Cátia Sá Guerreiro concilia a sua atividade como professora e diretora de programas na AESE – Business School com uma intensa participação na área da cooperação internacional, com especial incidência em países africanos. É licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian de Lisboa, mestre em Saúde e Desenvolvimento com especialização em Gestão de Programas e Projetos pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da UNL e doutorada, pela mesma entidade, em Saúde Internacional, ramo de Políticas de Saúde.
Enquanto enfermeira exerceu funções na área de Pediatria em serviços públicos e depois privados. Em 2005 decidiu rumar ao continente africano, como enfermeira voluntária de uma ONG portuguesa. Desde aí o percurso profissional de Cátia Sá Guerreiro fez-se sempre em estreita ligação à cooperação internacional, tendo vindo a intervir em diversos países como Guiné-Bissau, São Tomé, Angola, República Democrática do Congo e Zimbabué, vivendo missões de desenvolvimento e também de emergência humanitária. Depois da passagem pelo Alto Comissariado da Saúde em 2009/2010, concretamente pela Coordenação Nacional para a Infeção VIH/SIDA, área da Cooperação, assumiu a direção geral de uma ONG portuguesa, não tendo desde então deixado o trabalho com o setor de economia social.
Atualmente colabora com o IHMT em projetos de Cooperação e Investigação em Saúde Internacional, integrando o grupo Global Health and Tropical Medicine para as áreas de Recursos Humanos, Avaliação em Saúde e Planeamento Estratégico.
A estas atividade, Cátia Sá Guerreiro acrescenta a sua ligação à AESE, desde 2014. É diretora do One Step Ahead – Liderança no Feminino, do Programa de Gestão de Organizações Sociais e do Programa, e é senior teaching fellow na área de Fator Humano na Organização , integrando também a equipa de coaching.
Nesta entrevista, Cátia Sá Guerreiro salienta os benefícios do One Step Ahead – Líderes no Feminino para mulheres que se queiram desenvolver como líderes.
Como surgiu a ideia do One Step Ahead – Líderes no Feminino?
Nos programas de alta direção que realizamos na AESE encontramos muitas mulheres que ocupam funções de gestão e liderança nas empresas. Verificamos que o número de mulheres nesta situação é aparentemente crescente. Em comum têm desafios de conciliação da sua vida profissional e pessoal e de desenvolver o potencial de liderança que trazem consigo, querendo fazê-lo verdadeiramente integradas na realidade do mundo atual. Há já algum tempo que temos uma relação estreita com a Executiva e acompanhamos o trabalho que desenvolve junto das mulheres executivas. Porque não juntarmo-nos e proporcionar um Programa de Gestão e Liderança no Feminino, respondendo a desafios que vivemos em comum? Assim nasceu o One Steap Ahed.
Há dias, num jantar de amigos, entre eles alguns alunos da AESE, falava deste programa. Em jeito de brincadeira foi-me colocada uma questão que me obrigou a refletir: “As mulheres precisam de um programa só para elas? Então porque não fazer um programa só no masculino?” Entre vários argumentos que trouxe à discussão, sublinho um que levanto aqui. Apesar do tanto que se tem caminhado em prol da igualdade de representatividade de género em cargos de topo, o certo é que não é igualmente percecionado um board entregue a uma mulher ou a um homem. Quando um homem ascende a um cargo de topo já provou que é capaz, por isso lá chegou. Quando isto se passa no feminino, começa o campo da prova – “deixa ver como será o desempenho neste novo cargo”. Nem pensamos nisto, mas o certo é que encarar um desafio de liderança no feminino e no masculino tem contornos diferentes, próprios. Desafios, nem piores nem melhores, os que são. E as mulheres têm ainda o grande desafio da conciliação com a vida familiar, vivido de forma muito intensa. Todos temos! De facto, hoje os homens tendem a fazer o mesmo que as mulheres, as responsabilidades são cada vez mais partilhadas, e ainda bem que assim é! Mas na prática, na vida corrente, sabemos que equilibrar não é dividir 50/50.
Não gosto da palavra igualdade sem mais nada. É perigosa quando pronunciada fora do contexto. Promovo a igualdade em dignidade e de direitos, aceitando a diversidade como uma riqueza a conservar e potenciar.
Assim, por um lado este programa nasce de uma necessidade que sentimos – dotar as mulheres executivas de um momento de paragem e de aposta em si mesmas para que possam dar passos em frente, com confiança, numa trajetória que se quer ascendente e à medida de cada uma. Por outro lado, nasce porque gostamos de estar umas com as outras, abordando temas comuns, aprofundando e analisando matérias que nos interessam. Porém nem sempre temos tempo para isso, por isso decidimos conjuntamente – a AESE e a Executiva – criar uma oportunidade para o fazer.
“Este programa destina-se a mulheres que não se contentam, mas que pautam a sua vida pela ousadia e criatividade”
A quem se destina esta formação?
A mulheres que decidam dar um passo em frente na sua vida profissional e pessoal! Sim, pessoal também. Somos um todo, mais do que a soma das partes. Se dermos um passo em frente na nossa carreira, se isso nos realizar, nos deixar felizes e motivadas, isto refletir-se-á na vida pessoal. E neste programa queremos promover que este passo em frente se dê numa perspetiva harmónica entre todos os papéis que desempenhamos.
O One Steap Ahead destina-se a mulheres que queiram trabalhar o seu potencial de liderança numa perspetiva de improvement, com efeitos na sua vida pessoal e profissional e também nas organizações de onde provêm.
Nesta linha, o programa destina-se a mulheres que não se contentam, mas que pautam a sua vida pela ousadia e criatividade, aplicadas sobretudo em momentos críticos. Tem ainda o foco nas mulheres que queiram compreender o mundo em que vivemos, os desafios do tempo presente, tanto a um nível macro como no detalhe, por exemplo, dos novos modelos de trabalho e novos desafios de liderança quotidiana. Dessa reflexão sobre o mundo atual, ambicionamos que possa emergir um business mindset com uma perspetiva abrangente sobre a tecnologia e as macrotendências mundiais.
O que podem as participantes esperar desta formação?
Ao embarcar nesta aventura de guardar horas para estudar e outras para participar em aulas, cada participante poderá ficar certa de que terá ocasião de explorar o seu potencial como líder e a sua visão de futuro, o que certamente impactará o seu desempenho na empresa ou organização onde trabalha e no quotidiano da sua existência.
As participantes deverão esperar ser colocadas diante de questões de liderança nos mais variados âmbitos da gestão e do processo de tomada de decisão, as quais deverão ser refletidas e discutidas.
Algo não menos impactante que podem esperar deste programa é conhecer e ouvir executivas que, já tendo dado passos em frente e ocupando cargos e funções de alta direção, são hoje inspiradoras para quem as ouve. Nomes conhecidos, histórias de vida, relatos de desafios profissionais encarados com coragem, resultados de sucesso – haverá espaço para estes enquadramentos no percurso académico que faremos.
Em suma, esperem um tempo que envolverá trabalho, reflexão, debate e discussão, tudo numa perspetiva de promover o potencial de cada uma em prol não apenas do seu desenvolvimento pessoal, mas também com impacto nas organizações e na sociedade.
O programa é online ou presencial e quanto tempo dura?
O programa tem um formato híbrido. Em cenário presencial as aulas decorrem ao longo de todo o dia e em cenário virtual, no período da manhã, das 9h às 13h30.
Os dias presenciais permitem a incomparável experiência das aulas presenciais e do contacto próximo umas com as outras, com professores e convidados. Os dias em formato remoto permitem um ajuste com a vida que não pára, com os desafios pessoais e profissionais quotidianos que não se interrompem porque decidimos apostar numa formação. Serão sete semanas muito intensas!
Qual a mais-valia deste programa em relação a outros programas de liderança?
Penso que a grande mais valia é ser um programa muito completo, vivido em apenas sete semanas. Este programa permite olhar os desafios da liderança e da gestão e ao mesmo tempo refletir sobre si mesma. Permite olhar para o mundo atual, refletir sobre os cenários de trabalho em que vivemos, e ao mesmo tempo focar a reflexão no domínio próprio, aspirando ao desenvolvimento pessoal com impacto na vida e não apenas no trabalho.
Importa sublinhar que, a par com o programa académico, existe um programa de mentoring de que cada participante beneficiará. Ao mesmo tempo que trabalhamos em sala de aula as matérias de reflexão e estudo, cada participante fará um percurso de mentoria que lhe permitirá trazer para o concreto da sua vida aquilo que vamos abordando, a par com a reflexão sobre si própria. Todo este processo se faz com os olhos postos no futuro, no tal passo em frente que queremos dar. Estou certa de que este é um aspeto diferenciador no nosso programa.
Outra mais valia é podermos abordar alguns temas, como a ética e a sustentabilidade, integrados nas perspetivas atuais de liderança e gestão. Esta abordagem é particularmente impactante por trazer à sala de aula (presencial ou virtual) outras mulheres que enriquecem a nossa reflexão partilhando da sua experiência.
“O impacto do OSA não é apenas na participante, mas em todos os que com ela se relacionem”
O que tem sido mais valorizado pelas participantes das edições anteriores?
Justamente esta oportunidade de participar num programa académico, com possibilidade de ser alvo de um programa de mentoring tem sido um dos aspetos mais valorizados.
Também a diversidade de temas abordados, a qualidade das aulas e das sessões com convidados são referidos como pontos fortes.
Há ainda outro aspeto de referência sublinhado pelas mulheres que têm participado no programa, não menos impactante que os anteriores: a possibilidade de ampliar a rede de contactos e relações com outras executivas, abrindo tantas vezes portas a desafios conjuntos.
Que outros benefícios podem as participantes obter desta formação além do alargamento de conhecimento, propriamente dito?
Certamente, o entrar na comunidade AESE é um benefício. Os antigos alunos ficam naturalmente ligados à AESE e podem continuar a participar em iniciativas de formação e debate que surgem integradas no nosso calendário anual. As portas ficam abertas para outros programas mais específicos e também para fóruns de debate, como por exemplo o Woman Leaders’ Forum que decorre periodicamente e permite reunir mulheres dos mais variados quadrantes num almoço-conferência sempre agradável e inspirador.
O que diria a uma mulher que esteja indecisa em apostar na sua formação?
Diria para se juntar a nós.
Para se juntar a nós, pensando nela mesma. Tantas vezes pensamos primeiro nos outros, sendo os outros um campo tão variado. E isso é bom! É tantas vezes nobre até. Porém, há alturas em que necessitamos de parar e apostar em nós mesmas. Essa paragem, essa aposta não é uma atitude egoísta. É um investimento. E como em todos os investimentos, o impacto não é apenas para o próprio, mas para todos os que com ele se relacionam.
Diria para se juntar a nós, para ter a ousadia de o fazer e para vir, trazendo-se apenas a si mesma. O resto faremos juntas. Naturalmente, e com muito gosto enquanto diretora de programa, fico à disposição para discutirmos e aprofundarmos decisões!
A próxima edição deste programa começa a 2 de maio. Saiba mais sobre o OSA aqui e aqui.
Texto atualizado em 5 de março 2023