Ana Santos: Chief Project Officer

Começou a carreira como programadora e quando surgiu a oportunidade de dar o salto para uma empresa que estava a nascer, não hesitou e correu o risco. Faz parte dos 20% de mulheres da Fabamaq, empresa que faz jogos para casinos, mas isso não a impediu de crescer. Desde 2015 que é Chief Project Officer.

Ana Santos é Chief Project Officer na Fabamaq.

Ana Santos licenciou-se em Engenharia Informática no Instituto Superior de Engenharia do Porto e começou a carreira como programadora na Sistrade. Entrou na Fabamaq em fevereiro de 2010, precisamente quando a empresa dava os primeiros passos. Ao longo da última década tem crescido com a empresa, que começou com menos de 10 colaboradores e hoje conta quase com duas centenas.

Foi nesta empresa tecnológica de desenvolvimento de software e produtos para a indústria de jogos de casino, que Ana Santos descobriu na gestão de projetos a sua paixão. O facto de a Fabamaq ter menos de 20% de mulheres, não atrapalhou a sua evolução. Foi responsável pela implementação de métodos ágeis, aumentando o seu nível de influência e responsabilidade até se tornar Chief Project Officer da empresa em 2015. O desenvolvimento e a evolução do outro, a aprendizagem contínua e a investigação sobre a cultura das empresas são as suas principais fontes de motivação para continuar a crescer.

 

Como nasceu o seu interesse pela Engenharia Informática e que futuro ambicionava quando terminou o curso? 

O interesse pela Engenharia Informática surgiu no momento da escolha do curso na faculdade. Gostava das áreas de Ciência, Matemática e principalmente das aulas de TIC. Na altura, a relação com os computadores não era a mesma de hoje e as aulas de TIC eram as que me despertavam mais interesse. Após a escolha e a enorme aprendizagem no decorrer do curso, ambicionava especializar-me numa área de programação e dar cartas como programadora. Com isso via-me a evoluir para cargos de liderança de equipas, o que acabou por acontecer naturalmente. 

O que a apaixonou no projeto Fabamaq? 

Há 11 anos o desenvolvimento deste tipo de produtos (jogos) era muito raro em Portugal. Existiam muitas empresas de desenvolvimento de portais, de ERP’s — Enterprise Resource Planning e poucas com produtos como os da Fabamaq. O que me apaixonou neste projeto foi a novidade do produto, a equipa jovem e o risco de estar desde o início numa empresa. Ou seja, a oportunidade de ser parte de algo desde o dia 1 e ajudar a construir produtos e estratégias. 

Os jogos produzidos na Fabamaq são jogados em milhares de salas e espaços de jogo físicos de diferentes mercados nos continentes americano, europeu e asiático.

O que faz exatamente a empresa e quem são os seus principais clientes? 

A Fabamaq é uma empresa tecnológica que cria software e produtos para a indústria de jogos de casino. Atualmente são desenvolvidas na empresa soluções para os casinos físicos e online. 

Enquanto software house desenvolvemos todo o pacote de jogo dentro de portas. Assim o software, os conteúdos multimédia, os conceitos de jogo, as lógicas de premiação, a gestão dos sistemas presentes nas máquinas (luzes, aceitadores de notas, impressoras de tickets) e todas as outras áreas que acabam por estar direta ou indiretamente ligadas ao produto jogo de casino são trabalhadas na Fabamaq. 

Os nossos clientes estão dispersos por vários mercados externos, sendo que os jogos produzidos na Fabamaq são jogados em milhares de salas e espaços de jogo físicos de diferentes mercados nos continentes americano, europeu e asiático. Além disso, contamos ainda com a vertente online, que faz com que os nossos jogos estejam disponíveis em casinos online acessíveis a partir de diferentes geografias do mundo. 

O que mais gostava quando fazia desenvolvimento de software e qual o projeto que mais a marcou nessa fase? 

O que me cativa mais no desenvolvimento de software é, antes de mais, a capacidade lógica que está associada ao desenvolvimento de algo. Depois é a concretização em si, pois é bom vermos tudo a acontecer após termos estado algumas horas a trabalhar sobre linhas de código. 

Houve um jogo de bingo em particular que me marcou. No primeiro ano da Fabamaq tínhamos um desafio muito claro: chegar ao final dos 12 meses e entregar um produto para o mercado de Espanha. Isso era muito importante, pois permitiria ao cliente abrir este mercado com novidades feitas na Fabamaq. 

Este desenvolvimento foi bastante interessante porque tínhamos múltiplos desafios ao mesmo tempo. Além de lidarmos com toda a novidade, com a criação de equipas e com a criação de laços com os colegas, tínhamos o desafio de perceber todo o sistema que já existia para produzimos o nosso primeiro produto. No final foi muito gratificante ver o projeto cumprido com sucesso. 

Senti um aumento claro das minhas responsabilidades de negociação e gestão da relação com os stakeholders da Fabamaq e maior participação e envolvimento nas decisões do board de gestão da empresa.

O que mudou quando passou a Chief Project Officer? 

Senti uma alteração clara ao nível da responsabilidade e das competências que eram esperadas de mim. Antes de me tornar Chief Project Officer, fui Project Manager durante quase dois anos. Nesse período estava muito focada no apoio às equipas numa lógica de planeamento, elaboração e tracking dos projetos da empresa. Assumia a gestão da relação com os stakeholders e produzia documentação, procedimentos e métricas a ter em conta na execução dos projetos. 

Com a transição para Chief Project Officer ficou sob a minha alçada a organização e gestão das áreas de processos e projetos de toda a empresa. O foco central passou a ser acompanhar, apoiar e orientar os Project e Process Managers da Fabamaq e reestruturar os processos internos da organização para uma metodologia de trabalho mais ágil. 

Senti também outras mudanças, com um aumento claro das minhas responsabilidades de negociação e gestão da relação com os stakeholders da Fabamaq. Outra mudança foi também a maior participação e o maior envolvimento nas decisões do board de gestão da empresa. 

Quais os principais desafios da sua função numa empresa como a vossa? 

O dia-a-dia de uma Chief Project Officer na Fabamaq passa por dar suporte, apoiar, incentivar e fazer evoluir os Project e Process Managers da empresa. Sou também responsável por definir estruturas e processos destinados a garantir a entrega de valor. No board executivo da Fabamaq, além de parte ativa na tomada de decisões, apoio ainda os meus colegas no momento de iniciarem novos projetos que sejam vantajosos para as respetivas áreas. 

Os novos desafios tiram-me o sono no sentido positivo. Adoro quando estamos a começar algo e sinto o compromisso, a paixão pelo trabalho, a partilha de ideias e a garra numa equipa para fazer face ao que aí vem.

Que características e competências considera fundamentais para desempenhar bem a sua função? 

Esta é uma função que exige o domínio de conhecimentos técnicos (na gestão de projetos e processos) e sociais (na gestão diária de pessoas com perfis e backgrounds profissionais diferentes). No equilíbrio entre estes dois universos, acredito que as competências mais relevantes para desempenhar esta função são a flexibilidade, a adaptabilidade, a resiliência e a proximidade. Esta última numa lógica de ouvir o outro, de ser capaz de “calçar os seus sapatos” e ser empática com o seu contexto. 

O que mais gosta naquilo que faz e o que lhe tira o sono? 

Os novos desafios tiram-me o sono no sentido positivo. Adoro quando estamos a começar algo e sinto o compromisso, a paixão pelo trabalho, a partilha de ideias e a garra numa equipa para fazer face ao que aí vem. 

Por contraposição, não gosto de sentir falta de empenho ou compromisso de qualquer pessoa quando não há motivo lógico para que tal aconteça. Isso tira-me o sono numa perspetiva negativa. 

Quem é para si a grande referência na área da tecnologia e porquê? 

Não sigo nenhuma referência em particular. Prefiro beber da sabedoria técnica e estratégica de várias fontes. Gosto sobretudo de me guiar por uma gestão na área tecnológica que tenha na sua visão uma cultura de proximidade, mestria e autonomia. 

Somos todos iguais, não precisamos de provar mais do que ninguém, apenas precisamos de fazer bem o nosso trabalho.

Continua a haver poucas mulheres na área da tecnologia e ainda menos em funções de liderança. Porque razão isso ainda acontece e o que faz a sua empresa para atrair, reter e desenvolver o talento feminino? 

Penso que estamos a viver uma mudança lenta de paradigma. Se viajarmos até há 12 ou mais anos atrás, a entrada de mulheres no ensino superior na área de tecnologia era muito reduzida e a saída ainda mais, pois algumas não terminavam o curso. No meu caso, por exemplo, eram seis as mulheres entre os 110 alunos que entraram no curso naquele ano e acredito que esta era a realidade da Engenharia Informática nas outras faculdades e institutos. Acho que estamos agora a ver o impacto desse cenário refletido nas empresas de tecnologia. Porém, o cenário está a mudar e já há mais presença feminina. 

Não consigo apontar de uma forma clara as razões pelas quais há menos mulheres no cargo de liderança. Deve ser normal num processo de recrutamento ou promoção que homens e mulheres sejam avaliados por uma lista de critérios técnicos e sociais estabelecidos para a função e não que seja o sexo dos candidatos a determinar as suas maiores ou menores probabilidades de serem escolhidos para a função a desempenhar. 

O nosso processo de recrutamento tem em conta as competências independentemente do sexo, raça ou qualquer outro fator suscetível de viés. É nisso que acreditamos e é isso que praticamos na Fabamaq. Acima de qualquer ideia pré-concebida estará sempre a normalidade e o bom senso. 

Qual a percentagem de mulheres em funções tecnológicas na vossa empresa? 

A Fabamaq conta atualmente com 194 gamers e neste núcleo há 37 mulheres, número que se traduz numa percentagem de 19,07% do número total de colaboradores. 

Que conselho deixaria a uma mulher que queira fazer carreira nesta área? 

Sejam curiosas, flexíveis e mantenham um espírito aberto às novas aprendizagens. Sejam bastante resilientes, mas não mantenham o constante sentimento de terem de provar o que valem. Somos todos iguais não precisamos de provar mais do que ninguém, apenas precisamos de fazer bem o nosso trabalho. 

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