O ar que respiro

Numa altura em que a sustentabilidade está na ordem do dia, em que os clientes nos pedem atualizações quanto às emissões de carbono na produção dos materiais que vendemos, em que a Europa está a regular as licenças de emissão do CO2 da indústria com o objetivo de atingir a neutralidade até 2030, em que o uso de carros elétricos está para ficar, não há dúvida: o “negócio do ar” tornou-se um bom investimento.

Custa cada vez mais caro para as indústrias pagar pelas emissões de gases. Com as licenças de  emissão a diminuir cada ano, se as empresas não conseguirem atingir estes valores mínimos, terão de procurar a diferença no mercado dos créditos de carbono. O que é isto afinal?

Basicamente, cada indústria terá direito anualmente a emitir x kg de CO2. Este valor vai reduzindo cada ano e cada valor a mais nas emissões de carbono terá um custo. As empresas terão de encontrar soluções para esses quilogramas a mais. Entre as soluções pode estar a otimização de processos, procura de materiais sustentáveis, fundos de investimento ambientais e existe também o mercado do carbono.

E, por isso, o mercado voluntário do carbono está a tornar-se o assunto do momento. E depende das florestas e dos hectares disponíveis para as mesmas. Portugal quer regular um negócio que já existe e potenciá-lo no nosso país, dando-lhe mais credibilidade – florestar e reflorestar, criando projetos de descarbonização de base natural e promovendo a biodiversidade.

Se isto parece novidade por cá, a verdade é que o mercado financeiro já mexe nesta área há imenso tempo. Notícias como a compra de uma “floresta enorme” pela JP Morgan, devem chamar a nossa atenção. Tratam-se de companhias que não eram, na sua base, investidores ambientalistas. Tão pouco compram florestas para uso da madeira para construção civil. São bancos que viram o potencial de se fazer pagar por “apenas estar lá”. As árvores não são para cortar. São para absorver o carbono que todos geramos. E vender o processo de fotossíntese a quem precisa dela.

Quando comecei a pensar neste texto, surgiram-me alguns exemplos de produtos que passaram a ser pagos pela nossa ação danosa e sem controlo sobre o planeta Terra.

A água, esse bem fundamental para a sobrevivência, passou a ter um valor pela necessidade de a tratar, de retirar substâncias que poderiam ser nocivas ao nosso corpo, muitas delas fruto da poluição que provocamos. Por outro lado, este controlo de qualidade permitiu também que usássemos H2O de origens que, noutras alturas, nunca nos atreveríamos a provar.

Aprendemos a pagar por isso e já nem questionamos fazê-lo.

Tudo nesta vida tem um custo: como nos movimentamos, como comunicamos, onde dormimos, o que comemos, a água que bebemos.

Até há bem poucos anos, o oxigénio parecia o único elemento gratuito à nossa sobrevivência.

Lembro-me de ser nova e ainda ouvir comentários do género “qualquer dia pagamos para respirar!”

Pois… parece-me que chegou esse tempo.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

 

Publicado a 23 Março 2023

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