Cancro da Mama

Neste Dia Internacional da Mulher, vamos ler sobre a desigualdade de género, as diferenças salariais, a violência contra as Mulheres, a falta de representatividade em cargos de decisão, entre tantos outros assuntos que, infelizmente, ainda são importantes de abordar, discutir e chamar a atenção. No entanto, gostava de fugir destes temas e falar sobre saúde. Num estudo ainda anterior à pandemia, 78% das mulheres disseram que já adiaram consultas próprias para cuidar dos seus familiares. Sendo elas as cuidadoras primárias da família, este número não surpreende. Cada uma que lê este texto deverá, de certeza, já ter adiado exames ou consultas porque teria de ir buscar os filhos, dar apoio a um familiar. Há cerca de cinco anos tive, muito perto de mim, três casos de mulheres com cancro da mama. Dois na família próxima e uma pessoa que trabalha comigo. Duas delas tiveram recentemente a alta da doença, o marco dos 5 anos, que foi festejado com muita alegria. Mas a terceira, uma mulher nova e com ainda muita vida pela frente, infelizmente, passou por mais processos oncológicos e não resistiu.

De acordo com a Liga Portuguesa Contra o Cancro, todos os anos, 7000 mulheres, em Portugal, são diagnosticadas com cancro da mama, sendo que, dessas, 1800 não sobrevivem. Isto torna esta doença a segunda causa de morte por cancro na mulher.

Há uma série de fatores que podem potenciar o aparecimento do cancro, desde o histórico familiar, estilos de vida, densidade da mama, etc. Mas, a verdade, é que parece arbitrário, não há uma ciência exata e o melhor mesmo é a prevenção.

Eu faço o rastreio todos os anos, já desde os meus 35. O que é sugerido é que se faça a partir dos 40 anos, mas eu antecipei. Se a doença na minha família vem da parte paterna (dizem que o risco aumenta se vier da parte materna), a verdade é que ainda não saltou nenhuma geração – avó, tia, prima. E se eu não vivo preocupada, não facilito.

Em Portugal, regra geral, o rastreio do cancro da mama é bem feito. Num dos casos próximos de mim, foi descoberto depois uma chamada de rotina para a consulta do médico de família. Tenho muitas amigas que fazem acompanhamento no hospital público. E digo muitas porque são mesmo muitas. Não com cancro, com outras patologias associadas. Nos exames da mama são muitas vezes encontradas doenças que, não sendo cancro, têm de ser tratadas. E examinadas. E operadas. E sempre acompanhadas.

Esta realidade não é igual noutros países da Europa. Sei, por exemplo, que no Reino Unido o rastreio da mama não é tão comum como cá, mesmo no privado terá de haver algum tipo de sintomas para prosseguir para uma mamografia.

Assim, não há desculpa para que não façam os vossos testes todos os anos. A pandemia afetou a percentagem de mulheres que fazem o rastreio – em 2020, das cerca de 350 mil convidadas ao exame apenas metade respondeu positivamente. Temos de inverter esta tendência!

A estatística, felizmente, continua do lado do doente e Portugal é o país da Europa com maior taxa líquida de sobrevivência – 91 % para a média da União Europeia, de 87 %.

Continuaremos a assistir a pessoas, de quem gostamos muito, a sofrer desta doença e a vencer! Mas também a despedirmo-nos de mulheres que vão fazer muita falta aos seus filhos, netos e irmãos. Que nos deixam apenas o consolo do que eram, do que ensinaram e das memórias criadas.

Neste Dia Internacional da Mulher, o meu único desejo é que sejam cada vez menos.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 08 Março 2023

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