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Autoconhecimento

A primeira vez que tive consciência de mim a nível profissional foi quando regressei ao trabalho depois de ter o meu segundo filho. Tinham ocorrido imensas mudanças, com a integração de muita gente. E eu apercebi-me que o meu caminho, na função que tinha, estava condenado. Então, aprofundei o que queria e gostava de fazer, apostei os meus jokers todos, e apresentei uma mudança de carreira aos meus chefes da altura. Fiz um plano para uma função que eu criei, nova, expliquei as vantagens para a empresa e para mim, porque queria fazê-lo e para chegar onde. Tive a sorte que me tinham em boa conta, fui ouvida, e a minha vida naquela empresa mudou.

A segunda vez, estando eu a investir num determinado percurso, fui promovida. Nessa altura, um dos administradores explicou-me que estavam a pensar em mim para, no futuro, ocupar o lugar que eu sempre tinha ambicionado. E eu, nesse preciso momento, compreendi que não era nada daquilo que eu queria fazer. Tive uma visão da minha vida na década seguinte e, conhecendo-me e o que me rodeava, tive completa noção que tinha de escolher outro caminho. Assim fiz.
É difícil conhecermo-nos. Obriga-nos a despir todo o preconceito, toda a expectativa, a imagem que temos nossa, que os outros têm de nós, e, muito mais complicado, quem queríamos ser. E não somos.
Mas, no limite, ajuda-nos a potenciar as nossas forças e a controlar, ou até valorizar, as nossas fraquezas.
Perceber o que gostamos de fazer, o que queremos da nossa vida profissional e pessoal, é o factor chave para o sucesso. O nosso sucesso. Não o que os outros esperam de nós, ou o que nós fomos criando dia a dia, na rotina, nos encontrões dos tempos, no querermos controlar as incertezas.
E o nosso sucesso é tantas vezes tão diferente do que definimos pelos nossos 20, 30 anos. Porque é mais complexo. Mas muito mais acessível, porque aprendemos que depende muito mais de nós do que dos outros.
No dia em que temos uma fotografia nossa, interior, mesmo que ainda pouco nítida, é o momento, também, em que passamos a ter uma melhor noção do outro. Ao nos conhecermos, temos outra atenção a quem nos rodeia.
Esta semana aconteceu que estive sentada à frente de uma pessoa que se conhece muito bem a si própria. Que eu admiro muito pela capacidade de análise, de si e dos outros. Por isso é tão competente na sua função, e por isso adoro falar com ela. E eu, comentando acerca do que ainda teria para fazer, recebi como resposta a sua avaliação do meu futuro. Em duas frases.
E foi mais um momento de consciência de mim. Do que ainda posso fazer. Pode não ser o que ela me referiu, mas conseguir fazer este jogo de espelho com quem nos quer bem, mas é independente na opinião, ajuda neste processo de clareza e lucidez.
O autoconhecimento é dinâmico. A pessoa que sou hoje não é a mesma de ontem. Especialmente depois de tempos tão conturbados que todos vivemos e que nos obrigaram a questionar certezas que não existiam, afinal.
O Mundo muda, o corpo muda, a família muda, as crianças crescem, temos perdas e ganhos, conhecemos gente que nos influencia, ouvimos histórias que nos marcam.
Procurar-me e procurar os outros é um reencontro. Para sermos o melhor que conseguirmos e, assim, viver uma vida com mais qualidade.
Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui. 
Publicado a 17 Novembro 2021

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