Ana Maria Sampaio:
“O teu lugar és tu que o fazes”

Aos 10 anos vendia caracóis na praia. Aos 20 anos embarcou numa viagem pelos Estados Unidos com uma desconhecida. Aos 30 deixou o conforto de uma carreira para se arriscar por conta própria. Hoje, o maior desafio da CEO da BMS é ajudar a mudar o mundo através dos projetos de responsabilidade social a que dá vida através da sua empresa.

Aos 30 anos Ana Maria Sampaio achou que era a altura certa para lançar um negócio próprio.

O ar sereno de Ana Maria Sampaio esconde uma mulher apaixonada pelo que faz e com muitas “ganas” de ajudar a mudar o mundo. Nasceu com o bichinho do empreendedorismo, de tal maneira que desde miúda sonhava ter um negócio próprio. E começou a preparar-se cedo: aos 10 anos já aproveitava as férias para apanhar caracóis e vendê-los aos restaurantes. Depois foi diversificando as formas de fazer dinheiro pela venda de colares e pulseiras, bolos, e também por empregos temporários que a ajudavam a ganhar e juntar dinheiro para a sua grande paixão: as viagens. Hoje, aos 43 anos, partilha esta paixão, e a do mergulho, com o marido e os dois filhos, de 15 e 10 anos. “Planeamos as nossas viagens em função do mergulho”, confessa.

Sempre vestiu a camisola de todos os projetos em que participou e não é de ficar à espera de indicações para seguir caminho.

Licenciou-se em Economia não porque fosse um sonho, mas para ganhar bases sólidas para o seu percurso profissional porque o seu objetivo já era o marketing. E é nesta área que sempre tem trabalhado, primeiro por conta de outrem, na Publicis, na Sonae e na Zero a Oito, e desde há 12 anos também por conta própria na BMS. Sempre vestiu a camisola de todos os projetos em que participou e não é de ficar à espera de indicações para seguir caminho. “Lembro-me que o meu primeiro diretor-geral me chamou várias vezes para me dizer: ‘Parabéns, foi atirada aos cães e conseguiu resolver’, diz com orgulho.

Na BMS – Marketing e Publicidade tem usado grande parte da experiência que adquiriu no marketing para crianças, mas não só. Ali se desenvolvem os mais variados tipos de projetos: desde eventos para 1500 convidados a ações de responsabilidade social para evitar comportamentos de risco dos mais novos. Esta é a área que dá sentido à sua vida e onde quer continuar a apostar cada vez mais.

Como se apresentaria em poucas palavras?
Sou a Ana Maria Sampaio, tenho uma empresa na área da comunicação, que neste momento está mais focada para projetos de responsabilidade social. Produzimos conteúdos pedagógicos para escolas, fazemos pontes entre empresas e instituições. Este é o meu desafio há 12 anos, é um projeto que tem crescido passo a passo, e de que muito me orgulho.

Acho que é do meu pai que herdei a energia que preciso para conciliar o trabalho com a família.

Ter um negócio próprio era um sonho de menina?
Sempre me imaginei como psicóloga ou a ter um negócio. Estava sempre a inventar brincadeiras à volta disso: ou mercearias ou papelarias. Mas também sempre gostei muito da área da psicologia, compreender as pessoas, especialmente na sua vertente de consumidoras, entender como tomam as decisões.

Tinha modelos de empreendedorismo na família?
O meu pai sempre teve uma grande paixão por aquilo que faz. Sem ter uma empresa, sempre foi muito empreendedor: trabalhava e fez o doutoramento em simultâneo, o que exigiu uma enorme dedicação. Tinha imenso entusiasmo e energia e acho que é dele que me veio também a energia que preciso para conseguir conciliar o trabalho com a família.

Procurou na licenciatura em Economia a conciliação entre a psicologia e o empreendedorismo?
Economia permitiu-se juntar a psicologia, o marketing e a publicidade e dar-me uma base mais sólida e abrangente para mais tarde decidir o meu rumo profissional. Acabei por depois fazer uma pós-graduação em marketing, que já estava planeada.

A vontade de fazer coisas levou-a a ter pequenos trabalhos desde cedo?
Desde os meus 10 anos que estava sempre a ver o que podia fazer. Vendia bolos, pulseiras e colares, caracóis… Tinha uma banqueta na praia e também ia aos restaurantes vender. O objetivo sempre foi ganhar dinheiro para viajar. Adoro viajar.

Qual a primeira viagem que a marcou?
A primeira viagem foi a Londres, mas a que me marcou foi a que fiz aos Estados Unidos no segundo ano de faculdade. Preparámos tudo para irmos três pessoas, mas à última hora uma delas falhou e acabei por partir com uma pessoa que nem sequer conhecia (o elo de ligação era a minha amiga que não pode ir). Foi um mês a viajar sem nada marcado, a aproveitar as oportunidades que surgiam. Fomos ao Havai porque havia uma promoção naquele dia, mas foi assim que descobri a minha grande paixão pelo mergulho. Tinha 20 anos. Era uma altura em que ainda não havia telemóveis. As multas de excesso de velocidade chegavam cá antes de mim!

Às vezes na vida temos que atirar a mochila para o outro lado do muro e saltar. Foi o que fiz quando lancei a BMS.

O que é que aprendeu nessa viagem?
Viajar com alguém que não se conhece, estar sempre a procurar consensos, o espírito de aventura, os riscos calculados, a confiança nas pessoas que não conhecíamos, a exposição a pessoas tão diferentes de nós. Foi uma experiência muito enriquecedora.

 

Ana saiu da faculdade direta para a Publicis, onde foi gestora de projeto e começou a construir currículo. Quatro anos depois integrou a Sonae como diretora de marketing dos Funcenter, com carta branca para dinamizar os espaços e as equipas. Sempre se entregou de corpo e alma aos projetos em que se envolve, mesmo não sendo 100% seus. Depois de uma paragem para acompanhar uma expatriação do marido em Genebra, mal teve tempo de desfazer as malas no regresso e já estava de novo no mercado. Mas rapidamente o bichinho do empreendedorismo começou a desinquietá-la. Com dois colegas com quem tinha trabalhado na Publicis, criou a BMS – Marketing e Publicidade e foi a primeira a largar o emprego para se dedicar totalmente à empresa.

 

Qual a decisão mais difícil na sua carreira?
Foi lançar a BMS! Eu estava a trabalhar numa empresa em que gostava muito de estar e sentia-me muito reconhecida. Estava numa situação muito confortável e tomar a decisão de começar uma empresa do zero foi difícil, foi preciso ter coragem. Costumo utilizar uma expressão: “Às vezes na vida temos que atirar a mochila para o outro lado do muro e saltar”. Foi o que fiz, dar o salto para um projeto em que acreditava que podia ser possível, um sonho pelo qual estava disposta a lutar com todas as “ganas”.

A minha maior preocupação é ter uma equipa coesa, a trabalhar com prazer e com paixão e que se reveja nos projetos.

O que me motivou foi uma grande vontade de ter um negócio próprio, toda a experiência e contactos que tinha acumulado ao longo do meu percurso profissional. Tinha 30 anos, senti que estava na idade certa para dar este passo na minha vida. E tinha uma grande confiança que íamos conseguir vingar. O crescimento foi sempre passo a passo, à medida que íamos ganhando um cliente, um projecto, íamos aumentando a equipa.

Quais os principais desafios que tem enfrentado como empreendedora?
A minha maior preocupação é ter uma equipa coesa, a trabalhar com prazer e com paixão e que se reveja nos projetos, que não esteja a marcar o ponto. O  meu maior desafio é o crescimento permanente da BMS e ter conseguido ultrapassar as adversidades que passámos durante os primeiros anos de crise. Com a grande confiança que sempre senti dos nossos clientes e parceiros, temos  conseguido enfrentar os desafios recorrentes de uma actividade criativa e competitiva, que muitas vezes nos obriga a reinventar-nos de uma forma muito dinâmica e quase natural. Essa pressão diária de adaptação e criatividade é o meu maior desafio, e das equipas com quem tenho o privilégio de trabalhar. Fazer por recorrentemente, criar o futuro!

Houve momentos de angústia?
Sempre tivemos um crescimento muito natural, mas há três anos tivemos de fazer alguns ajustamentos. Esse foi talvez o meu primeiro maior desafio. Mas resistimos. Têm sido 12 anos a reinventar, a renovar, a adaptarmo-nos aos clientes. A verdade é que o nosso primeiro cliente continua connosco. Nós somos low profile, mas conseguimos fidelizar clientes e são eles que passam palavra.

Gosto muito de juntar pessoas diferentes a pensar num novo projeto.

Qual tem sido a grande diferença entre trabalhar por conta de outrem e por conta própria?
Sempre vesti muito a camisola. Quando estava noutros projectos sentia-os como meus mesmo que não fossem, tinha muita responsabilidade. Agora tenho um bocadinho mais, claro, porque tenho famílias que dependem diretamente de mim. É um desafio maior, mas gosto desta autonomia. Gosto muito de juntar pessoas diferentes a pensar num novo projeto.

Isso significa que o balanço é positivo.
É muito positivo. Por exemplo, na Sonae também foi muito positivo, porque também senti essa autonomia. E quando eu não sinto essa autonomia e essa independência não gosto de estar nos projetos.

 

Os seus olhos brilham quando fala sobre a experiência de dois anos na Sonae. Foi responsável pelos Funcenter numa fase em que precisavam de um novo fôlego e Ana teve carta branca do diretor geral para fazer o que fosse preciso. Adorou essa autonomia e gostou ainda mais do trabalho que fez junto das equipas. Não bastava pensar numa estratégia de dinamização dos espaços – que passou pela realização de eventos e pela aproximação às escolas, de forma a que os espaços estivessem sempre com movimento. Era também necessário motivar os mais de 100 colaboradores para que acolhessem os novos clientes com entusiasmo. Ana recorreu a cursos de teatro para ajudar a mudar a atitude e os resultados não se fizeram esperar. Gerir e motivar equipas é uma dos seus maiores ativos, que continua a usar diariamente na BMS.

 

Quais são as qualidades essenciais para ter sucesso como empreendedora?
Ter paixão pelo que se faz, gostar de trabalhar em equipa, envolver as pessoas, motivá-las, ter muita persistência, muita energia, porque não há horários. E ter criatividade, ser capaz de pensar em perspectivas diferentes, novas formas de fazer as coisas, novos caminhos, explorar novas áreas.

Ana Maria Sampaio BMS

Ana Sampaio para duas vezes por ano para recentrar a vida pessoal e profissional.

Se pudesse voltar atrás e mudar alguma coisa no seu percurso, o que é que faria de diferente?
Não gosto de me prender aos “ses” e pensar “se tivesse feito de forma diferente” porque todas as fases, todos os processos contribuíram para formar a pessoa que sou hoje em dia.

Com que erros mais aprendeu e de que forma isso a ajudou a evoluir?
Tenho o hábito de fazer individualmente um balanço diário do que correu bem no dia e o que correu menos bem e pode ser melhorado. Gosto de parar pelo menos duas vezes por ano, durante três dias em silêncio e recentrar a minha vida pessoal e profissional. Pensar no percurso que tenho feito e como posso melhorar. E também tento incutir na minha equipa a avaliação dos projetos e estarmos permanente a acertar “agulhas” e a melhorar os procedimentos para que o resultado final seja melhor.

O que procura nas pessoas que recruta para trabalhar consigo?
Claro que as competências técnicas são fundamentais, mas a atitude, a paixão, gostarem do que fazem, a entrega, eu sentir que eles também vestem a camisola, são cruciais. Espírito positivo, optimismo, capacidade de iniciativa! Há uma coisa que digo sempre quando as pessoas chegam: “o teu lugar aqui és tu que o fazes. Depende da tua iniciativa, da tua pró-atividade, de te tornares imprescindível.”

Lembro-me que o meu primeiro diretor-geral na Publicis me chamou várias vezes para me dizer: “Parabéns, foi atirada aos cães e conseguiu resolver”. Porque na altura eram 120 pessoas e também não havia tempo para me apaparicarem. Claro que havia a formação, mas tinha que se ter esta iniciativa, tinha que se ter a pró-atividade.

Quero apostar mais na área da responsabilidade social e sentir que faço a diferença nas mensagens que passo.

Quais os momentos mais marcantes do seu percurso?
A BMS.  Apesar de ter aprendido muito nos outros projetos onde me envolvi e “vesti a camisola”. A BMS tem sido a minha verdadeira escola profissional e o que me faz crescer muito. Durante estes quase 12 anos tenho tido os maiores desafios profissionais, quer na formação e motivação das equipas, quer para encontrar as soluções mais criativas nos mais diversos desafios que nos são lançados.

 

A sua empresa faz parte da EURACSIS, rede constituída por organizadores de eventos e agências de comunicação que trabalham com a Comissão Europeia, o que lhe tem permitido desenvolver os mais variados tipos de projetos, em Portugal e noutros países europeus. Um dos grandes desafios foi apoiar, no ano passado, a representação da Comissão Europeia no Mega Pic Nic, evento que traz literalmente o campo para o centro de Lisboa, atraindo mais de 700 mil visitantes todos os anos. A BMS assegurou toda a parte logística, apoio técnico e staff do stand do organismo europeu, que oferece várias atividades de animação numa área com cerca de 300 m.
Quando pergunto qual o projeto de que mais se orgulha, Ana tem dificuldade em responder. “Foram tantos…”. Gosta da adrenalina de preparar um evento para 1500 pessoas, como uma festa de aniversário de uma empresa, e depois saborear o resultado. Mas o que a entusiasma cada vez mais são os projetos de responsabilidade social, em que se estreou com a açãoAprende com a Mãe Natureza”, da Pierre Fabre. “Foi o abrir de portas para esta área em que me revejo mais, porque sinto que estou a mudar alguma coisa na vida das pessoas e a tocá-las de maneira diferente”, justifica. O mesmo aconteceu com um outro mais recente, “Escolhe Viver, Não Pises o Risco” que realizou nas escolas da Amadora, com Laurinda Alves e Johnson Semedo. O objetivo era prevenir comportamentos de risco entre os jovens dos 7.º, 8.º e 9.º ano, e correu tão bem que as escolas receberam cartas de mães a dar conta das mudanças que o projeto conseguiu na vida dos filhos. “Isto é muito gratificante”, diz com um brilho nos olhos.

 

Qual o projeto que adoraria fazer?
Tenho um trabalho muito gratificante e enriquecedor e embora goste de todas as áreas do nosso negócio, gostaria muito de desenvolver mais projetos na área da responsabilidade social e transformar mais a sociedade. Quero sentir que faço a diferença no dia-a-dia e nas mensagens que passo. Isso para mim é o que faz sentido.

 

CONSELHO A JOVEM LICENCIADA

É muito importante gostar do que se faz, independentemente do curso que se tire. Pode tirar um curso para ficar com uma base mais sólida, e escolher outra área para trabalhar. Nunca tive uma paixão pelo meu curso, mas foi uma opção consciente. Além disso, é preciso ter iniciativa e não ficar à espera que as oportunidades aconteçam. Há que ser persistente e dar o seu melhor. E nunca deixar que os contratempos destruam a confiança e nos impeçam de realizar os nossos sonhos.

 

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