Nasci antes do 25 de abril de 1974, numa pequena aldeia do interior transmontano e por aqui fiquei, enfrentando as dificuldades que sente uma mulher, que decidiu ser engenheira mecânica e que representou o líder de bancada em várias atividades comemorativas da assembleia municipal. Representar! Liderar não é ainda muito comum apesar das quotas de género. Mas também é verdade que sem essas quotas talvez não tivesse feito parte das listas num lugar elegível.
Falar de carreira de uma mulher é, em primeiro lugar, falar da sua grande empresa que é a vida. Foi com essa preocupação que escrevi Eva entrega a costela a Adão e que fundei a associação Amar Eva, para apoiar mulheres no seu percurso, na sua luta contra as desigualdades que ainda persistem e, acima de tudo, na valorização do papel da mulher para a construção de uma sociedade mais humana, onde os direitos não sejam um privilégio, mas sim um dado adquirido.
O mentor ou mentora não é apenas alguém com quem temos de ter obrigatoriamente sessões semanais ou mensais. Muitas vezes conseguimos aprender com o nosso mentor pelos livros que escreve, ou pelas palestras que publica na internet ou que podemos assistir presencialmente.
Para além de inspirar pelo que é ou pelo que escreve e transmite, mais do que ajudar a mulher a colocar um foco e uma direção, ajuda-a a fazer um diagnóstico, não só das suas dificuldades e carências, mas também das suas qualidades e capacidades. Depois de se conhecer melhor, pode agir em cada situação, não por comparação, não pelo que os outros são capazes de fazer, mas, sim, utilizando as suas melhores características para resolver a situação em concreto.
Muitas mulheres dizem sentir falta de um livro de instruções para coisas básicas, que não são ensinadas na escola e que não se encontram na maioria dos manuais. Sou uma mentora que, à semelhança de outras mentoras, adquiri, quer pela experiência de vida pessoal e profissional, quer pela minha formação, instrumentos essenciais para me ajudar a mim e poder ajudar a outras mulheres.
Uma mentora é uma mulher que aprendeu de forma empírica ao longo da vida, com tentativa e erro. A sua experiência pode ser não só uma solução, como ainda poupar alguns dissabores que ela mesmo ultrapassou até chegar ao patamar pretendido. Uma mentora pode ajudar a olhar cada situação com um novo olhar, e conseguir demostrar que uma mulher pode ter uma carreira brilhante, ser mãe e ter um homem ao seu lado que a respeita e valoriza.
Quando falamos da carreira das mulheres, não podemos dissociar a vida profissional da multiplicidade de tarefas que desempenha, só por ser mulher. E não há nada de errado nisso! Com a ajuda de um mentor ou mentora, conseguimos manter o foco e a motivação ao longo do tempo, sem ter de abdicar de tempo para nós, para a família e para os amigos. Ter um mentor, uma mentora, ajuda-nos a fazer uma melhor gestão do tempo, o que se traduz também numa melhoria na saúde e no bem-estar, mesmo que dando prioridade ao trabalho.
Ajuda também a fazer uma melhor gestão das convicções e opiniões dos demais, já que é necessário dar respostas a um mundo em constante evolução. beneficiando da multiplicidade de conhecimento, saberes, práticas e pontos de vista que constituem a maior riqueza da humanidade, um mentor ou mentora oferece uma abordagem mais colaborativa e inclusiva. Através da sua experiência, ajuda a não ter medo de ser si própria, a saber dizer não, a colocar limites, a valorizar o teu trabalho e a receber o devido valor por ele, a gerir melhor as emoções e, acima de tudo, a potenciar as capacidades de liderança, permitindo, através da experiência do mentor, fazer a sua própria aprendizagem e torná-la no livro da sua vida.
Finalmente, para além de a ajudar na sua carreira, vai ainda conseguir que essa mulher seja um modelo positivo e fonte de inspiração para as gerações futuras.
Fernanda Ferreira é mentora Social e Familiar, autora do livro Eva entrega a costela a Adão e fundadora da associação Amar Eva.