CUPRA Talks by Executiva: “Mudar de Vida”

Brites Matos, fundadora e CEO da Bricer, e Pedro Franca Pinto, administrador na Quinta do Craveiral, foram os convidados da CUPRA Talks by Executiva, para conversarem sobre os desafios que superaram para mudarem o rumo das suas vidas e carreiras.

Brites Matos, da Bricer, e Pedro Franca Pinto, do Craveiral.

A Executiva e a Cupra promoveram a primeira CUPRA Talks by Executiva deste ano sobre “Mudar de vida”. Uma plateia interessada e entusiasmada acorreu ao espaço CUPRA City Garage Lisboa para assistir a uma conversa inspiradora e intimista entre Brites Matos, fundadora e CEO da Bricer, e Pedro Franca Pinto, administrador na Quinta do Craveiral, conduzida por Isabel Canha, da Executiva.

Na abertura do evento, Teresa Lameiras, diretora de Comunicação e Marca da SIVA|PHS, deu as boas-vindas às participantes que se reuniram neste stand de automóveis, um espaço único, distintivo e acolhedor, há dois anos a fazer vibrar o coração de Lisboa. Congratulou-se pela história de irreverência e alegria desta marca desafiante e sofisticada, nascida há seis anos em Barcelona, e que conquistou o mercado português, com vendas que acompanham o seu crescimento. Desde que abriu portas, o CUPRA City Garage mostrou ser um espaço diferenciador, onde acontecem experiências exclusivas e únicas, como a de Realidade Virtual, totalmente imersiva, que permite fazer uma viagem ao universo virtual da marca, a decorrer até junho, mediante inscrição na página oficial.

“Muda de vida se tu não vives satisfeito/ Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar/ Muda de vida, não deves viver contrafeito/ Muda de vida se há vida em ti a latejar.” Os versos da canção de António Variações, casam na perfeição com os percursos de duas pessoas com muita vida a latejar, com uma paixão contagiante pelo que fazem e uma energia muito desinquieta, por estarem sempre a pensar em novos projetos. Nesta conversa, conduzida pela Executiva, vamos conhecer melhor Brites Matos, fundadora e CEO da Bricer, e Pedro Franca Pinto, advogado e administrador na Quinta do Craveiral, e os desafios que superaram para mudarem o rumo das suas vidas. 

 

“Sentia que precisava de novos desafios, queria o mundo”

Brites Matos tem três vidas. A primeira foi a concretização de um sonho de infância de querer ser cientista. Acreditando que o mais parecido para lá chegar era a Engenharia Física, formou-se na FCT NOVA, especializando-se em Biofísica. “A Física e o Einstein eram a minha vida”, conta. Do estágio no IPO, numa área pioneira no país, a braquiterapia, guarda as melhores memórias. A curiosidade e a vontade de aprender levaram-na a fazer um mestrado em Física Médica, a sua paixão, e daí até lecionar no ensino superior privado foi um salto. “Como na altura não havia muitas pessoas com a minha formação e especificidade de conhecimentos, fui convidada para dar aulas”, revela, confessando que seguia feliz nesta sua primeira vida.

Foi quando teve a oportunidade de avançar para um doutoramento, que deu o ‘pulo’ para a segunda vida. Redigir artigos científicos, sozinha num gabinete “foi como se me matassem.” Esse foi o gatilho para deixar para trás a carreira académica e o IPO, começar a procurar alternativas, porque “queria comunicar e interagir com pessoas”, e entrar na sua segunda vida. Decidiu, então, apostar fortemente em algo mais comercial, e entrou numa multinacional de venda de equipamentos médicos, na área das radiografias, onde evoluiu e chegou a key account manager, “tinha todas as contas dos hospitais importantes e estava muito feliz.”  Pelo caminho, nunca deixou de estudar, procurando “cursos que se coadunassem com a minha atividade”, ao fazer um MBA, seguido de um curso de Especialização em Administração Hospitalar.

Porém, sentia que precisava de novos desafios, “queria o mundo.Foi o apelo por fazer algo seu e a descoberta da veia comercial que a fez mudar de rumo e lançar-se por conta própria, tornando-se empresária na área da distribuição alimentar. A sua terceira vida. Decidiu que queria empreender sozinha, “pus de parte as sociedades”, porque, afirma “se eu cair, sou só eu que me vou levantar.”

 

“Quando soube que ia ser pai, a minha responsabilidade aumentou mais uma geração”

Pedro Franca Pinto define as suas várias vidas “como um percurso de desenvolvimento pessoal.” Aos 6 anos, queria ser agricultor, um sonho que teve de adiar para outra vida, porque “ir para Direito fazia parte do pacote da família tradicional portuguesa, que incluía ter casa, carro, filhos, uma profissão decente. O meu contexto de educação foi no sentido de ir para uma profissão dita tradicional.”

Durante mais de uma década, exerceu advocacia, tendo sido responsável pelo departamento jurídico de diversas empresas, o que lhe permitiu, o contacto com a realidade empresarial e o know how e resiliência para as vidas seguintes. Quando começou, em 2001, trabalhava 7 dias por semana, 16h por dia “era uma vida de fato e gravata, em escritório, a trabalhar sob pressão, e quase a servir de secretário de luxo aos clientes.” Estava longe do sonho de criança de ser agricultor e viver no campo. “Muitas vezes, nos almoços semanais com o meu pai, quando me queixava do trabalho que fazia, ele dizia-me: “Pedro, aguenta-te”. Foi isso que me fez continuar a ser advogado, durante algum tempo, e a não tentar seguir o que o meu coração mandava”, confessa.

O nascimento de um filho mudou-lhe completamente a vida. Tornou-se empreendedor. “Quando soube que ia ser pai, a minha responsabilidade aumentou mais uma geração. Fez-me pensar o que é que eu quero deixar de exemplo, de estilo de vida, de valores, de impacto na sociedade. O nascimento do Francisco e da Clara espoletou em mim o que é a minha natureza, o que eu sou, o que eu quero, o que eu gosto.” E salienta: “este tema de deixar o mundo melhor do que o encontramos está muito presente em tudo o que estou a fazer do ponto de vista empresarial.”

“Vamos fazer, vamos dar forma ao propósito”

Destemida e sem medo de arriscar, Brites Matos começou a sua aventura como empreendedora numa época de incertezas, em 2008. “O país estava a entrar numa crise económica, eu sabia contactar com os clientes, com as pessoas e, por isso, tinha de vender algo. E, fui ter aos produtos alimentares, porque apesar de ser uma época de crise as pessoas tinham de comer.” Muita pesquisa depois, descobriu o primeiro produto que comercializou: uma cerveja belga. O nome da empresa Bricer “vem de Bri de Brites e Cer de cerveja”, explica. Passar das películas radiográficas para cervejas, águas e sumos foi uma mudança desafiante, mas que não a impediu de seguir o caminho. Sem conhecer o mercado, teve de aprender toda a dinâmica e toda a logística. “Comecei a ajustar os produtos, a pedido dos clientes, importei sumos mais gourmet, e assim fui construindo o portfolio de produtos.” A sua empresa, Bricer, é hoje, uma referência na oferta de produtos alimentares diferenciados e inovadores.

A veia empreendedora de Pedro Franca Pinto estende-se a vários negócios, da hospitalidade, à gastronomia, passando pela agricultura, sendo todas estas atividades “um meio para atingir a visão de gerar território, através da economia circular e criar impacto positivo na região onde estamos inseridos.” Agora aos 45 anos, como diz “estou a brincar à agricultura.” Fala com orgulho do seu projeto de criação de raças de galinhas portuguesas autóctones, em vias de extinção, no Craveiral Farmhouse, o empreendimento de turismo rural que criou e de que é administrador, perto da Zambujeira do Mar, na costa litoral alentejana. “Temos uma parceria com o Instituto Superior de Agronomia para criar galinhas de raças puras e usamos os ovos no restaurante do Craveiral e nos projetos de gastronomia que temos em Lisboa: no Natural Crave, no Taste Experience, num restaurante espanhol na Xuventude de Galicia, no Goethe-Institut, e, naquele que vamos abrir no Centro de Arte Moderna, da Gulbenkian, e o Vieira Café, no Jardim das Amoreiras.”

O sonho de construir um mundo melhor paras as próximas gerações, está presente em todos os seus projetos e por isso “a marca que criei em 2012, a Belong, tem a ver com o ‘vamos fazer’, ‘vamos dar forma ao propósito.'”

E se bem o diz, melhor o faz. Além do Craveiral, tem vários projetos de sinergia, em curso na região da costa vicentina, em Melides e Odemira. Fazendo jus ao nome da empresa-mãe que agrega todas estas iniciativas, a Fábrica de Mentes Inquietas – FMI, que explica foi criada em plena Troika, sendo “um trocadilho para vermos o lado positivo das coisas nos momentos maus”, Pedro Franca Pinto explica que, mesmo durante a pandemia, nunca baixou os braços: “não despedimos ninguém no Craveiral, estivemos abertos e distribuímos pizzas na região.”

Não tem dúvidas de que a criatividade é importante para superar momentos mais desafiantes. “Como na época baixa, não temos clientes no Craveiral, levamos os produtos da nossa produção agrícola, do pomar e da horta, para pontos de venda e para os nossos projetos de gastronomia em Lisboa.”

“As empresas vão abaixo quando alguém desiste delas”

Nada nos prepara para uma mudança de vida, e a mudança assusta, mas para Brites “assusta menos quanta mais convicção temos nessa mudança.” Conta que quando decidiu iniciar o negócio teve medo, e que sempre que toma uma decisão, “mesmo que seja para me atirar para o abismo”, tem de estar segura, “desde que esteja convicta eu vou, e aí sou destemida.” Recorda que quando mudou de vidas, e se tornou empreendedora, “percebi que o meu caminho é este, é sempre em frente sem olhar para trás.” Apesar de ter tido momentos desafiantes desde o primeiro dia até e de ter pensado “onde é que me vim meter”, não se arrepende nada.

Mesmo nos momentos mais difíceis da sua vida de empreendedor, Pedro Franca Pinto encontrou sempre força e resiliência para prosseguir caminho. E apesar de detestar a expressão, lutou contra tudo e contra todos. Por um lado, a família e os amigos, que se opunham à ideia de desistir de uma vida confortável “a ganhar bem como advogado”, para se aventurar na compra de um terreno “feio, diziam uns”, a 12km da Zambujeira do Mar “que nem sequer estava perto do mar, criticavam outros.” Por outro lado, o financiamento que teimava em não ver a luz do dia: “foram três chumbos de candidaturas a incentivos comunitários, só à quarta tentativa é que foi aprovado.”

Mas o momento mais desafiante de todos, conta, foi o acidente mortal que aconteceu durante a construção do Craveiral. Além da investigação policial, da ACT, sobre o eventual incumprimento das normas de segurança, “nessa altura os bancos cortaram as linhas de financiamento, já aprovadas. Durante cerca de 5 meses ficou tudo parado.”

Confessa que foi o facto de querer passar este exemplo aos filhos que lhe deu “a resiliência e a energia para continuar.” E acrescenta: “quem tem um horizonte de projeto a 30 anos, não é por um ano de dificuldades que vai por tudo em causa. Poderia até ser outra pessoa a continuá-lo que não eu, porque a ideia e o impacto que quis criar estavam lá.” Reconhece que seria frustrante, mas “sou advogado de insolvências e tenho sempre presente essa possibilidade, mas não acredito que vá acontecer.”

A pandemia foi o momento mais desafiante na vida de empreendedora de Brites Matos. De um dia para o outro, todos os seus clientes fecharam portas, quando tinha acabado de entregar toda a sua campanha de Páscoa, e as encomendas iriam parar. Naquele momento, tomou a decisão de não encerrar, trabalhando incessantemente, dia e noite à procura de um produto. “E, bingo, encontrei-o: um produto barato, acessível sem restrição de quantidade. À 3h da madrugada, encontrei o fornecedor, e negociei a vinda dos camiões de transporte carregados de álcool-gel.” Nesse ano, não houve entregas de amêndoas da Páscoa, nem compotas. “Adaptei-me, e a partir dai, reforcei todo o meu portfolio não alimentar. As empresas vão abaixo quando alguém desiste delas. Eu jamais desisti da Bricer.”

 

“Se vamos pensar que vai tudo correr bem, não vamos empreender nunca”

Sendo muito inquieta, por natureza, Bricer Matos deu mais um novo passo no seu negócio. “Desde o final do ano passado, abrimos o portfolio um pouco mais, fora do alimentar e fora do alto segmento e fomos para o mass market.” Estando agora numa fase de diversificação do negócio, em setembro passado a Bricer lançou uma insígnia-teste de retalho, “uma loja pequena com um conceito de diferenciação, que encaixa nos nossos produtos premium. Será a primeira de muitas.” Espera concretizar em breve outro projeto “uma insígnia na área da restauração”, sendo a internacionalização o seu objetivo maior “é também o mais difícil, mas hei-de lá chegar.” E o primeiro passo para o conseguir já foi dado: “abri a semana passada, uma unidade de trade, para desenvolver um negócio já a uma escala diferente. Haja imaginação para fazer mais”, destaca.

O balanço que fazem desta aposta arriscada é claramente positivo para ambos. Não podendo dizer que é tudo um mar de rosas, que não é, “era esta a vida que eu queria, que eu idealizei, que eu segui”, afirma Brites Matos. “Se vamos pensar que vai tudo correr bem, não vamos empreender nunca. O que ganhamos é a capacidade de quando cairmos, levantarmo-nos, isso é o mais importante.” Garante que há dias muitos duros “em que só ouvimos nãos”, mas o empreendedor automotiva-se, porque, como diz, “amanhã, o sol nasce outra vez.”

 

“Se alguém me pedir um conselho, será estimular a pessoa a descobrir-se a si própria, a ver o que quer fazer e no que acredita”

Se dúvidas restassem a Pedro Franca Pinto, bastava “olhar para os meus filhos, pelo que eles são, pelas experiências que vivem proporcionadas por este contacto com diferentes realidades”, para afirmar que tudo valeu a pena. Confessa que, em termos de balanços pessoais, a vida de empreendedor tem grandes desafios “e eu claramente não estava preparado para eles, é um crescimento que temos de fazer individualmente.” Acredita que se tornou numa pessoa mais serena e “mais solitária também, mas no sentido positivo, sou um solitário mais tranquilo.”  Apesar de querer abrandar, reconhece que tem dificuldade em dizer que não: “tenho de me comprometer em não ir a todas, a parar. Quero ver se consolido tudo o que tenho em projeto.”

Acalenta o sonho, “um pouco lamechas”, de voltar a formar família e de ter mais filhos: “quero recentrar-me mais em mim e não ser só o empreendedorismo e a parte profissional.” Conselhos não gosta de os dar a quem também sinta o apelo de abraçar uma nova etapa da vida. Explica que “as pessoas não dão conselhos a pensar no que é que é melhor para os outros, dão conselhos de acordo com o que querem para elas.” E esclarece: “se alguém me pedir um conselho, será estimular a pessoa a descobrir-se a si própria, a ver o que quer fazer e no que acredita. Não gosto de ser paternalista, não gosto que sejam comigo e não gosto de o ser com os outros.”

Brites Matos aprendeu desde cedo que na escolha de caminhos não há lugar para dúvidas. “Quando me davam dois caminhos, se estava indecisa não escolhia nenhum. Se eu vejo um caminho e não tenho dúvidas, vou. Mas se tenho dúvidas não vou para nenhum. Quem pensa em mudar, tem de olhar para dentro de si e não ter dúvida nenhuma.”

 

 

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