Admiradora confessa dos conterrâneos Manuel Sobrinho Simões e José Carlos Noronha, que a inspiram desde muito cedo para a Medicina, Rita Fontes de Oliveira foi admitida na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa com média de 19 valores. Monitora convidada de Anatomia, ainda aluna, trava conhecimento ao longo do seu percurso com cirurgiões de renome e no final do 6.º ano faz exame de acesso à especialidade médica.
Filha única, cresceu entre Arouca e Castelo de Paiva numa família onde os laços são muito fortes. Um facto que a leva de volta ao norte e ao Centro Hospitalar de S. João. Aqui, ganha o gosto pela consulta médica e opta pela especialidade que lhe deixa mais tempo para a família, para comunicar, para a comunidade: Medicina Geral e Familiar. Numa ocasisão, decidiu abrandar e estudar Design de Moda, mas a Medicina está no seu ADN e regressou para o Hospital de S. João.
Em 2014 iniciou a especialização na USF São João do Porto e na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto assumiu o cargo de assistente convidada de Medicina Preventiva. Na mesma altura, decidiu estudar Gestão e a pós-graduação na Porto Business School abriu-lhe os horizontes para o Centro de Inovação Médica, que é a materialização da tese final. Desenhou ao pormenor o Centro de Inovação Médica, que dispõe de uma equipa que oferece planos personalizados para se viver mais e melhor, e que é acompanhada por um corpo de consultores de figuras notáveis, onde se destaca um dos inspiradores desta empreendedora de 34 anos.
6h45
A primeira coisa que faço depois de acordar é olhar para o telemóvel, ver os e-mails e responder às mensagens que chegaram via WhatsApp. É um hábito que tenho desde sempre e que já me deu o petit nom de “Santa Rita” junto dos meus amigos. “A Rita ajuda e resolve já!”, dizem. Depois, levanto-me, tomo café, e sigo para o ginásio ou vou correr no paredão.
8h15
De regresso a casa oiço as notícias, respondo às solicitações pendentes, faço a triagem da agenda para o dia e tomo o pequeno-almoço. Preparo-me e vou para o Centro de Inovação Médica, que fica na Av. Fernão de Magalhães. Posso dizer que o meu dia começa aqui, que as minhas metas são traçadas aqui, mas que só às 20h00 consigo saber como cheguei a esses mesmos objetivos. O compromisso com os utentes é muito forte e próximo, as necessidades são dinâmicas, pelo que a agenda também.
10H00
Chego ao Centro de Inovação Médica, onde ajusto a agenda para o dia com a Mariana.
10H20
Reúno com a Cristina e com colegas das várias especialidades para percebermos onde e como podemos melhorar o nosso trajeto enquanto clínicos. Sempre numa lógica de aumentar a qualidade de vida das pessoas e a probabilidade de número de anos vividos, tendo por base uma medicina personalizada, precisa, preventiva e altamente diferenciada. Claro que para se prevenir temos de solucionar os problemas de saúde que cada indivíduo apresenta, por isso, antes de prevenir, temos de curar, ou retardar as histórias naturais das doenças. Os homens e as mulheres envelhecem de forma diferente, mesmo entre eles o seu padrão e ritmo variam. Além disso, têm histórias de vida diferentes e, por isso, os triggers ambientais, que têm impacto no envelhecimento, são distintos. A variabilidade de envelhecimento de cada organismo ao longo da vida tem várias dimensões (desde genética, nutrição, atividade física, à saúde mental), pelo que só contemplando várias disciplinas clínicas se encontram novas soluções no sentido de otimizar a saúde (e imagem) de quem nos procura, no menor tempo possível.
12H00
Vou para a copa, onde o almoço feito pela Rosa está na mesa. Até às 13H30 aproveito para despachar pendentes e responder a dúvidas dos utentes.
Reúno com o departamento de concierge de saúde para monitorizar as presenças e faltas dos utentes, assim como os exames pedidos.
14H00
Inicio as minhas consultas, tendo sempre presente que cada pessoa tem o seu ADN, o seu ritmo, o seu contexto familiar e procura uma única coisa: viver mais, melhor e com boa imagem. A OMS define a saúde como o bem-estar físico, mental e social e nós levamos isso à risca.
19H00
Nunca é mesmo à hora, mas por volta das 19H00 termino as consultas e revejo tudo o que fiz no dia.
A investigação clínica avança ao segundo e sabemos que a ciência só progride se tivermos as perguntas clínicas corretas, as métricas corretas, para obter as respostas corretas. E isso só é possível com quem está no terreno. A Medicina só pode evoluir com o feedback dos doentes e isso só no final do dia de consultas é possível ter. Por isso, estas reflexões são indispensáveis.
Temos os nossos protocolos construídos, mas somos muito dinâmicos e respondemos assertivamente à inovação. Damo-nos todos muito bem, reunimos diversas vezes, até porque as reuniões são divertidas e entusiasmantes. Estamos sempre a pensar a Medicina de forma diferente, procuramos sempre a mais recente evidência científica para melhorarmos os procedimentos, enquanto equipa com múltiplas valências. Só com equipas multidisciplinares se consegue ir mais longe. Ninguém sabe tudo sobre tudo.
Por exemplo, quando falamos/tratamos de saúde mental sabemos que temos de potenciar a capacidade da pessoa em tomar boas decisões para si própria, através da promoção do auto-conhecimento, mas não podemos estar reduzidos a isso, temos, também, de implementar estímulos através de um plano de nutrição e de atividade física, por forma a termos melhores resultados. Outro exemplo clássico é a obesidade. A abordagem passa por uma reeducação alimentar, flexível, e um plano desportivo exequível, adaptado ao seu dia a dia. É considerada, muitas vezes, a cirurgia metabólica. Quem não quer que se saiba que se fez a cirurgia pensamos neste procedimento só pelo umbigo — porta única. Este é um bom exemplo da resposta à inovação pelas equipas multidisciplinares.
20H00
É hora de tentar desligar e de fazer um esforço para não pensar em trabalho — só assim é possível ter outra perspetiva para além da Ciência. Por isso, regra geral, janto com amigos. Somos um grupo eclético, de diferentes áreas e que se apoia mutuamente.
Aproveito para estar com a minha querida mãe e o meu adorado pai. O meu primo Zé, o mais velho, é o irmão que nunca tive e muitas vezes é à hora do jantar que metemos a conversa em dia.
23H00
Em tese é hora de deitar, mas muitas vezes aproveito para começar a escrever e tirar notas. Acredito que aprendo com a vida e com cada pessoa. Costumo dizer que sou pessoa que gosta de pessoas, que sou médica por vocação, e que gosto de perceber a doença out of the box e ligá-la transversalmente às várias especialidades e ao contexto social que cada indivíduo vive.