A agenda de… Leonor Bettencourt Loureiro

A jovem realizadora divide a sua agenda entre a Antena 3, onde realiza diariamente conteúdos multimédia, e a atividade de freelancer, com campanhas para marcas e criadores de moda, videos para bandas nacionais e curtas-metragens de autor, algumas das quais premiadas. Um quotidiano atarefado, em que o trabalho árduo também tem de ceder espaço à busca por inspiração.

Para a realizadora Leonor Bettencourt Loureiro muitas horas de trabalho são passadas em pesquisa, pós-produção e montagem.

Nasceu no Porto, em 1993, mas foi em Lisboa que a formação na área artística começou a ganhar corpo, primeiro na Escola António Arroio, depois em Belas Artes. Em 2012, Leonor Bettencourt Loureiro terminou o curso de Realização de Cinema e Televisão na Restart, conhecimentos que veio a consolidar na Academia RTP 3.0, onde criou e realizou o programa #Hashtag, finalista da Academia exibido na RTP2 e na RTP Memória.

Atualmente trabalha na RDP/RTP, mais concretamente na Antena 3, onde é realizadora de conteúdos audiovisuais, mas os seus projetos criativos não se esgotam aí. Realiza vídeos de música para várias bandas nacionais como os GROGnation, Them Flying Monkeys ou Keep Razors Sharp, e também trabalha em moda: o seu filme, “GENES”, arrecadou duas nomeações e o prémio de melhor filme no Porto Fashion Film Festival; fez campanhas para jovens marcas nacionais com a Latitid (nomeadas em 2016 e 2107 para Melhor Filme de Marca e Melhor Fotografia, no mesmo festival), Hibu., M HKA ou Gardel by Moore. O cinema de autor é a grande paixão: “Tenho uma curta metragem quase quase a ser lançada para festivais, intitulada “Intra Inter Subjetivo”. Mal se acabe a pós-produção sonora, é ver para onde é que o filme vai viajar. Estou a entrar numa fase nova, vou começar a fazer mais publicidade.”

A jovem criativa multitasker, sempre à procura de novos desafios, fala-nos, na primeira pessoa, da sua laboriosa agenda em que o trabalho árduo anda a par e passo com a busca por inspiração e o mote carpe diem.

6h30

Se o despertador tocar a esta hora é porque tenho filmagens enquanto freelancer. Pode ser uma curta-metragem, videoclips, moda ou um cruzamento de vários géneros, mais autoral. Pode até ser o projeto mais maravilhoso de sempre, mas só consigo sentir entusiasmo a seguir ao meu ritual matinal: banho, galão, torradas, um copo de água gelada, kefir e o Bom Dia Portugal, da RTP. Now I can think…! Se for um dia normal de trabalho na Antena 3, tanto posso acordar pelas 7h, como pelas 9h, dependendo do tipo de trabalho que tenho programado.
No meio desta agenda tão variável, confesso que reservo algum tempo para escolher a roupa que vou vestir porque é uma das formas de auto-expressão mais imediatas no dia-a-dia.

10h00

A manhã pode já ir a meio ou estar apenas a começar. Pela minha lente podem já ter passado, por exemplo, os Linda Martini ou o Sean Riley, num dos vários formatos da Antena 3. Um deles é o “Ao Vivo na Antena3″, por onde semanalmente passam bandas que fazem mini concertos que podem ser consultados no canal de Youtube da rádio, ou em qualquer outro formato multi-plataforma. Mas pode também ser um dia de pesquisa, montagem e pós-produção.
Se o dia estiver a começar, provavelmente estou a beber um abatanado enquanto ouço novos lançamentos musicais, faço surf pela internet, respondo a clientes ou mando orçamentos.

12h30

Estou habituada a comer cedo, apesar de nem sempre ser possível por causa do trabalho, por isso costumo andar com snacks para nunca estar mais de 3 horas sem comer. Já num cenário idílico, sou o mais clichê possível e opto por comida oriental, especialmente sushi! Aproveito os almoços para fazer tarefas, reunir com clientes ou estar com amigos e família, uma vez que ter tempo livre nem sempre é fácil.

14h30

Esta é a fase do dia em que começo a entrar na zona e a criatividade e produtividade aumentam, especialmente num dia de escritório, com trabalho de montagem, pré ou pós-produção — num dia de filmagem preciso de estar na zona do início ao fim.

17h00

Sou uma pessoa da tarde, quiçá por ter nascido perto das 17h! Além de esta ser a melhor altura para trabalhar, também a melhor altura para me divertir… Adoro festas em formato matiné (que acontecem sobretudo ao domingo, como as da Ouro/Bravo, em espaços variados, e a Missa, no Rive Rouge)… e é essencial dançar para libertar o stresse! Penso muitas vezes em mudar-me para o norte da Europa por uma questão de mentalidade e horários, mas eles não têm o calor e as golden hours portuguesas…

19h00

Nas fases mais calmas (e raras), fecho o dia de trabalho por esta altura e vou ao ginásio. Caso esteja com bastante trabalho, mudo o “chip” de full-time na Antena 3 e passo para o freelancing, muitas vezes pela noite dentro. Mas é algo que faço com gosto porque me permite manter a minha voz ativa enquanto realizadora e, como se diz, o trabalho dá trabalho! Se pela rádio a produção é muita, como freelancer ela existe quase em igual quantidade porque sempre fui de me meter em muitos projetos.

Atualmente, começo a recolher o que andei a semear, o que na prática se traduz no acumular de dois trabalhos, muitas vezes num total de 16 horas por dia. Agora estou a terminar um videoclip da banda Basset Hounds, a editar uma colaboração com a Carina Caldeira (ainda em segredo) e estou a fazer a primeira campanha do designer de moda Archie Dickens, que foi filmada entre Londres e Lisboa.

Sempre tive muitos interesses, e felizmente tenho pais muito fora da caixa que me abriram imenso para a vida, viajando, conversando, aprendendo, o que me levou a ser uma especialista em coisa nenhuma e a saber muito sobre muita coisa. Soube desde cedo que era para a Arte que ía. O problema era escolher uma! Na hora H, percebi que tinha reunidas as condições para ingressar pelo mundo da realização porque era nos meus filmes caseiros que juntava todas as outras artes, fosse o cenário que tinha pintado ou a música que tinha criado. Hoje, a grande questão é ‘sou realizadora de quê?’, porque tenho feito trabalhos muito diferentes, apesar de já começar a perceber qual é a minha identidade e as minhas estéticas estarem sempre presentes.”

21h00

Se estiver em casa, depois de jantar gosto de ver algo que alimente a minha criatividade. Neste momento estou a ver “Atlanta”, uma série assinada por Donald Glover (aka Childish Gambino), provavelmente uma daquelas com que mais me identifiquei até hoje. Havendo tempo livre, uma semana que se preze tem de contemplar uma ida ao cinema ou a um concerto, o que normalmente acontece de segunda a quinta.
É muito importante absorver tudo, ter olho e estar sempre à procura de novos estímulos, sejam eles académicos ou empíricos, mas nada substitui o exercício que pode e deve ser ver cinema, séries — que ganham agora um papel de destaque como nunca tiveram antes — videoclips, campanhas… Não é à toa que muitos realizadores são drop outs [desistem antes de terminar a faculdade ou outro grau de ensino formal] que se dedicaram intensamente a estudar cinema, vendo-o! Tenho referências basilares e procuro pelo menos duas novas por mês. Diria que sem os grandes Franceses, Soviéticos e Americanos, que vim a descobrir depois, nada seria possível, mas foi pelas mãos de Tarantino e Robert Rodriguez ou Spike Jonze e Sofia Coppola que disse “wow, quero fazer isto!”.

23h00

As sextas e sábados têm noites mais longas. Demoro mais tempo a arranjar-me do que demoro de manhã… Podem começar com um jantar seguido de um copo, uma passagem pela Galeria Zé dos Bois, Damas ou Intendente para pôr as conversas em dia, mas é na pista do Lux ou numa festa de música electrónica que gasto ou renovo energia.

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