e até deixamos o adversário ganhar algumas.

A experiência técnica de um colaborador é essencial a uma organização. Mas a maturidade emocional poderá ultrapassar os resultados de uma equipa. Esta maturidade vem, muitas vezes, da autoconfiança da pessoa. Anos de profissão confirmam aquilo que uma pessoa sabe e o que pode trazer a uma mesa negocial.

É mais fácil vermos o outro como ele é, e menos como nós somos.

A sensatez de equilibrar opiniões divergentes. De entender se vale a pena o conflito e gerir o momento. De dar exemplos de casos semelhantes e de orientar os mais novos a olhar para os outros lados do problema. Percebemos que não há situações perfeitas e que lutar contra o mar inteiro cansa. Mais vale ir gerindo onda a onda.

Depois, há o valor que se dá ao tempo. À energia que nos consome. À alegria ou tristeza que nos possa trazer. Que uma noite mal dormida está perdida. Mais vale esperar pela manhã seguinte para sofrer. Até porque há tanta coisa que se resolve por si só.

Ainda assim, arriscamos mais. Como aprendemos a ver a árvore, mas também a floresta, adivinhamos até onde podemos ir. Os 20 anos que temos para trás ajudam a ver melhor os 20 anos que temos para a frente.

Tenho pensado muito em mim com 25 e 30 anos — como teria sido muito mais fácil o caminho se me tivesse preocupado muito menos com tantas coisas. Gostava de ter tido uma Inês de 45 anos, ao meu lado, a pôr uma mão no meu ombro e a dizer-me: “Oh, mulher, deixa lá isso. Perdeste a tua noite de sono por causa dessa situação?!”

Mas, depois, questiono-me: será que me teria ouvido? Concluo que não.

Os anos temos de ser nós a vivê-los.

É outra idade? Pois é. E ainda bem!

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 11 Maio 2023

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