O poder da união entre mulheres

Estive recentemente numa feira onde a maioria dos participantes são homens. Ao longo dos anos, esta tendência tem vindo a aligeirar, com mais mulheres a assumirem principalmente cargos técnicos, mas o sexo masculino continua prevalente. E, nesta indústria, não espero que a percentagem se reverta nas próximas décadas.

Nós, as mulheres, conhecemo-nos quase todas. Mesmo de negócios diferentes (umas serão de equipamento, outras de matérias-primas, tantas de serviços), fomos sendo apresentadas umas às outras e sempre que nos cruzamos nos corredores paramos para nos abraçar. Há ali, inerente, uma cumplicidade que nos une. Sabemos que não é fácil caminhar num mundo maioritariamente masculino e, mesmo sem falarmos muito no assunto, lemos umas nas outras as dificuldades que fomos ultrapassando.

São algumas, por isso fica-me bem na memória os poucos minutos que trocámos estes dias. Recordo-me da inglesa, que vejo nesta feira apenas uma vez por ano, mas regularmente trocamos mensagens nas redes sociais, com quem falo sobre os filhos e sobre a roupa maravilhosa que ela traz sempre vestida (desta vez o colega que vinha comigo perguntava-me, admirado, “conheceste a marca do vestido só de olhar para ele?!”); da japonesa, que conheci este ano e que foi amor à primeira vista, cujo nome nos obriga a sorrir para o pronunciar; da polaca com quem trabalhei noutras vidas e que passou no meu stand tantas vezes só para falarmos um bocadinho; de outra que me puxou para um café e desabafou sobre a tendência da empresa ter cada vez mais homens e menos mulheres e quão difícil isso está a ser; das brasileiras que, além de encontrarem uma mulher deste lado, encontraram também alguém que falava português.

É óbvio que nem todas se ajudam. Conheço um ou outro caso desafiante, que me torna a vida complicada quando contactamos. No entanto, dou sempre o benefício da dúvida: pode ser algo intrínseco à personalidade, mas nunca sabemos de onde vem esta atitude. No limite, serei sempre solidária.

Há imensas vantagens quando as mulheres se unem. A troca de experiências, o suporte baseado em motivações semelhantes, a amplificação da palavra que cada uma transmite, o networking entre negócios. Não consigo encontrar um único exemplo de prejuízo por não nos solidarizarmos umas com as outras.

A Executiva promove encontros e conferências durante o ano onde são imediatos o efeito e o impacto de cultivar momentos entre mulheres que percebem que juntas são mais fortes, mais capazes, mais conhecedoras de si mesmas. A simples sensação de que não estamos sozinhas é fundamental para normalizarmos o que sentimos e porque fazemos e tomamos determinadas decisões.

Mesmo a nível pessoal, eu gosto de juntar as minhas amigas, muitas delas com formas de estar diferentes, com histórias de vida distintas. Mas, sempre que nos encontramos, em eventos que vou organizando, maravilho-me por perceber da força que temos unidas. Como nos lembramos umas das outras, como encontramos pontos comuns e nos ajudamos.

Tento promover o apoio entre mulheres todos os dias. Desde a que me atende do outro lado do balcão, a que me faz sofrer nas aulas de ginástica, a que me liga com amizade, a que me orienta em alturas difíceis.

Eu não sei tudo delas, mas sei um bocadinho. E isso é suficiente.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 28 Março 2024

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