Num evento promovido pela Tourism Society & KPMG acerca de mulheres nos setores das viagens, turismo e hotelaria, um orador mencionou que as mulheres sentiam falta de referências e que necessitavam de mentoring. Para preencher esta lacuna, um ano mais tarde, Gaby Marcon Clarke fez nascer a Shine People & Places, empresa de formação, coaching e mentoring, especializada nas áreas de viagens, turismo, hotelaria e lazer. Coach, mentora de gestão e formadora de mentores, Gaby Marcon Clarke conta como tudo começou em 2003: “No final da reunião, falei com a Alessandra [Alessandra Alonso, co-fundadora da Shine P&P] e disse-lhe que tínhamos de fazer algo. Um ano mais tarde, a Alessandra saiu da KPMG e fundámos a Shine People & Places, Ltd, lançámos o primeiro programa de mentoring e os prémios Shine Awards for Women in Travel, Tourism & Hospitality”.
Gaby Clarke, que é também membro associado da Oxford School of Coaching & Mentoring e membro da direção da Association for Business Mentors e certificada pelo CIPD (Chartered Institute of Personnel and Development), foi a oradora principal na apresentação da 2.ª edição do Programa de Mentoring para Empreendedoras da Women WinWin, uma comunidade online para mulheres empreendedoras, e partilhou as suas experiências no mundo do mentoring. À pergunta: “como faz a diferença com o mentoring? Responde: “Como faço o que gosto, ajudo as empresas a crescer e a ter sucesso”.
Coaching, mentoring e business mentoring
Gaby Clarke define mentoring como “uma parceria através da qual uma pessoa (mentor) partilha conhecimentos, competências, informação e perspetivas que ajudem outra pessoa (mentee) a aprender e a evoluir, ao mesmo tempo que ambas crescem a nível profissional e pessoal. Este conceito exprime um instinto básico que a maioria de nós partilha: o desejo de transmitir os seus conhecimentos para ajudar outros a desenvolverem-se e a aproveitarem todo o seu potencial”.
Confundir mentoring com coaching é frequente, mas os conceitos são distintos, apesar de os dois estarem cada vez mais a diluir-se. “A profissão ‘coach/mentor’ é cada vez mais reconhecida”, diz Gaby Clarke, acrescentando, contudo, que ainda subsistem algumas diferenças entre os dois conceitos: “O coaching está mais relacionado com desempenho e o mentoring tem a ver com desenvolvimento. O coaching tem como objetivo principal melhorar a performance, enquanto que o mentoring se destina a transferir conhecimento, desenvolver ativos humanos e, no final, assegurar um crescimento relevante e sustentável”.
O mentor mostra caminhos para melhorar o negócio, faz perguntas difíceis e motiva para alcançar níveis de desempenho mais elevados.
Por outro lado, mentoring e business mentoring são conceitos com uma base comum, mas desenvolvimentos diferentes. Segundo Gaby Clarke, o business mentoring consiste numa relação entre o(s) dono(s) de empresas e alguém com experiência de gestão que orienta um indivíduo, ou uma equipa, para a tomada de decisão, ou seja: apresenta caminhos para melhorar o negócio, faz perguntas difíceis e motiva para alcançar níveis de desempenho mais elevados; tudo dentro dos limites de uma relação de confiança. Como estar no topo é solitário, o business mentoring pode proporcionar um parceiro no processo e permitir a partilha de pontos de vista com alguém que realmente conhece os meandros. Mentoring é um conceito mais generalista, praticado em ambientes sociais, académicos e de trabalho, que evoluiu no sentido de se focar mais na aprendizagem”.
Quando o mentoring é necessário
A motivação para recorrer ao mentoring depende muito do contexto e das necessidades dos indivíduos e das empresas. “Se nos focarmos em business mentoring”, explica a especialista, “então é necessário numa start-up, em todas as fases de crescimento e sempre que as empresas necessitam de planeamento estratégico, ou de financiamento”. Os momentos para os quais os business mentors são mais chamados a atuar têm geralmente a ver com a conceção de planos de desenvolvimento e crescimento e com o apoio na sua implementação. Em suma, independentemente das necessidades específicas, o apoio de um business mentor vai “desde indicar a direção correta, até fazer soar sinais de alerta, passando por desafiar, por dar orientação e por partilhar ideias”, acrescenta Clarke.
Conselhos para mulheres
Apesar de existirem programas de mentoring específicos para mulheres, Gaby Clarke afirma que, em termos de motivação para solicitar o apoio de um business mentor, há poucas diferenças de género. “Todos os donos de empresas, ou executivos, sabem quando chegam a um beco sem saída e necessitam de auxílio… a diferença é que as mulheres tendem a vocalizar mais os pedidos de ajuda, enquanto que os homens tentam resolver os problemas mais por via dos seus contactos profissionais (contabilistas, solicitadores, gestores bancários, etc.). Porém, as coisas estão a mudar à medida que as diferenças entre coaching e mentoring se vão dissipando.
Gaby Clarke deixa dois conselhos. O primeiro, para mulheres de negócios: “Sejam quem muda o jogo… o mundo já está repleto de seguidores”. O segundo, para mulheres empreendedoras: “Verifiquem por que estão a fazer o que fazem. Compreender a motivação leva os empreendedores a inspirarem outros e, no limite, a reforçarem a confiança dos stakeholders.”
MENTORAS VS MENTORES
Com base na sua vasta experiência enquanto mentora e formadora de mentores, Gaby Clarke identificou as principais diferenças entre mentoras e mentores:
Mentoras Mentores
Criam maior empatia; Entram mais em conflito com os mentees;
Falam e ouvem; Sugerem soluções;
Dão exemplos reais; Apresentam perspetivas mais masculinas.