Joana Andrade Nunes, advogada e fundadora da marca de vestuário de luxo infantil Tierno, é também autora do blogue “Camomila Limão”, no qual partilha, desde 2014, a paixão pela arte de saber estar e receber. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal pelos Gourmand World Book Awards (2016) e o 3.º melhor do mundo pelos Gourmand World Book Awards 2017. Em junho de 2020, fundou o projeto “Etiqueta Moderna”. No dia 10 de julho, entre as 10h00 e as 12h00, promove o curso online “Etiqueta à mesa”.
“A Constança é uma executiva inteligente, com um curriculum invejável, muito competente e trabalhadora.
Contudo, a Constança tem uma postura incorreta; não gosta de “perder tempo” e delega a resposta aos convites que lhe são endereçados; olha para o relógio, insistentemente, para demonstrar ao cliente que “deixou o tempo passar”; para “rentabilizar o tempo”, responde aos e-mails enquanto os colaboradores lhe apresentam relatórios; tem dificuldade em ser empática e criar laços profissionais duradouros; à mesa, não tem paciência (nem habilidade) para “perder tempo” com small talk, pois está convicta de que “à mesa falamos de negócios”.
A Constança é magnífica. Como todas nós.
Contudo, a Constança pode ser ainda melhor, como todas nós.
Sabe qual é o elemento diferenciador que une as executivas de sucesso em todo o mundo? Escolhem, diariamente, pautar o seu comportamento de acordo com (boa) etiqueta integrando, em cada gesto, respeito, consideração e gentileza para com o outro. Apresentam-se como Mestres da arte de saber estar, comunicar e receber.
Se, por um lado, o ritmo alucinante do mundo corporativo global nos convida a aprimorar competências técnicas, por outro lado, é negligenciado o desenvolvimento das competências sociais. Ao longo do percurso, o parco desenvolvimento de competências sociais e a ausência de um quociente de inteligência emocional diferenciado apresentam-se como entrave para a construção de uma carreira de sucesso.
Um estudo conjunto das universidades de Harvard e Stanford concluiu que 85 % do sucesso profissional depende das nossas competências sociais; as competências técnicas têm, apenas, um impacto de 15 %. Se excelentes competências técnicas permitem a abertura das portas para o mercado de trabalho, é a arte de saber estar — em todos os lugares e em todas as ocasiões — comunicar e receber que garantirá o elemento diferenciador permitindo a construção de um caminho de sucesso. Clarence Thomas, juiz do Supremo Tribunal dos E.U.A., relembra-nos a importância nuclear de dominar esta Arte: “Good manners will open doors that the best education cannot.”
Falar de etiqueta profissional é, em suma, aprender a Arte de saber estar no contexto profissional espelhando, em cada gesto, a trilogia de sucesso: respeito, gentileza e consideração para com todos.
Falar de etiqueta profissional faz, contudo, disparar os alarmes de elitismo e formalismo. Pelo contrário, falar de interações pautadas por respeito, generosidade e consideração é aplaudido por todos nós. Saber estar em comunidade é, por isso, fundamental para que consigamos conquistar colaboradores diferenciados; motivar e conquistar o coração de secretárias; criar relações sólidas e duradouras com clientes e colaboradores. Saber estar, comunicar e receber permitir-nos-á chegar ao final do dia sabendo que fizemos a diferença na vida de todos aqueles que connosco se cruzam. O sucesso individual de cada executiva é, no fim do dia, também o sucesso da sua organização.
A incompreensão do papel basilar que a etiqueta tem na nossa vida — e a sua ausência do plano curricular hodierno — tem contribuído para que as novas gerações encontrem na interação profissional o seu “calcanhar de Aquiles”. As executivas de sucesso identificaram, com mestria e perspicácia, o elemento diferenciador entre pares. Procuraram aprimorar as suas competências sociais, desenvolver o quociente de inteligência emocional e dominar, com brilhantismo, o protocolo empresarial. Sabem que esta transformação lhes permitirá inspirar, motivar e conquistar os seus colaboradores trilhando um caminho de sucesso.
Falar de etiqueta profissional é, em suma, aprender a Arte de saber estar no contexto profissional espelhando, em cada gesto, a trilogia de sucesso: respeito, gentileza e consideração para com todos.
A imperatividade de pautar o nosso comportamento de acordo com a prática de boas maneiras era salientado, já no século XVIII pelo filósofo Edmund Burke: “manners are of more importance than laws”. No século XXI, são, também, as boas maneiras — juntamente com o conhecimento profundo do protocolo empresarial — que empoderam cada executiva transformando-a num líder de sucesso.
Os hábitos da executiva de sucesso
Uma executiva de sucesso domina a arte de saber estar e receber e, num gesto de mestria, constrói habilmente relações empáticas duradouras. Sabe que a perspectiva do outro importa e, como tal, é inseparável da trilogia de sucesso:
- pensa antes de agir: está ciente do impacto que o seu comportamento tem no outro; domina a impulsividade e é cautelosa com as palavras; respeita o outro e dá-lhe espaço para falar;
- faz escolhas que constroem e reforçam laços profissionais: escolhe não atender um telefonema à mesa demonstrando ao cliente o quão importante é; trata com respeito e consideração cada elemento da sua organização; dedica tempo a agradecer o apoio dos colaboradores e clientes; sabe adaptar, com elegância e graciosidade, o seu comportamento de acordo com o seu interlocutor;
- é sincera: constrói relações duradouras pautadas por confiança atuando com sinceridade e honestidade.
Construir uma imagem de sucesso é, assim, fundamental para alcançar uma carreira de sucesso.
Todas desejamos que invistam em nós, que confiem e que nos respeitem. Os parcos 7 segundos que estão ao nosso dispor para causar uma boa primeira impressão são determinantes para o início de uma longa caminhada de sucesso. A primeira impressão — positiva, neutra ou negativa — é fundamental e extremamente difícil de mudar. Causar uma boa primeira impressão é muito mais do que apresentar-se com o traje adequado, caminhar nuns Louboutin ou estar irrepreensivelmente maquilhada. É saber entrar e sair da sala; saber receber e ser recebida; adoptar a postura correta caminhando com salto alto ou salto raso; sentar e levantar com elegância; estabelecer contacto visual e adequar os movimentos e expressões ao discurso e imagem que pretende transmitir. Cada detalhe é revelador da nossa personalidade demonstrando segurança, tranquilidade e elegância ou exatamente o oposto.
Uma executiva de sucesso, confiante e segura, sabe estar em toda e qualquer ocasião; é uma anfitriã de mão cheia e uma convidada irrepreensível; consegue, habilmente, adequar o modus operandi de acordo com o contexto cultural e social do seu interlocutor. Sabe ser empática e relacionar-se com os outros transmitindo segurança e confiança no estabelecimento de relações profissionais prósperas. A executiva de sucesso é, como tal, um verdadeiro camaleão social.
É, também, uma comunicadora de sucesso. É empática e assertiva; clara e rigorosa; sabe cativar e conquistar o outro levando-o a abraçar os seus projetos; sabe dar sugestões e fazer perguntas; dá espaço ao outro para comunicar; sabe escutar; sabe inspirar; sabe liderar através do exemplo.
Uma executiva de sucesso sabe que o comando: “Imprima a documentação para a reunião” deixará a sua secretária desconfortável e desagradada com a falta de empatia. É gentil, cordial e empática com todos os colaboradores; sabe que o seu comportamento e as suas palavras farão a diferença na vida dos outros. É, por isso, conhecedora do poder da menção do nome do seu interlocutor e do quão impactante será a sua mensagem ao integrar a trilogia “mágica” que os pais lhe ensinaram durante a infância. “Isabel, pode imprimir a documentação para a reunião, por favor?” é, por isso, a sua escolha natural.
Por fim, uma executiva de sucesso sabe que à mesa se conquistam negócios. Como tal, aprimorou, também, a arte de saber estar à mesa sentindo-se confiante num jantar formal tal como navega, com graciosidade, num evento corporativo informal. Sabe como é dado início à refeição; como — e quando — se poderá ausentar da mesa com elegância e discrição; sabe brindar e discursar; sabe segurar o copo de vinho; sabe, habilmente, gerir pequenos acidentes à mesa e proporcionar uma ocasião memorável a todos os que partilham a sua mesa.
Está, como tal, segura e confiante do comportamento que todos esperam de si podendo concentrar-se no que verdadeiramente importa: o(s) seu(s) interlocutor(es). Saber estar à mesa é, também, crucial para estabelecer relações profissionais de sucesso. Como nos relembra Oscar Wilde, “The world was my oyster, but I used the wrong fork.”
Tal como a Constança, todas podemos “atualizar o nosso software” apresentando-nos perante o outro com uma versão melhorada, aprimorada pela arte de saber estar, comunicar e receber. As boas maneiras nunca serão démodé: são o elemento diferenciador da nossa imagem de sucesso.