Este mundo não é para mulheres

Na passada sexta-feira, 24 de junho — Dia de São João na cidade do Porto — soubemos que o Supremo Tribunal dos EUA terminou com o direito constitucional das mulheres poderem abortar nos primeiros três meses de gestação. Assim, retirou um direito adquirido, situação nunca antes ocorrida, e permite que cada Estado decida sobre essa lei.

Assim, espera-se que Estados como Utah, Arkansas, Oklahoma, Idaho, Mississipi, North Dakota e South Dakota proíbam o aborto em qualquer circunstância, incluindo os casos em que a própria vida da mulher está em causa. Outros como Texas, Tennessee, Louisiana retirarão a exceção para casos de violação e incesto. Estima-se que esta decisão afetará 36 milhões de mulheres em idade reprodutiva e, essencialmente, as mais pobres e desprotegidas.

Em agosto de 2021, no Afeganistão, os Talibã voltaram ao poder e, desde então, as mulheres deixaram de poder ir à escola a partir dos 12 anos, são obrigadas a usar burka para sair de casa, não podem viajar desacompanhadas (nem em transportes públicos), o número de crianças forçadas a casar antes dos 18 anos aumentou, bem como a violência contra o género feminino. Das 27 casas de apoio a mulheres vítimas de abusos disponíveis no país, consta que apenas algumas estejam a operar. A maioria feminina foi despedida e está em casa, e as que continuam a trabalhar apenas podem fazê-lo na companhia de um familiar. Quatro em 10 crianças morrem antes do primeiro ano de vida, uma vez que o apoio médico às mulheres, durante a gestação e o parto, é praticamente inexistente.

Em todo o Mundo, 33 000 jovens por dia tornam-se noivas-criança.

Em muitos países africanos, como o Malawi e a Serra Leoa, são as mulheres e as crianças que têm de garantir o acesso a água e comida, consumindo três vezes mais do seu tempo semanal nesta função do que os homens.

Em 2011, na República do Congo, estimava-se que dois milhões de mulheres e meninas tinham já sido violadas pelo menos uma vez. Crê-se que um terço destas violações foram em contexto de guerra, e temos já assistido a testemunhos do mesmo noutras zonas de conflito, sendo este tipo de prática violenta uma arma sempre usada por algumas forças militares.

A mutilação genital continua a ser uma prática comum em muitas nações do Mundo, estimando-se, em 2015, que 125 milhões de mulheres e meninas vivas teriam sofrido com esta situação.

Nas Honduras, uma mulher é assassinada a cada 18 horas, com uma taxa de impunidade de 90 %. Apenas existem três abrigos de proteção à violência de género.

A 29 de Abril, estimou-se que 90 % das 5,5 milhões de pessoas que tiveram de fugir da Ucrânia eram mulheres e crianças.

Espera-se que a doença covid-19 atinja excecionalmente 47 milhões de mulheres, levando-as para situações de pobreza extrema, aumentado a sua distância relativamente ao género masculino.

Uma em duas mulheres admitem que elas próprias, ou alguém próximo, experienciou algum tipo de violência desde o início da pandemia, de acordo com um estudo realizado em 13 países.

Apenas 25 % dos cargos parlamentares mundiais são atribuídos a mulheres e só 42 dos CEO da lista Fortune 500 eram mulheres, em 2021.

2,4 biliões de mulheres em idade ativa em 178 economias ainda não têm os mesmos direitos profissionais que os homens, sendo que em 86 dos países existem leis que restringem de alguma forma a sua participação no mercado de trabalho e 95 não garantem trabalho igual, ordenado igual — estima-se que ganhem, em média e em todo o mundo, apenas 2/3 do que eles ganharão em toda a sua vida.

Calcula-se que faltem cerca de 135 anos para atingir a igualdade entre géneros. Mas este número foi calculado antes de 24 de junho de 2022.

São estes alguns exemplos de injustiças e atrocidades que mulheres, como eu!, sofrem diariamente, hora a hora, cada minuto, no planeta Terra.

Este Mundo não é para Mulheres.

Mas, percebam: isso não é bom para ninguém.

Fontes:

7 surprising and outrageous stats about gender inequality | World Economic Forum (weforum.org)

https://www.unwomen.org/en/

Women, Business and the Law – Gender Equality, Women Economic Empowerment – World Bank Group

5 Of The World’s Worst Countries for Gender Equality (globalcitizen.org)

WorldsWomen2015_report.pdf (un.org)

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 27 Junho 2022

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