Soft skills

Há uns dias, falava com o gestor de um negócio de uma das maiores empresas químicas do mundo. Contava-me ele que não percebia nada dos produtos que estava a gerir, mas que tinha sido contratado pelas suas soft skills. Dizia-me ele: “Sabe, Inês, a minha equipa tem técnicos fenomenais. Ninguém percebe mais dos materiais do que eles. Mas e vender? E pôr no mercado? E trabalhar em equipa? E criar a cultura? E comunicar? E criar momentos de partilha pessoal?”

É essa umas das maiores preocupações com que as grandes organizações se estão a deparar — os gestores com soft skills acentuadas é que conseguiram gerir melhor estes tempos pandémicos e estão a manter as equipas integradas, sem a fuga dos seus melhores profissionais. Porque, num momento de incerteza e medo, é a emoção, a confiança e a ética que segura as pessoas num grupo. Caso contrário, é cada um por si.

Num mundo em que os engenheiros informáticos são a profissão mais procurada, em que vivemos em torno de aplicações, do metaverse, das redes sociais e das compras online, onde o software, o seu desenho e o hardware indispensável para a sua existência, são os negócios que mais biliões geram, onde tudo parece digital e distante, a verdade é que as soft skills são o motor que alimenta todas essas componentes.

Mas o que são soft skills? Eu penso que o nome, por si só, está errado. Estas características soft, ou leves, são talvez as mais difíceis de aprender. São, de facto, pesadas, difíceis de encontrar, pois são intrínsecas à personalidade ou demoram tempo a desenvolver. Num artigo recente da Harvard Business Publishing, chamaram-lhes as “Human Skills”, porque são características que todos nós temos, como humanos, mais ou menos desenvolvidas e que nos permitem viver em sociedade. Alguns exemplos são:

  • capacidade de comunicar: conversar, escrever, transmitir sentimento, ouvir. A habilidade de colocar em palavras escritas ou faladas consegue mover multidões, um sorriso, um toque, um olhar (agora que as máscaras escondem parte da nossa face), podem chegar a uma pessoa num momento mais inesperado. Falar línguas.
  • empatia: colocar-se no lugar do outro, tratando todos com respeito e educação, dando oportunidade de resposta.
  • adaptabilidade e resiliência: nunca estas aptidões fizeram tanto sentido. O primeiro a adaptar-se a uma realidade é aquele que pode liderar o percurso. Pelo exemplo, conseguimos levar outros num caminho novo e desconhecido, mas que nós fomos abrindo na tentativa de sobreviver.
  • ética: a certeza de que existe algo mais que a lei, que não é transponível, mesmo e principalmente, em situações difíceis. É o que transmite a confiança para levar uma equipa connosco, para que cumpram diretrizes, em situações onde não é possível transmitir toda a informação. É, talvez, o ponto que leva mais tempo a provar.
  • criatividade: para organizar, resolver problemas, procurar soluções. É uma das qualidades que, ao contrário do que se pensa, requer mais estudo e experiência. Não chega ser-se curioso e questionar tudo. É necessário saber ver para além do óbvio, e essa visão treina-se.
  • relacionamento interpessoal: num mundo profissional cada vez mais multicultural, até distante fisicamente, mas próximo através de um ecrã, a capacidade que nós temos de nos relacionar com o outro, de nos interessarmos por outras rotinas, de aprendermos mais sobre a história de outros países, estarmos abertos à diferença e gostarmos dela, facilita o relacionamento com colegas e chefias, melhorando consideravelmente o trabalho de equipa e os resultados obtidos.

 

Cada vez mais difíceis de encontrar, especialmente em áreas mais técnicas onde as hard skills são também escassas, as soft skills são fundamentais em cargos de liderança, para que os gestores possam orientar e ensinar essas mesmas aptidões aos indivíduos que formam a sua equipa. Quanto mais motivados os colaboradores forem para desenvolver estas características, mais capazes estarão de criar um ambiente, um produto, uma organização, um futuro melhor para si e para todos.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 10 Dezembro 2021

Partilhar Artigo

Parceiros Premium
Parceiros