Diário de viagem

Em cada viagem, tento aproveitar cada minuto que estou fora.

Planeio as horas de chegada e de partida, as reuniões que vou ter e, com base nisso, organizo os hotéis, possíveis restaurantes, lojas que só há nalgumas cidades, às vezes exposições, museus ou até concertos.

Entre mapas de comboios, metro e autocarros, raramente uso táxis ou Ubers.

Se ando mais cansada, faço maratonas de séries que vou guardando, leio livros que tenho na cabeceira esquecidos, peço room service. Adoro room service.

Por estes dias estive em Amesterdão. Já perdi a conta às vezes que lá estive. E se no primeiro dia estiquei as pernas no quarto do hotel (se bem que antes andei a vaguear por entre a multidão que saía do jogo do Ajax – também adoro passear entre pessoas), quando terminou a minha reunião e não consegui antecipar a viagem, guardei a mala em Schiphol e meti-me no comboio até ao centro da cidade.

Dia de calor, verão autêntico, pus no Google Maps o restaurante que queria experimentar. A 2 km da estação central, onde me levava o comboio. Queria muito lá ir, nem os saltos altos me demoveram, mas lamentei não os ter trocado pelas sapatilhas que ficaram na mala no aeroporto.

Que belo local, decoração bonita, um ambiente agradável, cozinha aberta. Sentei-me numa mesa num canto, virada para a sala e apreciei os restantes convivas. Almoços de negócios, pais e filhos, amigos e quatro raparigas que se sentaram mesmo na mesa à minha frente.

Carregadas de sacos, abriram cada um e abanavam sandálias, calções, vestidos. Parecia estar a assistir a um episódio de “O Sexo e a Cidade” ao vivo e, por entre garfadas da minha salada de polvo e o gole do meu Rosé, enviei às minhas amigas fotografias tiradas à socapa, rindo-me baixinho.

Ainda visitei umas lojas que gosto, experimentei roupa que marquei nas respetivas páginas on line (não carrego sacos, ou pelo menos tento) e regressei a tempo de usufruir do lounge.

Quando publiquei a foto do restaurante e da minha mesa, tive amigos que comentaram que bem que aproveito a vida.

Aproveito. Aproveito bem a vida. Mesmo em viagem sozinha, mesmo em trabalho e mesmo que faça 10 km a pé com sapatos de tacão.

No avião, abro as notas do telemóvel e escrevo este texto. As cadeiras das aeronaves sempre me inspiraram muito. E, lá está, há que aproveitar isso também!

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.