Parem de pedir desculpa

Quando li o livro Nice Girls Still Don’t Get the Corner Office (de Lois P. Frankel), ficou-me muita coisa, mas uma delas foi a ideia de que devemos deixar de pedir desculpa, deixar de pedir permissão ou de minimizar as nossas próprias conquistas.

Vejo muito isto acontecer com amigas e colegas minhas: uma tendência para colocar a palavra “desculpa”, ou “sorry” em ambiente internacional, antes de algumas frases onde pedir desculpa até nem faz sentido nenhum. “Desculpe incomodar…”, “desculpe interromper…”, “desculpe bater à porta…”, “desculpe se não é o momento…”, “desculpe o erro…”, “posso…?”, “queria pedir…”, “ah, não é nada, foi só o meu trabalho…” Basicamente, é como dizer: desculpe existir, aparecer, ser eu própria.

Todas estas expressões, com as quais crescemos e que são vistas como sinal de boa educação, acabam por passar uma imagem de inferioridade, de fragilidade e chamam a atenção para situações que não valem nada. Mostramos falta de confiança e insegurança, o que para determinados lugares de chefia são características essenciais.

Por exemplo, quantas vezes pedimos ajuda a um colega e acabamos a pedir desculpa por interrompê-lo? É mesmo necessário fazê-lo? Foi um erro nosso? Culminou num problema para a outra parte? Não. Então, agradeçam a resposta. E chega.

Na minha vida profissional, mesmo em situações onde os homens tinham responsabilidade ou uma performance abaixo do desejado, foram raros os casos onde assumiram a sua quota-parte, refugiando-se em argumentos externos. Nós, as mulheres, até pedimos permissão para ações para as quais já sabemos ter autonomia de decisão. É a nossa tendência de procurar a validação, mas que nos coloca sob a possibilidade de auto-anulação. Abrimos campo a que nos digam: “Não”.

Sempre que pedimos desculpa numa situação comum ou permissão para uma ação para a qual somos independentes de decidir, colocamo-nos na posição de uma criança. Assumam que se as pessoas tiverem um problema com alguma atitude vossa, vão dizer-vos isso mesmo. E vocês poderão negociar. Mas, garanto-vos, agora numa posição de muito mais força, porque partiram dum patamar de autonomia e segurança.

Então, o que se pode fazer para lutar contra isto? Acreditem, eu tenho muita tendência a pedir desculpa por nada.

Comecem a contar quantas vezes o fazem por dia. Eu fi-lo e foi assustador.

Uso uma ferramenta que me tem ajudado – troco o pedido de desculpa para um agradecimento:

– Obrigada por ter esperado por mim.

– Obrigada pela ajuda.

– Obrigada por interromper o que estava a fazer para me responder.

No caso de estarmos perante um erro que temos de assumir, peçam desculpa UMA vez. Caso estejamos a falar das expectativas dos outros perante nós, para as quais não tínhamos informação, transformem o pedido de desculpa numa resposta não apologética, como: “não tinha ideia de que era essa a sua expectativa. Diga-me como posso ajudar para resolver a questão”.

Ainda hoje tive de fazer esse exercício. É que a “desculpa” está debaixo da nossa língua. E isto pode usar-se em tudo na vida, não apenas no campo profissional. Comecem no restaurante. O empregado de mesa tem como função vir ter convosco. Deixem de pedir permissão para serem atendidos, com o comum: “Peço desculpa, pode atender-me?”

Já agora, sempre que virem uma mulher a fazer isto, instruam-na. Estão a ajudá-la.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 07 Setembro 2022

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