Humor

Há uns tempos, o meu cunhado contou que estava a fazer um curso de comédia standup. Se inicialmente achei completamente estranho este interesse pelo humor, decidi perder um bocado de tempo a pensar no assunto. Tenho aprendido algumas coisas com ele, tem uma visão bastante global do mundo e achei que haveria por trás desta sua atividade mais do que parecia.

O humor pode ser um excelente veículo na comunicação. Rir ativa partes do cérebro que normalmente só funcionam em momentos de prazer – quando damos uma gargalhada produzimos menos cortisol (o que induz a calma e reduz o stress), produzimos endorfinas (como quando damos uma corrida) e oxitocina (mais conhecida como a hormona do amor).

Quantas vezes não respondemos que “fazer-me rir” é uma das qualidades mais importantes que procuramos no nosso parceiro?

Se trabalhar, para muitas pessoas, é uma coisa séria sem espaço para uma piada — atribuindo até alguma imbecilidade a quem a faz —, ao pesquisar mais sobre o tema, apercebi-me que fazer rir, principalmente em situações de stress, alivia a pressão e aumenta a criatividade, expandindo as hipóteses numa negociação ou numa avaliação complexa. Porquê? Porque rir da mesma coisa no mesmo momento na mesma sala une. Une o grupo e cria uma memória feliz.

Usar o humor a nível profissional é uma skill. Como qualquer outra, se for bem trabalhada e usada na altura certa pode ser fundamental. E por isso começa a ser valorizada para funções tão importantes como os mais altos cargos das organizações. Nos EUA, 27 % dos trabalhadores confirmaram admirar mais um líder que tenha algum sentido de humor.

Nas melhores universidades do mundo, onde se formam diretores e CEOs, têm no seu currículo disciplinas como Humor: Serious Business (Universidade de Stanford) e esta habilidade começa a ser valorizada aquando da escolha de determinadas pessoas para determinadas funções.

Eu uso o humor em muita coisa do meu trabalho. Na minha autoanálise para escrever o texto, descobri que tenho usado cada vez mais esta ferramenta à medida que fui envelhecendo e ficando mais autoconfiante.

Se, quando era nova, tinha receio de parecer a palhacinha de serviço, hoje, francamente, não me levo tão a sério. Sei os meus limites, conheço-os e, como tudo na vida, fui treinando o que resulta e o que não funciona.

A área comercial é mais aberta a este tipo de abordagem descontraída e o humor tem uma reação imediata. Ou se riem, ou não.

Assim, agora até consigo fazer uma piada, oportuna, em momentos mais pesados, para aliviar o ambiente.

A Madeleine Albright conta a história do dia em que os EUA descobriram que a Rússia tinha instalado na Casa Branca um bug [inseto ou erro informático]. Na reunião que teve com os representantes russos para discutir o assunto, colocou um alfinete no casaco com o formato de um escaravelho. Quando apareceu na sala, só isso aliviou logo o início da conversa. Se isto não é genial!…

Para mim, o humor que resulta a nível profissional pode ser autoinfligido ou sobre assuntos comuns do dia a dia, com os quais todos nos identificamos. Às vezes, basta estarmos atentos a pequenos detalhes, lembrar um momento curto e específico, usar a descrição certa. E esperar que o riso de um contagie os outros.

O meu cunhado sabe que tudo se treina. Até, e talvez muito principalmente, o humor. Não sei se se inscreveu no curso com este propósito específico, mas sei que lhe vai ser extremamente útil a nível profissional.

Da próxima vez que estiverem numa reunião e alguém fizer uma piada, apercebam-se do ambiente a seguir ao redor da mesa. De certeza que a ligação entre os intervenientes mudou, aproximou-se. Rir cria união.

E, como se sabe, criar pontos comuns e o sentimento de pertença é apenas a coisa mais difícil e mais importante numa relação profissional. Se for com boa disposição, melhor.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 07 Junho 2023

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