Um café com brinde em Monteverde

A região nebulosa de Monteverde fica no noroeste montanhoso da Costa Rica, no seio de uma floresta densa e húmida, que tinha de visitar porque queríamos viver e descobrir mais um pouco sobre os atrativos naturais do país. Foi o que fizemos. Nas ruas de Santa Elena, a sua cidade, vivemos a festa alegre da Costa Rica, comemorada, quando lá estivemos, em desfiles coloridos com muita música e baile. Andámos também pela floresta à noite e durante o dia, vimos colibris e descobrimos uma parte significativa dos sapos e das rãs venenosas existentes no país, mesmo as mais minúsculas.

Nas ruas de Santa Elena vivemos a festa alegre da Costa Rica.

Nas ruas de Santa Elena vivemos a festa alegre da Costa Rica.

Uma viagem que vale a pena

Um percurso chuvoso de barco a motor pelo Arenal, o grande lago artificial da Costa Rica, mais um caminho quase de cabras, mas destinado sobretudo a veículos automóveis, tinha-nos trazido a uma das cidades mais altas e húmidas deste país da América Central.

Nessa altura, já tinha abençoado mil vezes a decisão de termos optado por ser transportados entre poisos, num país onde o asfalto nem sempre existe, onde há buracos aos pontapés e 100 km podem levar entre seis a nove horas a percorrer. Foi muito melhor ver a paisagem e observar as casas e as pessoas à beira da estrada, sem ter de me preocupar com mais nada a não ser isso, enquanto ouvia o que os guias iam dizendo, em cada circuito que fizemos, ou conversava com os nossos condutores, sobretudo para conhecer mais e melhor o país e os sítios por onde íamos passando. Foi assim que soube que os ordenados mínimo e médio deste país da América Central são superiores aos de Portugal e que o ensino primário é obrigatório desde meados do século 19, por exemplo. Mas são apenas curiosidades, já que estávamos lá, sobretudo, para viver a Natureza do país.

No trilho principal do bosque nebuloso de Monteverde as árvores quase que tocam o céu.

No trilho principal do bosque nebuloso de Monteverde as árvores quase que tocam o céu.

O nosso destino desse dia, e nos seguintes, era a região nebulada de Monteverde, que fica a mais de 1400 metros de altitude, e a cidade, Santa Elena, onde decorria uma festa desfile comemorativa do mês da Costa Rica, cheia de música e cor. Eram vários os grupos, constituídos por dançarinos e músicos de quase todas as idades, que foram percorrendo as ruas mais ou menos ingremes, sempre a tocar e dançar, apenas com algumas pausas pelo caminho, em ruas com mais, ou menos declive. A marcha lenta ajudou-nos a ter tempo para fazer tantas fotos quanto as necessárias para conseguirmos captar, mais ao pormenor, os movimentos dos bailarinos.

 

A visita da vespa venenosa

Uma pausa para o café na fazenda onde decorre o Trapiche Tour.

Uma pausa para o café na fazenda onde decorre o Trapiche Tour.

Durante a tarde, e como parece que a natureza me queria brindar com um pouco mais de emoção, ou tornar a minha visita por ali ainda mais interessante, estava, à mesa, a saborear um café no final do tour, quando me entrou, na boca, uma vespa venenosa. Como causa uma reação alérgica que pode levar à morte, segundo aquilo que me disseram depois os anfitriões do El Trapiche Tour, onde aprendemos, também fazendo, o ciclo da produção do açúcar, cacau e do café artesanal, ficaram a olhar para mim com ar apreensivo. Felizmente tenho bons reflexos, e retirei-a, de imediato e sem pensar, com os dedos. E deixei-a ir, apesar da sensação não ter sido das mais agradáveis, talvez porque não me tinha feito mal nenhum.

Enquanto a gente em volta se acalmava, continuei a saborear a minha tortilha com picadilho de Aracache, planta originária dos Andes, da qual se aproveita a raiz. Para companhia, um par de chávenas de café da empresa familiar que organiza a visita, que estava delicioso, antes de voltar à cidade, para uma visita noturna ao ranário local, para ver batráquios coloridos.

Como a maior parte deles são noturnos, optámos por fazer a visita após o sol se pôr, que tinha naturalmente de ser guiada. A maioria dos que estavam dentro das grandes jaulas eram demasiado pequenos para serem descobertos por amadores como eu, mesmo que estivéssemos com o nariz em cima deles. Do lado de fora das jaulas envidraçadas, é claro.

No Ranário de Monteverde, a noite traz os batráquios para fora dos seus esconderijos.

No Ranário de Monteverde, a noite traz os batráquios para fora dos seus esconderijos.

O dia seguinte levou-nos a outra visita pela manhã, um pouco menos interessante, por outro local da floresta húmida. Salvou-se a pausa no Café Colibri, mesmo à entrada para a Reserva de Monteverde, onde estivemos embevecidos a observar os diversos colibris locais a esvoaçar junto aos bebedores. Infelizmente são demasiado irrequietos e quase impossíveis de fotografar, apesar das inúmeras tentativas que fiz para tirar uma imagem decente. Ficaram as outras para recordação.

O almoço no Sabor Tico retemperou-nos as forças para o resto da tarde, já que é um restaurante de comida saborosa e bem cozinhada, onde os sumos são excelentes e a cerveja é bem tirada e chega à mesa à temperatura certa. Fizemos outras experiências, mas optámos por voltar a este, até porque a ementa era variada e pudemos experimentar diversos pratos.

 

Um hotel junto à floresta

A entrada para os nossos quartos no Arco Iris Lodge.

A entrada para os nossos quartos no Arco Iris Lodge.

O nosso hotel, o Arco Iris Lodge, de quartos e casas de madeira, simples, espaçosas e acolhedores, bem integradas num jardim belo e luxuriante, sugeria um passeio a montante, colina acima, pela floresta vizinha e sobranceira, o que fizemos logo na primeira manhã que lá estivemos. Foi lá que avistámos, pela primeira vez, uma e depois várias cutias (uma espécie local de capivara), na companhia de muitos coatis que pastavam livremente entre o miradouro da zona mais elevada, onde estávamos, e as cercas dos jardins do hotel. Depois de algum tempo embevecido, voltei para baixo através de um túnel entre renques de árvores, muito mais feliz do que subi.

Esta serpente verde, que tem alguns centímetros, chega a estar vários dias assim até passar a presa seguinte.

Esta serpente verde, que tem alguns centímetros, chega a estar vários dias assim até passar a presa seguinte.

No final do dia esperava-nos mais uma volta noturna na floresta húmida, enquanto ouvíamos mais umas histórias do guia sobre a região, a sua floresta e a sua biodiversidade. Apesar de estarmos quase em breu, fracamente alumiados pelas pequenas lanternas que nos tinham dado, ainda conseguimos, através do óculo que quase todos os guias de floresta trazem consigo, ver uma ou duas pequenas serpentes verdes venenosas, uma no alto de uma grande árvore, a algumas dezenas de metros do solo, e outra a pouco mais de meio metro de altura. Ambas estavam enroladas de cabeça para baixo, imóveis, numa espera de presa que pode durar até vários dias. Mas foram sobretudo as grandes borboletas azuis que animaram a maior parte de um percurso até quase à saída, quando uma preguiça e um coati captaram as atenções do nosso guia, que nos fez voltar atrás para mais uma mão cheia de fotos. E foi hora de voltar ao hotel, para mais uma noite embalada pelos sons do vento e da floresta.

 

Fotos: José Miguel Dentinho e Jorge Dentinho

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Publicado a 01 Abril 2023

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