Nos últimos dias deparei-me com um debate sobre bullying nas escolas e com um artigo sobre burnout em millennials. Fiquei a refletir sobre os temas e sobre os argumentos debatidos. Aparentemente, não estão conectados mas escavando mais fundo, atrevo-me a dizer que quer o bullying, quer o burnout nos jovens, parecem apresentar uma raiz comum: a fragilidade das lideranças.
Sendo que o ser humano aprende pelo exemplo, o comportamento dos mais jovens não será o reflexo dos nossos próprios comportamentos? Sejamos pais, professores, CEO ou cidadãos constituintes de um todo chamado sociedade. Em algum momento somos líderes, todos damos exemplos. Seja educando o cão, liderando uma empresa, parando numa passadeira para dar passagem aos peões, e em tantos outros momentos.
Como estão os nossos exemplos? Será que temos a real consciência do impacto que as nossas ações têm sobre as pessoas que nos rodeiam? De modo especial nas gerações mais jovens?
O automatismo, a corrida do dia a dia, a competição, o não perder tempo parecem não deixar espaço para desenvolvermos competências de aprimoramento: das nossas relações humanas, dos nossos exemplos, das nossas lideranças.
Somos treinados desde tenra idade para sermos bons a fazer o nosso trabalho, para escolhermos uma profissão e lutar muito de forma a nos destacarmos na nossa área. Agora será que somos treinados para criarmos relações fortes, para gerarmos bons ambientes de trabalho, para sermos líderes que servem as equipas?
Fenómenos como o burnout ou o bullying remetem-nos para a urgência de uma revolução comportamental. Para a coragem de parar, rever e reescrever a nossa liderança. E sim, cabe-nos a todos!
Empatia precisa-se
A palavra empatia está na moda. Urge trazê-la e materializá-la no desfile do quotidiano. “Calçar os sapatos do outro” é uma expressão usada correntemente para explicar a empatia, definida como a capacidade de se colocar no lugar do outro ao ponto de sentir o que outro sente, procurando assim compreender o seu comportamento. Especialistas nas áreas da filosofia, psicologia, sociologia e até neurociências estudam este fenónemo e apontam para a sua importância na melhoria das relações humanas, fator fundamental para um bom ambiente de trabalho.
Vamos mais longe? Já observou que o que mais desgasta o ser humano são os conflitos não só no ambiente de trabalho mas também, e principalmente, com os entes queridos?
O desenvolvimento de skills como a empatia permite um aprimoramento da inteligência emocional e consequentemente uma maior qualidade de vida quer da pessoa que a desenvolve, quer dos que a rodeiam. Na minha perspetiva e de acordo com a metodologia com a qual trabalho — o DeROSE Method —, as competências socioemocionais são a chave para obter sucesso não só no âmbito profissional, como em todas as esferas da vida. De acordo com o escritor DeRose: “Seja na profissão, no casamento, na família, nas amizades, nos projetos de vida: em tudo, as habilidades socioemocionais são as competências que derrubam barreiras, conquistam simpatias e proporcionam os melhores resultados.” (Don’t Fight, Be Bright; 2020 )
A ousadia de parar e olhar o outro ser humano olhos nos olhos, com o intuito de ouvir e querer entendê-lo genuinamente, perceber e respeitar a sua visão, são experiências que marcam e transformam. Essa capacidade de fazer o outro sentir-se importante, perceber que a sua perspetiva é ouvida e valorizada, que efetivamente colocámos as suas lentes, é um procedimento revolucionário. Transforma a forma de estar, de conectar e de liderar. Eleva as relações humanas.
Liderança humanizante
Para muitos, liderar consiste em inspirar, conduzir, orientar outros. Tudo certo. Vejo a liderança como um processo em que tudo isso ocorre sob o olhar atento do cuidar. Metas, pressão, números para alcançar. Será que é possível conciliar com uma liderança mais humanizante?
Vamos falar de luxo. Mais precisamente dos serviços nesta área. Um dos aspetos que mais aprecio nas marcas e hotéis de luxo é o esforço para proporcionar uma experiência Wow. Ou seja, a procura incessante por tornar a experiência do cliente memorável. Aspetos como: manter o cliente no centro das preocupações, personalizar, gerar envolvimento sem invadir, promover a elegância na forma de abordar e interagir, superar as expectativas, tornam a experiência marcante, fidelizam e trazem bem-estar ao cliente e satisfação e alcance de metas para quem o serve.
E se trouxéssemos estes atributos de luxo para o nosso comportamento, para o nosso dia a dia? Já imaginou o poder de uma liderança assim? De uma liderança humanizante?
Criar uma cultura pessoal e empresarial pela mão da empatia, onde as pessoas se sintam seguras, respeitadas e valorizadas. Onde tenham espaço para expressar a sua máxima performance humana e profissional. Os números são melhores, as metas batidas, os resultados obtidos. Menos burnout, menos bullying.
Utopia? Felizmente não. Nelson Mandela, Gandhi e outros inspiram-nos até hoje com traços desta liderança. Na verdade, o desafio é enchermos o mundo. E que tal começarmos por nós próprios? Afinal, como refere o professor DeRose: “Imagine se você passa pela vida e não modifica, não transforma positivamente a vida das pessoas que cruzaram com a sua? Passou pela vida e não viveu.”
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