Carla Rebelo: “Líder, conhece-te a ti mesma”

A diretora-geral da Adecco Portugal partiu da sua experiência pessoal para falar da auto-observação como ferramenta essencial no aperfeiçoamento das capacidades de liderança. Todos saem a ganhar: o líder, as pessoas e as empresas, defendeu Carla Rebelo na sua talk "O auto-conhecimento na liderança", na 6.ª Grande Conferência Liderança Feminina, promovida pela Executiva.

Carla Rebelo, da Adecco, falou sobre O auto-conhecimento na liderança.

Com uma carreira diversificada em experiências de trabalho internacionais e marcada por um início muito precoce e auspicioso — aos 16 anos dava os primeiros passos num escritório de contabilidade e três anos mais tarde, enquanto concluía o primeiro ano da faculdade, já era chefe de contabilidade na Nestlé Waters — Carla Rebelo, diretora-geral da Adecco em Portugal, falou da importância do auto-conhecimento na liderança, usando as suas experiências pessoais. “Passei os primeiros 40 anos da minha vida à espera do manual de instruções. Enquanto esperava, creio que as minhas características pessoais mais salientes, como foco, determinação e persistência me foram fazendo avançar na carreira. Nunca planeei ser líder, do que eu gostava era de ver as coisas feitas. O que me deu oportunidade de ir progredindo na carreira foi planear, executar e controlar.”

A expatriação em contexto de carreira trouxe importantes experiências com os primeiros grandes desafios à natureza da sua personalidade. Primeiro em 2007, quando aceitou o desafio de se mudar para a Holanda ao serviço da Randstad, onde assumiu o cargo de senior group controller. Aí, diz, “as pessoas viam-me quase como extraterrestre porque tinha o hábito de utilizar as emoções na comunicação. E quem conhece os holandeses sabe que a racionalidade é quase uma religião. Sentia-me desajustada e como pessoa exigente que sou, isso trouxe-me a necessidade de me superar.”

Já durante a sua mudança para o Brasil, onde foi diretora-geral da Kelly Services, assumindo depois o mesmo cargo na Hays, foi a sua necessidade de planear e controlar que foi posta à prova logo de início. “Nas vésperas da mudança, a secretária disse-me que as coisas estavam a correr bem porque, apesar de ainda não terem encontrado casa para mim, já tinham o computador e o carro. Bem, pensei, qualquer coisa e dormimos no carro na garagem do escritório. Foi nesses momentos que verdadeiramente entendi que ou me adaptava ou morria. Senti que o primeiro passo já estava dado porque já era capaz de rir da minha própria desgraça.”

“Quando faço auto-observação consigo também gerir melhor as minhas emoções e gerir melhor a minha disposição. Não é fácil mas treina-se e quando isso acontece conseguimos descodificar melhor o comportamento das pessoas e assim conduzir equipas de forma mais eficiente.”

Aos 41 anos, o stress acumulado ao longo da carreira trouxe-lhe o diagnóstico de uma doença auto-imune. Nessa altura sentiu que a sua grande missão era treinar o cérebro para controlar a sua mente. Para o conseguir, desenvolveu o gosto pela auto-observação. “Quando o faço consigo também gerir melhor as minhas emoções e gerir melhor a minha disposição. Não é fácil mas treina-se e quando isso acontece conseguimos descodificar melhor o comportamento das pessoas e assim conduzir equipas de forma mais eficiente.”

Esta é, por isso, uma ferramenta vital para desenhar uma jornada diferente e mais eficiente no sentido dos líderes ganharem um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, bem como melhorar os resultados das suas equipas e empresas, refletiu. “Não é à toa que as grandes empresas começam hoje a incluir nos seus programas de liderança outras teorias que contradizem aquilo que aprendemos nas escolas de gestão durante muitos anos. Naturalmente, é preciso capitalizar nos pontos fortes, sem forçosamente negar os pontos fracos. Hoje, os especialistas começam a defender que é preciso aceitá-los, os nossos e os dos outros. Por isso, a teoria da Acceptance and Commitment Therapy (ACP) começa agora a fazer parte dos programas de gestão e liderança. Por isso, antes de conseguir ajudar os outros, o líder tem que conseguir saber ajudar-se a si próprio.”

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