Seguir os passos

Esta semana é a Queima das Fitas do Porto. O meu filho está a estudar na mesma faculdade onde eu estudei e pertence ao Orfeão Universitário do Porto, tal como eu quando tinha a sua idade. Durante estes dias, ao vê-lo viver seguir os mesmos passos que eu repeti tantos anos, não contive alguma emoção e saudade, mas acima de tudo desejava que ele fosse tão feliz quanto eu fui.

Esta semana, também, o Sporting sagrou-se campeão. A família é verde e branco, e três gerações festejaram a vitória. Avô, pai e filho cantaram contentes no estádio de Alvalade com a equipa vencedora.

Ontem, no meio da multidão do cortejo, tentei perceber porque me sentia tão orgulhosa de o ver seguir os mesmos passos. E se teria, de algum modo, forçado alguma decisão sua.

Toda a educação que fui dando aos meus filhos tinha por base que eles escolhessem livremente os seus estudos e as suas atividades extra. Naturalmente, vamos orientando-os para trabalhar, fazer desporto, se possível tocar um instrumento musical, mas nunca lhes impusemos nada. As rotinas trazem obviamente exemplos – os amigos com quem nos damos, a equipa que eles nos vêm a seguir desde que nascem, as músicas que ouvimos, as histórias que contamos. Influenciamos, sem dúvida, as suas escolhas. E, sem dúvida, elas aproximam-se mais das nossas do que o contrário.

E porque gostamos tanto que os nossos filhos nos sigam os passos? Se, por um lado, eu achasse que podia haver um fator de validação associado – ele gosta como eu gostei, deve ser correto o que eu fiz – eu acredito que tem muito mais a ver com o conforto do conhecido. Vê-lo a desfilar com o Orfeão e depois com a multidão de Engenharia, tal como eu há mais de 25 anos, foi-me fácil compreender o que ele estava a sentir. Rever essas memórias trouxe-me um misto de saudade e alegria e fiquei genuinamente contente por ele ter a oportunidade de viver o mesmo. Imagino que no estádio a partilha da felicidade da vitória trouxesse a mesma emoção ao meu marido, festejar os vencedores com o filho e o pai, cantar as mesmas canções e vestir as mesmas cores.

À medida que eles vão crescendo e fazendo a sua vida fora do seio familiar, encontrar pontos de contacto é fundamental. Pode ser o curso que se tem, a equipa que se segue, a música de que se gosta, os filmes que se veem, a comida que se escolhe, o modo como vemos o mundo ou como queremos que ele seja.

Partilha. Talvez seja a maior razão que nos orgulha perceber que os nossos filhos gostam de (algumas) mesmas coisas que nós. Podemos partilhar o que sentimos, encontramos pontos em comum, reforçamos as relações e criamos memórias conjuntas.

Eu vou ali comparar fotografias da minha Queima com as fotografias que tirei ao meu filho. Rever o passado no futuro que ainda vive comigo.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 09 Maio 2024

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