Capitalizar as emoções 

Há uns anos, muito antes de pandemias e quando as guerras na Europa pareciam terminadas, participei numa conferência no Porto. Um dos convidados era o Alain de Botton, um filósofo suíço fundador da School of Life, que foi questionado acerca do fim do capitalismo. Ele respondeu que este estava longe de terminar. Também disse que, de facto, as atividades que existiam para a manutenção das nossas necessidades básicas — comer, beber, viver, deslocar-se, proteger-se do frio e do calor — já estavam quase todas inventadas. Mas tudo o resto, tudo o que mexia com as nossas emoções, relações sociais, crescimento pessoal, autoconhecimento, tudo isso ainda estava a começar. Todo um mundo de sensações estava por explorar.

Passados estes anos, e numa altura em que as empresas sofrem com a “falta de talento”, retenção de pessoas, entre tantas outras realidades, apercebo-me que, de facto, os novos negócios de que se fala tocam as emoções, as partes emotivas da nossa vida.

Fala-se da felicidade no trabalho, da saúde mental, ferramentas para medir a satisfação, de como comunicar, dos diferentes tipos de liderança.

Achamos todos bem que se explorem estas áreas, mas temos de ter presente que estes negócios à volta destes conceitos foram criados para ganhar dinheiro. É uma indústria que, apontando para o bem-estar, tem de criar riqueza.

Tal como melhores alimentos, melhores métodos de análise, novos medicamentos foram desenvolvidos no último século para melhoria da nossa vida, as ferramentas que apoiam a parte afetiva da nossa vida, as nossas emoções, foram pensadas para resultarem em proveitos financeiros.

Voltamos ao início — não deixa de ser capitalismo.

Não tem nada de mal.

Mas não nos esqueçamos disso.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 20 Outubro 2023

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